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Cuiabá, 15 de Fevereiro de 2025
15 de Fevereiro de 2025

09 de Junho de 2018, 07h:55 - A | A

OPINIÃO / EUSTÁQUIO RODRIGUES

A Ditadura Militar e a Ditadura Democrática Brasileira

Penso que temos medo da ditadura porque isso vai atrapalhar o ensino e tolher o senso crítico que as crianças recebem em nossas escolas.



Intervenção militar já! Essa é a frase da moda que tem sido demonizada na imprensa e redes sociais brasileiras. Basta alguém pedir por essa tal intervenção que logo é jogado na vala Hitler-luciferiana dos ímpios ignorantes que pedem pela volta da ditadura militar. Apesar da gritante diferença semântica – a qual indica que intervenção militar é diferente de ditadura militar, visto que o Rio de Janeiro está sob intervenção militar e não sob ditadura militar – em nenhum momento a pessoa que joga a defensora da intervenção na vala acima citada pergunta: a que tipo de intervenção você se refere? Onde você deseja que os militares intervenham? Com qual nível de intervenção você sonha?  Tais perguntas seriam pertinentes mas não tenho como objetivo discuti-las nesse artigo. Meu intento é mostrar que já vivemos uma ditadura. Uma ditadura disfarçada sob um manto ilusório de democracia.

Quando falamos de ditadura, a que, verdadeiramente, nos referimos? Àquele sistema que impede o livre ir e vir? Àquela liberdade que apenas 5% da nossa população possui? Liberdade de frequentar um restaurante, de viajar ao exterior, de comer um queijo canastra curado, de cursar uma boa faculdade, de ir a um parque público sem correr o risco de ser assaltado, estuprado ou assassinado? 95% da nossa população não possui essa liberdade. Nesse quesito, uma das poucas liberdades que possuem é a de poder acordar 4h ou 5h da manhã para pegar um coletivo precário, lotado (e caro) e trabalhar até à noite para receber um salário mínimo que não é suficiente para manter a si e a sua família.

Ou estamos falando da liberdade de escolher nossos representantes por meio de eleições democráticas onde o voto é OBRIGATÓRIO e temos como candidatos figuras do mesmo calibre que: Dick Vigarista, os irmãos Metralha, Thanos, Capitão Gancho, Judas, Al Capone, Mxyzptlk, Saddam, Osama Bin Laden, Stalin, Darkseid, etc, etc, etc. Sim, você é livre (obrigatoriamente livre) para votar em seus candidatos, mas os candidatos são esses aí, pode escolher. Se não quiser, terá que mudar de país. Talvez tememos a ditadura porque ela irá fechar nossas casas da democracia: câmaras, assembleias e congresso nacional, que são os orgulhos da república brasileira. Com certeza ficaríamos muito tristes se tais instituições fossem fechadas.

Será que estamos falando da liberdade de imprensa, que a ditadura é mestre em tolher? Essa liberdade de imprensa que permite que pessoas (como eu) escrevam artigos e emitam suas opiniões, mas que é largamente manipulada pelo grande poder econômico e estão muitas vezes mancomunadas com governantes para elegê-los ou para destruir seus opositores. Uma liberdade que está nas mãos de 5 grandes grupos midiáticos que formam a opinião das massas com pouca escolaridade e também daquelas massas com mestrado e doutorado. Sem falar que a imprensa é a maior marqueteira da contrapropaganda ditatorial.

Talvez tenhamos medo da ditadura militar porque prezamos por demais essa nossa democracia que não tortura ninguém. Tortura é algo que passa longe dos presídios democraticamente superlotados (de pretos e pobres), que “não” acontece nos interrogatórios das batidas policias nas longínquas periferias. Seria tortura você ficar numa cela com 40 pessoas numa cela projetada para 8? Seria tortura você ver seu bebê morrer em seus braços porque não há leito de UTI disponível?  Ou seria tortura você ver sua criança falecer porque o procedimento foi recusado pelo plano de saúde?

Talvez devamos nos orgulhar da nossa democracia porque possuímos um judiciário livre e isento. Um judiciário que muitas vezes leva 10 anos para julgar uma causa e acha normal oferecer auxílio moradia para privilegiados, enquanto temos um déficit de mais de 10 milhões de imóveis dignos.

Penso que temos medo da ditadura porque isso vai atrapalhar o ensino e tolher o senso crítico que as crianças recebem em nossas escolas. Crianças que, com 14 anos, não sabem fazer as operações básicas da matemática e quando chegam à universidade (quando chegam) mal sabem escrever dois parágrafos com coesão e coerência. Ou seja, atualmente o senso crítico já é zero e ainda é acompanhado de analfabetismo funcional.

Mas tudo vira fichinha quando falamos das nossas maravilhosas, democráticas e inteligentes leis brasileiras, onde “pessoas cumprem pena em liberdade”, temos um “glorioso Estatuto da Criança e Adolescente” (ecaaaa), corruptos ricos ilicitamente cumprem “penas alternativas” e nunca devolvem o que roubam, onde a infinidade de recursos produzem impunidade aos borbotões e que assassinos, traficantes, sequestradores, atropeladores bêbados e estupradores CONFESSOS têm o direito de aguardar o julgamento em liberdade.

Por que nos revoltamos tanto quando falamos de uma ditadura militar e estamos tão passivos diante dessa ditadura pseudodemocrática em que vivemos? De que ditadura estamos falando verdadeiramente? Como a ditadura democrática e a ditadura militar mexe e mexeria com sua vida, com seu cotidiano? Temos medo de perder o quê? Não deveríamos nos revoltar de forma igual? Ao invés de pedirmos intervenção militar, já está na hora de pedirmos uma intervenção mental para extirpar a mediocridade do pensamento e do comportamento do brasileiro e uma intervenção espiritual para curar as nossas almas.

Eustáquio Rodrigues Filho – Servidor Público e Escritor – Autor do livro “Um instante para sempre”.

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