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Cuiabá, 25 de Agosto de 2025
25 de Agosto de 2025

25 de Agosto de 2025, 08h:13 - A | A

GERAL / FRATURAS NO CRÂNIO

Médica que teve rosto desfigurado pelo namorado fala sobre ataque que sofreu no dia em que fez aniversário

Ela tentou fingir estar desmaiada: "A primeira coisa que eu pensei foi: eu preciso ficar quieta. Se ele fez tudo isso comigo achando que eu tava desmaiada – o que ele vai fazer se ele ver que eu tô acordada?"

DO FANTÁSTICO



Em julho de 2025, o fisiculturista Pedro Camilo Garcia Castro, de 24 anos, foi preso em Santos por agredir a então namorada, Samira Khouri, que sofreu fratura no crânio e múltiplas fraturas na face. Um mês após o ataque brutal, Samira decidiu falar.

Em entrevista exclusiva à repórter Ana Carolina Raimundi, a médica de 27 anos relembra o que viveu naquela noite e conta como reúne forças para seguir adiante.

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Samira não pode mais sorrir. O lado esquerdo do rosto está paralisado e ela perdeu 50% da visão do olho mais atingido. Para andar, precisa da ajuda da mãe.

Nas redes sociais, Pedro e Samira apareciam juntos em fotos e vídeos, aparentemente felizes.

“Durante as agressões, o Pedro quebrou todas as estruturas que seguram o meu globo ocular, além de vários ossos da minha face, principalmente do lado esquerdo”, relatou Samira. "E eu tive que colocar também placas de titânio onde houve fraturas na minha face. Esse lado esquerdo está com várias placas para estabilizar as fraturas."

“Tive o nariz quebrado. A maioria dos ossos do nariz”, completou.

Samira completou 27 anos no dia do ataque, 14 de julho. "Hoje, quando eu me olho, me vem a memória de tudo o que aconteceu."

Ela e Pedro moravam em Santos, litoral de São Paulo. No dia do crime, alugaram um apartamento no bairro de Moema, em São Paulo, para passar a noite na cidade e comemorar o aniversário dela. Nas redes sociais, ele publicou: “Feliz aniversário, meu amor, você merece tudo de bom que essa vida tem pra te proporcionar, eu te amo mais que tudo.”

Eles, então, decidiram ir a uma balada. "Chegando lá a gente viu que era uma balada gay. A gente entrou lá, fizemos uma amizade. Então ficamos eu e mais três meninos, era um casal e um amigo deles também era gay. Ficamos quase a balada inteira juntos."

Quando Pedro viu que Samira conversava com outros, ficou nervoso e agitado. "Começou a querer brigar. Os seguranças tiveram que tirá-lo da balada."

Samira voltou sozinha para o apartamento alugado, chegando lá por volta das 3h46. Pedro chegou logo depois, às 4h23. "Ele chegou muito nervoso, eu nunca tinha visto assim. Na hora, fiquei com medo. O Pedro me deu um soco, eu caí no chão e não lembro de mais nada", disse a médica.

Na queda, sofreu rachadura no crânio e perdeu os sentidos. Pedro continuou a agressão por cerca de seis minutos. “Quando acordei, ele ainda estava me batendo", afirmou.
Ela tentou fingir estar desmaiada: "A primeira coisa que eu pensei foi: eu preciso ficar quieta. Se ele fez tudo isso comigo achando que eu tava desmaiada – o que ele vai fazer se ele ver que eu tô acordada? Ele me deu mais uns 12 socos enquanto eu acordei", disse.

A sequência de socos continuou. "Quando ele me socava no rosto, sentia uma dor que eu não consigo nem falar pra você. É uma dor como se alguém estivesse me tirando a vida."

Após a agressão, Pedro pegou o celular de Samira e foi embora. Imagens de câmeras de segurança do prédio mostram Pedro saindo do apartamento às 4h29 segurando a mão direita, que ele quebrou devido à violência dos socos em Samira. Vizinhos que ouviram gritos tentaram interfonar, mas ela não conseguiu atender. A polícia foi chamada e encontrou Samira desfigurada.

"Então, você vê o rosto da moça… isso é uma coisa que tem que acabar, é gravíssimo. Ela está muito agredida, o rosto destruído", disse a delegada Débora Lázaro.

Samira relembrou: “Não é possível que alguém me deixou assim. Não é possível que essa sou eu.”

"Tive muita crise de choro ao ver minha filha naquele estado. Nunca pensei que fosse acontecer isso com ela", disse a mãe e advogada de Samira, Fabiana Mendes.

Pedro foi preso em flagrante, no carro de Samira, em Santos, e levado ao hospital. Ela foi internada na UTI, semi-inconsciente, com quadro delicado, fratura de crânio e múltiplas fraturas na face. “Fiquei 12 dias na UTI, depois fui para o quarto e comecei a lembrar, a ter memória.”

"Não é possível que alguém me deixou assim. Como alguém que dizia me amar quase me mata no meu aniversário? Isso não é amor", disse.
Na audiência de custódia, Pedro alegou uso de remédios controlados e anabolizantes, além de ter diagnóstico de bulimia e depressão.

"O meu braço tá doendo bastante. Eu fui na UPA ontem e a gente fez o raio-x. Ele tá bem fraturado. Tô sentido meu osso todo espatifado mesmo. Eu também tô sofrendo um pouco de ataques de ansiedade, sabe? Crise de pânico. Não sei se eu tô com pressão alta também, tô me sentindo muito mal", afirmou.
O juiz manteve a prisão, e a converteu preventiva. "O crime se revestiu de violência exacerbada, brutalidade incomum. O modus operandi denota covardia, descontrole emocional e periculosidade concreta por parte do custodiado. Um homem fisiculturista, de robusto porte físico", disse na audiência.

Pedro Camilo vai responder por tentativa de feminicídio. A defesa disse que lamenta as agressões sofridas por Samira Khouri e recorrerá ao Superior Tribunal de Justiça.

A advogada de Samira, Gabriela Mansur, afirmou: “Temos provas da materialidade dos fatos. E não ter feito nada para salvar pedindo ajuda demonstra inequivocamente que se trata de uma tentativa de feminicídio.”

Estudos feitos no Brasil e em vários lugares do mundo sobre violência contra a mulher cometida pelo parceiro mostram que a parte do corpo mais atingida nesse tipo de violência é o rosto – que primeiro carrega a identidade, que nos apresenta pro mundo, que demonstra as emoções, de onde sai a voz. Atingir o rosto de uma mulher seria uma tentativa de apagar tudo isso.
"Ele queria que eu ficasse deformada de alguma forma? Eu não sei, mas me faz pensar. Por que ele escolheu só o meu rosto?", disse Samira.

Gabriela Mansur complementou: “Ferir ou tentar destruir isso é querer deixar uma marca. Isso faz com que a mulher sofra todos os dias. Nós estamos diante de um crime hediondo e o nosso pedido enquanto mulheres é pela condenação pela tentativa de feminicídio contra Samira Khouri".

Hoje, olhando para o relacionamento de quase dois anos, Samira acredita que ignorou sinais.

"O Pedro nunca tinha sido agressivo comigo de me bater, mas ele é uma pessoa agressiva no sentido de: ele batia no carro, ele batia na parede, ele tinha um ciúme excessivo. Meu celular era dele. Ele tinha controle de todas as minhas conversas."
Pedro tinha a senha do celular e havia cadastrado o reconhecimento facial no celular de Samira.

A mãe complementou: "Pedro era muito possessivo. Muito ciumento. Muito machista. Ele falou que a mulher dele não trabalhava. E aí eu falei pra ele assim: 'Pois a minha filha trabalha. Ela fez seis anos de faculdade e se tornou uma médica.'"

Samira está afastada do trabalho e da pós-graduação, que terminaria em três meses, e ainda passará por outras cirurgias no rosto. Ela pretende cobrir as tatuagens que fez com o nome do ex-namorado: "Chega a ser irônico que eu tenho o nome de alguém que tentou me matar na minha pele."

"A sequela emocional vai ficar pra sempre comigo de tudo que passei. Quero que ele responda pelo que fez. Eu não quero que tenha chance de concretizar o que fez: me matar", concluiu.

 Veja vídeo:

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