FRANCISCO BORGES
DA REDAÇÃO
O delator do esquema que desviou R$ 9,4 milhões dos cofres públicos da Assembleia Legislativa apurado a partir da Operação Ventríloquo, advogado Julio Cesar Domingues Rodrigues, entregou uma gravação ao Grupo de Atuação Especializado no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) feita em no dia 6 de maio de 2014. O Gaeco divulgou a gravação, feita na reunião entre Júlio e o deputado estadual Romoaldo Júnior (PMDB), para comprovar as transações irregulares feitas sobre o pagamento de uma dívida da Assembleia junto ao banco HSBC.
No áudio é possível notar que o encontro seria para acertar uma divisão dos valores desviados dos cofres da Casa de Leis sendo 45% para o ex-presidente da Assembleia, ex-deputado José Riva, R$ 1 milhão para Romoaldo e mais 1% do montante para o chefe de gabinete do peemedebista, Francisvaldo Pacheco, conhecido como o “Dico”.
Na gravação ambos discutem valores. Confira:
Romoaldo: O senhor não está cumprindo o acordo. Não me importa o que o senhor tratou antes. Acertado é acertado.
Em sua resposta, Julio Cesar disse que nunca havia passado por aquilo antes e que tinha feito negócios desde que seu pai foi candidato em São Paulo. No entanto, Romoaldo reclamou da situação.
Romoaldo: "Primeiro que a gente fez... você não está cumprindo o acordo. Porque pra mim não foi orientado pra isso ou pra aquilo”.
Julio Cesar: “O senhor entende a minha situação? Não sou eu”.
Romoaldo: “E é eu?”
PONTO POLÊMICO
Julio Cesar: “Então não sou eu deputado, eu queria muito sabe assim... Queria ter te dado um milhão, um milhão e meio [...] Que cabo eleitoral traz para o senhor quatro pau e meio?”.
Romoaldo: “Você não tem que pensar assim, ta [...] Pra mim não, não é assim não, cara, aí é um colegiado que todo mundo”.
Julio Cesar: “Eu sei, eu sei disso, deputado”.
Romoaldo: “E isso não está em discussão, e nunca vai poder estar porque você está quebrando uma regra muito importante. Não importa para onde foi e para que foi, o combinado”.
Julio Cesar: “Para mim também não interessa para que é“.
Romoaldo: “Então não tem o que conversar, ta”.
Julio César disse que tinha R$ 306 mil para repassar e questionou como faria, momento em que Romoaldo se irritou com a informação.
Julio Cesar: “Eu tenho trezentos e seis mil para passar para vocês e preciso das contas para passar”.
Romoaldo: “Trezentos e. Trezentos e quanto?”
Julio Cesar: “Trezentos e seis mil. E eu preciso das contas para passar”.
Romoaldo: “Nunca mais faço negócio com você, ta, nunca mais faço negócio com você. Você vai procurar o Zé Riva e se acerta com ele [...] Palavra é palavra, Julio”.
Ao final da conversa, Romoaldo confirma que o advogado está "dispensado" assim que pagar a parte dele.
Romoaldo: "Faz de conta que não me conheceu e que nunca me viu".
Julio César: "Sim senhor".
Romoaldo: "Faz de conta que você nunca me viu [...] Vocês vão lá no Riva e acertam isso, eu fiz pra ajudar e tomei no c*. Daqui para frente vocês se acertem com Riva e me esquece".
"OPERAÇÃO VENTRÍLOQUO"
O MPE acusa Riva de chefiar um esquema que desviou o montante de R$ 9,4 milhões utilizados para quitar uma dívida do mesmo valor com o HSBC. Os débitos, que estavam em atraso, eram referentes ao seguro saúde dos servidores, porém, parte do valor foi supostamente desviado pelo grupo.
Segundo José Riva, vários membros da Mesa Diretora no exercício de 2014 participaram do esquema e autorizaram o pagamento de R$ 5 milhões ao banco, que cobrava débitos referentes a seguros de vida dos servidores da Casa de Leis. A ALMT pagou R$ 9,5 milhões, sendo que R$ 4,5 milhões seriam o desvio dividido entre os parlamentares. Os R$ 5 milhões que deveriam ir para o banco acabaram sendo desviados
Em seus depoimentos Riva afirmou que o esquema teria sido montado pelo deputado Romoaldo Júnior. Além dele, Riva também apontou como beneficiários dos desvios, os deputados Mauro Savi (PSB), Gilmar Fabris (PSD), Luciane Bezerra (PSB) e Guilherme Maluf (PSDB). Todos teriam recebido valores através de ‘laranjas’.
Antonio Barbosa 07/10/2016
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