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Cuiabá, 19 de Julho de 2025
19 de Julho de 2025

10 de Março de 2017, 07h:55 - A | A

OPINIÃO /

Mais temperos cuiabanos

Quem come reza duas vezes — o que faz de Cuiabá uma capital repleta de fiéis devotos

MARCELO DANTAS



Foi com alegria e dose de surpresa que observei a repercussão do meu último artigo, “Temperos cuiabanos”. Constatei, com prazer, que minha mãe não é minha única leitora; e percebi que o morador de Cuiabá não apenas gosta de comer e de sair para comer: Cuiabá gosta, sobretudo, de falar sobre comida. E isso é bom, reitero; é isso que faz crescer e aumentar o padrão da nossa cozinha, de restaurantes renomados a bodegas.

E é isso que me leva a novamente meter a colher no tema.

Não é à toa que estou acima do peso. Quando o Júlio Valmorbida abriu o Flor Negra, há um ano e qualquer coisa, na São Sebastião, eu só falava dele: do filé empanado, da barriga de porco, do tiramisù. Meus amigos não aguentavam mais o assunto. Virou uma angústia, um fascínio, intensificado a cada vez que a chef Ana Carolina Manhozo apresentava um novo prato. 

A propósito, a releitura do risoto de frutos do mar é impactante: arroz italiano Acquerello (o melhor; graúdo, envelhecido por no mínimo um ano); a lula mais suculenta que já provei; e lagostim no topo.

No frigir dos ovos, para o bem e felicidade dos amantes da panificação artesanal, o Marcelo de Oliveira abriu a BakeHouse44, na Filinto Müller, que trouxe para Cuiabá o croissant mais francês fora da França, nas palavras da Elma Rios, professora da Aliança Francesa de Cuiabá — que, assim como eu, adora pão.

Pão me arrebata. Pão é sacro; é místico.

E foi o Bruno Lodi, médico, que me recomendou a ótima Panetteria Tabacchi, no Jardim Petrópolis, colado àquele cartório azul de não-sei-qual ofício e ao Córrego do Barbado. Antes mesmo de lá entrar, dei de cara com ninguém menos que o talentoso mestre Pollaccia — e não hesitei em levar para casa uma fatia do premiado queijo Braz.

Lá dentro, o Eduardo e a Célia Tabacchi impressionam com talento absurdo, equilibrando delicadeza com seriedade — expressão da jornalista Stéfanie Medeiros, que escreveu, em 2013, matéria acerca da inauguração da padaria, a primeira artesanal da capital. A boutique prosperou: o local é acolhedor, os pães e as demais massas são ótimos, e os ingredientes são de primeira. Uma boa pedida é a coxinha assada de mandioca recheada com frango feito no leite de castanha.

Mas nem todo empreendimento resiste, pelos mais diversos motivos. O ano de 2016 foi de vacas magras para vários negócios do ramo gastronômico-cultural — assisti, com dor no coração, o Duca's 7, o Chorinho e o Tom Choppin baixarem suas portas, para sempre. Lembra que tempo feliz? Ai que saudade...

Outras cozinhas tradicionais, por sua vez, mantêm-se firmes. A Glenda Lima Verde, advogada, é fã da Lélis Peixaria, no Duque de Caxias, parada obrigatória para todo mundo que vem de fora. Mas foi no Okada que, há seis anos, quando cheguei de Goiânia, comi a cabeça do pacu — e não fui mais embora de Cuiabá. Aberta há mais de três décadas, a peixaria tem duas unidades (Morada da Serra e Miguel Sutil), e serve o melhor filé de pintado empanado, que só perde para o que meu avô Geraldo faz.

E quem tem preparado uma comida prazerosa para o dia a dia é a Naira Follmann, que lançou, há seis meses, o Naturalíssimo, serviço que oferece refeições saudáveis congeladas — o remédio para o deus-nos-acuda que é a minha rotina. Cuiabana, é cria de restaurante no Distrito.

Formou-se em gastronomia no SENAC, e elabora almoço e jantar de acordo com a necessidade nutricional do cliente, valendo-se de temperos naturais e alimentos funcionais, com produção em cozinha industrial acompanhada pela nutricionista Giselle Ruiz. Os pratos são variados, bons de comer; a entrega é feita em casa, e o preço é justo.

Comer é deslumbrar-se. Quem come reza duas vezes, na melhor interpretação de Santo Agostinho — o que faz de Cuiabá uma capital repleta de fiéis devotos.

Marcelo Dantas Ribeiro é bacharel em Direito pela UFMT e adora comer.

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