MARCIA MATOS
DA REDAÇÃO
O depoimento da mulher que gravou o vídeo em que o vereador João Emanuel (PSD) ensinava como fraudar a licitação da Câmara de Cuiabá pode ‘salvar a pele’ do parlamentar, que foi preso nesta quarta-feira (26), pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Ruth Hércia da Silva Dutra deve ser ouvida no prazo de uma semana pela Comissão de Ética e Decoro da Câmara Municipal. No depoimento, a empresária deve falar sobre todo o processo que envolveria a falsificação da venda de um terreno de propriedade de seu filho e sobre a suposta proposta do vereador de um esquema para fraudar a licitação da Câmara e beneficiar sua gráfica, mas as explicações mais aguardadas no momento são a respeito de um segundo vídeo, em que ela seria protagonista de uma conversa na qual Ruth supostamente relata que houve uma ‘armação’ para incriminar João Emanuel.
O vídeo em questão foi ‘descoberto’ pelo advogado de defesa do vereador, Eduardo Mahon, quatro meses depois de ter sido deflagrada a Operação Aprendiz e te ter caído no conhecimento público as provas contra o parlamentar. Em entrevista ao RepórterMT, o advogado relatou que o material fazia parte das provas encaminhadas pelo Ministério Público, mas quando ele recebeu as provas que continham dois DVD’s pensou que um fosse cópia do outro e somente há cerca de um mês tomou conhecimento de que era um material muito diferente.
“Porque no vídeo tá dizendo o seguinte: a mulher falando com o filho e com o sócio do filho. Eles estão falando o seguinte: “mas vem cá onde que o João Emanuel entra nessa história? Aí os meninos estavam dizendo o seguinte: não entra em lugar nenhum”, declarou.
Agora a defesa se ‘agarra’ a essa prova para livrar João Emanuel de pelo menos parte das acusações. O vídeo foi entregue há cerca de 10 dias para a Comissão da Câmara e apresentado pelo próprio advogado para a juíza Selma Rozane Arruda, da Vara do Crime Organizado, que parece não ter sido convencida da inocência de João Emanuel, já que a mesma decretou sua prisão, efetuada nesta quarta-feira (26).
Ao RepórterMT o presidente da Comissão de Ética, vereador Toninho Sousa (PSD), relatou que teve acesso ao segundo vídeo, mas que o material não deixa claro que a conversa seria sobre João Emanuel. Agora, a comissão quer ouvir de Ruth se é ela a mulher do vídeo e se realmente tratavam de um esquema para prejudicar o vereador.
“Ela fala muito sutilmente que ele é um menino, que ele não teria mal por ver e tal. Na gravação fica vago de quem estavam falando. Se ela afirmasse isso num depoimento da oitiva, aí sim poderia ter um valor maior, teria peso maior ela prestar o depoimento, do que uma gravação subjetiva”, declarou Toninho.
Apesar da prisão de João Emanuel, Toninho evita falar sobre a cassação do colega parlamentar e pontua que os trabalhos da Comissão devem ser finalizados até o dia 10 de abril e então o relatório se entregue ao presidente da Casa, que dará os encaminhamentos sobre a avaliação dos depoimentos, que pode resultar na votação dos vereadores pela cassação, ou não, de João Emanuel.
De acordo com o relator da Comissão, vereador Ricardo Saad (PSDB), Ruth já foi convocada, mas como ela não mora em Cuiabá, estão esperando apenas que ela confirme o dia que chega à Capital para começarem as oitivas.
QUEM É RUTH
Ruth Hércia da Silva Dutra e seu filho Pablo Noberto Dutra Caires, teriam sido vítimas de um esquema de grilagem de terrenos, supostamente chefiado por João Emanuel.
A empresária, proprietária de uma gráfica acusou o vereador de ter falsificado a venda de seu terreno. A mesma foi protagonista da gravação em que João Emanuel lhe fazia uma proposta, para reparar o dano financeiro da venda do terreno, através de um contrato de sua empresa com a Câmara Municipal, fraudando a licitação da Casa. Fraude essa que teria seu ‘lucro’ dividido entre os vereadores.