ONOFRE RIBEIRO
Venho acompanhando de perto o apetite do governo Pedro Taques com a política. Eleito senador em 2010 numa onda favorável, não precisou se expor dentro dos cânones da política. Eleito governador em 2014 também não precisou submeter-se à via crucis dos governadores pra chegar ao poder.
Porém, eleito tentou criar uma liturgia fora dos mesmos cânones. Deu início a uma construção que passava ao largo do fisiologismo político-partidário, alimentou-se da boa relação com a sociedade. O discurso de ética deu-lhe uma blindagem que durou dois anos.
É esse o tempo que dura uma blindagem. O mundo político é cheio de artimanhas. Finge submeter-se e monta estratégias e tocaias. Sempre foi assim. Aos olhos da sociedade o mundo político perdeu toda a credibilidade. Mas nos jogos de poder entre o Executivo e os demais poderes constituídos, muito jogo é jogado nas formas mais cínicas ou nas mais ardilosas.
O fato é que em 2016 o governador Pedro Taques enfrentou um muro de pedra na discussão administrativa envolvendo a RGA dos servidores públicos. O assunto criou desgaste junto à opinião pública e aos servidores, respingou na relação com os poderes. A crise financeira contribuiu também.
O resultado das eleições municipais em Cuiabá foi um golpe nesse contexto. O deputado Emanuel Pinheiro, do PMDB elegeu-se por conta das suas posições durante a crise da RGA. O deputado Wilson Santos, líder do governo na Assembléia Legislativa defendeu o governo e perdeu a eleição para prefeito. Respingou nele a RGA. Finda a eleição, o governador Pedro Taques percebeu o fim da trégua de boas relações com a sociedade, com os servidores públicos e com os poderes.
Caiu no mundo fazendo política. Mostra-se habilidoso e cercou-se de pessoas com boa visão e experiência políticas. Está tomando gosto rapidamente pelo contato com todas as liturgias que envolvem a política. Rapidamente está diluindo os desgastes criados em 2016 na RGA. Percebeu que para reeleger-se em 2018 terá que fazer política senão igual, pelo menos de modo parecido aos sistemas usados desde sempre.
Lançar obras, apressá-las, inaugurá-las e compreender esse inconsciente coletivo que se realiza quando vê uma obra e a relaciona ao governante. Fez muitas obras. Só não soube até então capitalizá-las em seu favor. Está aprendendo rapidamente. Ficou claro que a oposição que já se manifesta contra ele com muita força, dá sinais de que percebeu seu fortalecimento.
Oposição é coisa boa. Baliza de graça qualquer gestão. E a gestão fica mais desafiadora. Ainda restam dois anos. Muitas emoções.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso