DÉBORA SIQUEIRA
DO REPÓRTER MT
Antes conhecida pela alcunha de “Paranabala” devido aos assassinatos na década de 1970, o município de Paranatinga (377 km de Cuiabá) vive nos últimos cinco anos um momento de expansão da agricultura e, com ela, todo o “combo” para o processo de enriquecimento da cidade: mais empresas de insumos se instalando, comércio e serviços aquecidos e a geração de empregos diretos e indiretos.
De acordo com os dados do Instituto Mato-grossense de Economia Aplicada (Imea), nos últimos 10 anos, o município de Paranatinga foi o que mais cresceu em área da agricultura no Estado. De 2013 a 2023, houve a conversão de 230 mil hectares de áreas de pastagens em lavouras de soja e milho.
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Mato Grosso tem 15 milhões de hectares de áreas de pastagens com potencial para conversão em agricultura
O que acontece em Paranatinga pode ser visto em outros municípios de Mato Grosso, como Juara, Água Boa e São Félix do Araguaia. O que em comum? Todas são cidades que têm tradição na pecuária.
O que se vê nos últimos cinco anos é um novo ciclo de expansão da agricultura sem precisar abrir novas áreas e sem derrubar um pé de árvore. Agora, o caminho é a compra de fazendas ou arrendamentos de pastagens de pecuária extensiva e transformando-as em lavoura de soja e milho.
As projeções do Imea mostram que esse fenômeno deve crescer ainda mais até 2032. Enquanto nesta safra 2022/2023 são estimados 12 milhões de hectares plantados, nos próximos 9 anos a previsão é de que sejam utilizados 16,5 milhões de hectares para produção de 63,6 milhões de toneladas de grãos.
Assessoria/Famato

Superintendente do Imea, Cleiton Gauer
O superintendente do Imea, Cleiton Gauer, diz que Mato Grosso tem 15 milhões de hectares de áreas de pastagens com potencial para conversão em agricultura. Estas áreas estão localizadas, principalmente, na região Noroeste de Juara para cima, Norte da BR-163, acima de Sinop e Vale do Araguaia, na divisa com o Pará.
"O que estamos vendo nos últimos anos é o aumento da competitividade da agricultura frente à pecuária. De 2018 para cá foi mais intenso e com velocidade maior, mas o maior salto se deu no ano passado, com a conversão de 1 milhão de hectares de área convertida de pastagens em lavoura de um ano para outro.”
A questão da rentabilidade da agricultura frente à pecuária e o processo de agroindustrialização do Estado são os fatores que têm levado à expansão das lavouras em Mato Grosso.
A instalação de indústrias de etanol de milho estimulou a produção do cereal. Até 2010, este grão sofria variações a cada safra e passou a estabilizar mais com a demanda das agroindústrias. Com mais necessidade do produto, aumentou-se a produção de milho e também da soja pela demanda mundial. Para fazer frente à demanda, os produtores rurais e seus sucessores precisaram de mais áreas para plantar.
Novo momento de Paranatinga
A chefe de gabinete da Prefeitura de Paranatinga, Arlinda Barbosa de Arruda Viam, disse que nos últimos cinco anos a cidade teve um “boom” com aumento do fluxo de pessoas oriundas de outros estados e abertura de novas empresas, como lojas de máquinas agrícolas, fertilizantes e mais postos de trabalho.
Conforme os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), por dois anos consecutivos a cidade fechou com saldo positivo de empregos. Em 2021 foram contratados 2.975 trabalhadores e 2.626 foram desligados, saldo de 349 empregos a mais. Já em 2022 foram 4.688 admissões e 4.148 demissões, 540 novos postos de empregos gerados.
Prefeitura de Paranatinga

