Traficantes e milicianos no Rio de Janeiro e outras partes do país, sem nenhum constrangimento, estão dominando bairros ou regiões inteiras, dividindo territórios entre si, impondo suas próprias leis, humilhando a polícia e expulsando o poder oficial.
O intrigante é que nós os dominados apesar de sermos muito mais numerosos que eles e de termos poder financeiro infinitamente maior, estamos encurralados atrás de muros e grades e com o rabo entre as pernas aguardamos um socorro que nunca chega.
Se separarmos em dois times, de um lado a sociedade organizada (A) e de outro a bandidagem de todos os naipes (B), veremos uma tremenda desproporção. Do lado de cá, digamos assim, está o dinheiro, a tecnologia, a educação, o conhecimento, as instituições formais e principalmente a lei.
Em oposição, o time B, que despreza todos esses valores sociais, concentra-se somente no dinheiro da primeira turma, que rouba para armar-se e perpetuar a dominação.
As vítimas para se defenderem juntam-se em dois extremos: em uma ponta as que criam uma falsa segurança cercando seus espaços com muros ou grades e contratando guardas para protegê-las dos criminosos. Do outro lado estão as que buscam socorro aliando-se, mesmo de má vontade, aos bandidos que de alguma forma as amparam. No meio ficam as que ainda não puderam entrar no reduto murado, mas também se recusam a viver sob a tutela de marginais.
Para explicar essa estranha derrota alguns apontam a má qualidade dos políticos brasileiros, o que é verdade, mas que por si só não justifica tamanho fracasso.
Poderia ser a polícia? Também é pouco provável, posto que há uma luta constante entre bandidos e policiais com frequentes mortes de ambos os lados. E, ao que parece, odeiam-se mutuamente.
Há ainda os que culpam o judiciário porque solta os bandidos que a polícia prende; os que responsabilizam a falta de escolas pelo aumento do crime e os que acusam as Ongs que defendem os direitos humanos.
A nossa ineficiente segregação voluntária feita com muros, cercas eletrificadas, câmeras, seguranças armados e carros blindados é ilusória, pois nossa vida não se limita a esses lugares cercados.
Os bandidos estão ganhando a guerra, a despeito da desproporcionalidade das forças. Como tigres frouxos intimidados por gatos atrevidos, escondemo-nos dentro de nossas frágeis trincheiras, aguardando que o “Sétimo de Cavalaria” apareça de repente para nos resgatar. Os leitores jovens talvez não saibam que o “Sétimo” era o regimento que aparecia do nada para salvar os colonizadores americanos, quando estavam prestes a serem trucidados pelos índios, nos filmes de bang-bang.
Falhando o “Sétimo de Cavalaria” podemos ainda contar com os integrantes das gerações “Índigo” e “Cristal”, que segundo doutrinas espiritualistas já estão encarnados, vivendo entre nós. Os místicos garantem que esses seres iluminados implantarão uma “Nova Era” de paz e prosperidade para a humanidade.
Se estes não derem conta do recado, resta-nos chamar o Chapolin Colorado.
RENATO DE PAIVA PEREIRA é empresário e escritor