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Cuiabá, 27 de Abril de 2024
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31 de Dezembro de 2018, 08h:31 - A | A

OPINIÃO / ROBERTO DE BARROS FREIRE

Fabrício Queiroz e Bolsonaro

Ele parece não ter como justificar, e menos ainda legitimar suas ações monetárias



Que história (estória?) mal contada desse assessor Queiroz, que se vangloriou de suas atividades comerciais (“eu faço dinheiro”)! Verossímil? Parece mais que Queiroz realmente tenha operado uma coleta de caixinha entre os assessores do deputado, a cobrança do mensalinho de funcionários de fachada e não está conseguindo legitimar as transações econômicas, afinal, ainda que verossímil que compre e venda carros, por que em dinheiro?

E por que utilizar o dinheiro dos outros? Um homem tão hábil por negócios não explicou por que, então, teve que pedir R$ 40 mil a Jair Bolsonaro. Onde está o registro do recebimento dessa quantia, em cheque ou transferência bancária, pois que se está devolvendo dinheiro emprestado, tem que ter entrado o dinheiro em sua conta.

Enfim, parece não ter como justificar, e menos ainda legitimar suas ações monetárias, suspeitas, por ser feita em dinheiro vivo, para esconder origem e fim do dinheiro. É de todo inútil dizer se o parlamentar sabia ou não sabia do esquema, pois esse parlamentar não sabe o que seus funcionários fazem, não há um memorando feito por eles, não há uma notação dos mesmos pelos deputados (pai e filho).

Nem Jair nem Flávio sabem dizer o que seus funcionários fazem ou fizeram, funcionários fazendo de tudo em sua vidas particulares, distantes de assembleias e gabinetes; ambos se recusam a dar informações sobre a atuação desses “contratados”. Desde a Val do Açaí, Bolsonaro está sempre fazendo o que os políticos de forma geral fazem, extorquindo até mesmo seus funcionários. Nada mais antigo e igual para alguém que diz ser diferente.

O fato é que Bolsonaro é encenação. O político só existe como tal, porque se apresenta como o homem comum, excluído pelo sistema. Dissemina a imagem de presidente austero e franco, J. B. lava e pendura roupa, assa carne no churrasco, faz flexões, passa as férias com os seus “pares”, como se fosse uma pessoa comum. Quando na verdade sempre desfrutou das verbas públicas para benefício pessoal, construindo um patrimônio com as benesses que obteve da sua atuação “pública”, mas pouco republicana.

O fato de não ter participado das grandes corrupções do Estado, não significa que não tenha praticado a corrupção das pequenas coisas, até mesmo o uso de informações privilegiadas ou de ligações íntimas.

Temos assim um governo de ofuscação, em vez de coalizão. A estratégia é simples: bater em coisas irrelevantes, ignorando o que realmente importa. Ataco a prova do Enem, mas nada de concreto apresento para sanar a dívida pública. Ataco a educação sexual, mas nada proponho para que a educação melhore. Libero o uso de armas, mas nada de diferente apresento para de fato diminuir a criminalidade.

E a sociedade continuará alvoroçada por declarações cada vez mais contundentes; só que irrelevantes. Não se sabe se terá emprego, se haverá segurança, se terá assistência médica, ou escolas mais razoáveis, como pagará o cartão de crédito todo dia 05 de cada mês, mas terá um suposto presidente “heroico” combatendo coisas insignificantes, mas sem saber o que de fato se deve fazer com a vida.

Preocupa o discurso anticorrupção como um discurso político, quando deveria ser uma luta moral, pois só há o bem quando todos desejam participar livre e voluntariamente para a melhoria humana, não quando se quer consertar nos demais os erros de todos. Se se quer consertar de fato esse mundo, comece consertando a si próprio, e já estará contribuindo em muito com a melhoria desse mundo.

Nem Flávio e nem Jair Bolsonaro falam desses funcionários, nenhum deles explica ou justifica a existência de qualquer um desses citados pela investigação do COAF, nenhum deles conseguem dizer o que cada um fazia no seu gabinete, que parece um lugar de encontro de amigos, parentes e copinchas que fazem de tudo, menos política ou projetos legislativos, afinal de contas, não trabalham no legislativo?

Por fim, há muitas coisas mal contadas na vida desse presidente. Sua ficha militar não é nenhum exemplo a ser seguido, sua atuação como deputado por quase trinta anos é algo que nem é lembrado, mesmo porque há pouco a ser lembrado, se é que não deve ser esquecido. Sua vida privada pregressa tem acusação de tentativa de assassinato e de roubo por sua ex-mulher.

Foi multado por estar pescando em reserva ambiental, foi acusado de ofensas e injúrias, e se disse favorável à tortura e morte dos “inimigos”.

Nosso presidente deve satisfações à sociedade, que não seja ofender ou denegrir o passado ou seus oponentes políticos. Deve esclarecer a necessidade de seus assessores, qual a função dos mesmos, como atuavam para facilitar o exercício de sua legislatura. Ao que parece, seus funcionários legislativo eram uma fonte de renda clandestina, onde extorquia parte de seus rendimentos para seu benefício próprio. E é claro, que apresente o cheque ou o registro da transferência bancária dos R$ 40.000,00 emprestado ao Sr. Fabrício Queiroz.

ROBERTO DE BARROS FREIRE é professor do Departamento de Filosofia da UFMT

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