Paranatinga tem saídas para Nortão, Araguaia e Região Sul
“Nosso município tem 24.267 mil km² e potencial de 1 milhão de hectares de áreas já abertas para conversão para agricultura e está numa região estratégica por ter saída para o Nortão, Araguaia e a Região Sul. O asfaltamento da MT-130 e a MT-020, a chegada da ferrovia na região, temos condições de, no futuro, superar as cidades do eixo da BR-163 em produção e desenvolvimento. Ainda estamos engatinhando”, comentou.
Porém, o lastro de riqueza que o agronegócio traz também gera desafios para a administração pública, para dar vazão às necessidades de um novo contingente urbano, manutenção das estradas municipais e a rede de saúde.
A Secretaria de Estado de Fazenda (Sefaz) apontou que houve 17% de incremento nos repasses do Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab) para Paranatinga, passando de R$ 4,227 milhões em 2015 para R$ 4,942 milhões em 2022. A arrecadação dos impostos municipais também cresceu, porém, ainda está aquém do dinamismo imposto pelo novo momento do município.
“Os problemas e os desafios também cresceram. O Estado tem sido um grande parceiro, mas precisamos de mais apoio também”, ponderou Arlinda.
Da capital da pecuária aos grãos
No passado, Juara era a capital da pecuária em Mato Grosso. Ainda é o terceiro município com o maior rebanho bovino do Estado. Porém, o que tem chamado a atenção é a conversão de 100 mil hectares de pastagens em lavouras, no período de 2012 a 2022.
Este é outro exemplo de uma cidade que está em plena transformação. A agricultura é responsável por 56% do PIB de Mato Grosso. Quando áreas de lavouras são abertas, a geração de empregos diretos não é tão grande no campo, mas os indiretos são fomentados com a abertura de novas empresas no comércio e na prestação de serviços.
O secretário municipal de Agronegócios de Juara, Raphael Semensato Gonçalves, explica que a expansão da agricultura resultou na vinda de pessoas de outros estados e cidades na cidade, a abertura de cinco empresas de revendas de máquinas e implementos agrícolas, além de lojas de adubos e fertilizantes.
Sindicato Rural de Juara

Lavouras na região do Catuaí, em Juara
“Temos pelo menos mais 600 mil hectares que pode ser convertidos em lavoura, o mesmo que Sorriso cultiva hoje. O asfaltamento da MT-220, ligando Juara a Sinop, faz com que a produção seja escoada pelo Porto de Miritituba (PA). Grandes grupos passaram a comprar e arrendar terras no município, como o Grupo Scheffer que já arrendou 300 mil hectares. Estamos caminhando para ser um dos expoentes do agro em Mato Grosso”, destacou.
O presidente do Sindicato Rural de Juara, Jorge Mariano, destaca que as terras férteis do distrito de Catuaí, entre o Rio Arinos e o Rio Sangue, se transformaram em lavouras. O gado em ocupado as áreas mais irregulares.
A agricultura vai sufocar a pecuária?
Pecuarista de alma e coração e dono de uma fazenda de 2 mil hectares em Juara, o produtor rural Jorge Mariano diz que Mato Grosso deve permanecer na liderança, mas o que muda é a forma de criar os animais. A pecuária intensiva e o uso de tecnologia no campo, uma das heranças que a agricultura traz, também será o caminho para quem quiser permanecer na atividade.
Juara vai continuar entre os primeiros lugares na produção de gado, mas a agricultura veio para ficar e tem mais áreas para ser convertidas e mudar a nossa região
“Se o produtor tinha um animal por hectare, terá que criar quatro ou cinco. Antes se levava cinco anos para abater um boi, agora o ciclo é de dois anos, dois anos e meio. Hoje a escolha dos animais não é mais touro de comitiva, são animais de qualidade, procedência, genética, inseminação artificial. A pecuária modernizou”.
É o que também avalia o secretário municipal Raphael Semensato. “Juara vai continuar entre os primeiros lugares na produção de gado, mas a agricultura veio para ficar e tem mais áreas para ser convertidas e mudar a nossa região. As duas atividades vão coexistir”.
Apesar do entusiasmo em ver o crescimento veloz da cidade e dos arrendamentos de seus amigos pecuaristas para sojicultores, por ora, Jorge Mariano não se sente tentado a mudar de atividade, vender ou arrendar.
“Ainda não está na minha cabeça essa mudança, mas quem sabe”.
José Henrique Barros da Silva 31/05/2023
Matéria de suma importância e relevância. Mostra as possibilidades de crescimento exponencial nesta região de Mato Grosso, fomentando ainda mais a ida de empresários e famílias para Juara e entorno.
Maria Vitória 31/05/2023
Excelente noticia para nosso Mato Grosso, em busca de crescimento e expansão na agricultura
DJAIR NASCIMENTO FRAGA 31/05/2023
Ótima matéria!!
3 comentários