Gláucio Nogueira, repórter do GD
Abandonada e caótica. Desta forma, moradores e comerciantes classificam o atual momento vivido pelo município de Chapada dos Guimarães (67 km ao norte da Capital). Em pouco tempo a cidade perdeu o posto de principal ponto turístico de Mato Grosso para registrar a falta de médicos, professores da rede municipal em greve e uma ativa e rentável indústria de grilagem de terras públicas e privadas.
Além disso, duas investigações apuram o uso de maquinários públicos em áreas particulares e o descarte clandestino de medicamentos vencidos. Moradores do município também não poupam a atual gestão de críticas e afirmam que nada mudou nos últimos 6 meses. “Infelizmente, para nós, está tudo muito ruim. Nada mudou para melhor e, em muitos casos, até piorou. Ainda bem que meu filho estuda em uma escola estadual, porque se estivesse no município não sei o que faria”, conta o ajudante de serviços gerais Deosmar Pires de Souza, 30.
Quem chega ao município vindo de Cuiabá, pela Rodovia Emanuel Pinheiro (MT-251), se depara com dezenas de barracos de madeira e pequenas casas de alvenaria, na região do distrito da Água Fria. O local, que atualmente pertence à União, foi invadido por dezenas de pessoas recentemente. “Todas elas foram retiradas, mas no início da semana um novo grupo chegou e já está tudo loteado”, conta um corretor de imóveis que prefere não ser identificado.
No local, é possível perceber ao lado de muitos dos barracos, carros, alguns novos, fato que mostra que não apenas pessoas sem teto aproveitam o local. “Só neste mês uma única pessoa que está nessa área invadiu terrenos que comercializamos em 4 locais diferentes. Ele entra e vende para outras pessoas, daí parte para um novo lote”. Ressalta que após a retirada da primeira invasão a prefeitura chegou a cercar a área, mas sem nenhum acompanhamento os grileiros voltaram. Por ser uma área de manancial, há o risco de que a água possa ser contaminada.
Como se não bastasse a questão fundiária, os moradores de várias localidades sofrem com a falta de asfaltamento na Rodovia MT-020, atualmente de terra e que dá acesso a várias comunidades rurais. “São 43 quilômetros, com verba prometida, que não saíram do papel por total inércia do prefeito. Em uma audiência com o governador Silval Barbosa (PMDB) ele pulou este item das indicações”, afirma a vereadora Monique Haddad (PR), se referindo ao prefeito de Chapada dos Guimarães, José Neves (PSDB), a quem acusa de agir em favor dos interesses de grandes empresários.
A região também sofre com a questão do tratamento e descarte de resíduos sólidos, pois não há um aterro sanitário construído, embora o projeto já tenha sido licenciado. Na área onde era jogado o lixo, próxima a um manancial, há uma chácara. Moradores da região se defendem e afirmam que aguardam apenas uma documentação para assegurar a posse do espaço.
Os conflitos entre o público e privado já resultaram na exoneração do secretário de Planejamento e Obras, Marcos Sguarezi por suposto uso de maquinários públicos em área privada. Ao saber da denúncia, a vereadora Cacilda Siqueira, a professora Cidu (PP) chegou a registrar um boletim de ocorrência. “As máquinas foram tiradas da comunidade João Carro para atender empresários ligados ao prefeito. Enquanto isso, os moradores daquela comunidade passam por dificuldades quando precisam seguir para o município”.
Delegado de Chapada dos Guimarães, Bruno Barcelos já ouviu diversas pessoas e, nos próximos dias, vai intimar o prefeito. “Ouvimos 3 funcionários que confirmaram o trabalho e o inquérito seguirá com outros depoimentos e provas”. O fato foi flagrado na região conhecida como Vale da Benção.
Outro lado – A reportagem esteve na sede da prefeitura e marcou uma entrevista com o prefeito José Neves, por intermédio de um assessor. No entanto, 15 minutos antes do horário marcado, a equipe foi informada que o prefeito teve uma reunião urgente e não poderia atender.