ABDALLA ZAROUR
DA REDAÇÃO
A sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Cuiabá, foi alvo da Operação Geia da Polícia Federal na manhã desta quarta-feira (18). A operação visa combater títulos falsos de terras em Mato Grosso. Para isso, a PF cumpriu 10 mandados de busca e apreensão nas cidades Pontes e Lacerda, Cuiabá, Rondonópolis e Rolim de Moura, em Rondônia.
A PF investiga se há participação ou não de servidores do Incra no esquema. É que segundo o delegado que comanda a Operação, Jesse James Rodrigues, da delegacia de Cáceres, os títulos eram verdadeiros, mas as informações contidas nos documentos eram falsas. “A nossa intenção é descobrir se há participação de servidores”, comentou.
Segundo o delegado, pelo menos 27 propriedades em Pontes e Lacerda foram regularizadas de forma fraudulenta. Já em Comodoro, outro município alvo da PF, 46 de 58 terras foram regularizadas de forma ilegal.
Duas dessas propriedades, que tiveram a regularização por fraude foram vendidas a fazendeiros da região pelo valor, cada uma, de R$ 1 milhão. Segundo o delegado, os compradores queriam utilizar a área comprada como compensação de reserva ambiental. De acordo com as investigações, a venda ocorreu com o preço praticado no comércio, por isso, os fazendeiros compraram sem saber que estavam caindo em um golpe.
Segundo as investigações, a maioria das propriedades que foram fraudadas tinha em média 500 hectares.
De acordo com a Polícia Federal, as investigações começaram nos anos de 2007 e 2009. Segundo Rodrigues, informações repassadas por órgãos públicos deram início aos trabalhos. “Os títulos datavam de 94 a 98, mas só foram apresentados para a regularização em 2007 e isso que acabou chamando a atenção da investigação. Como é que você tem um título, não faz uso dele e só o apresenta quase duas décadas depois”, disse.
A Polícia Federal ainda não sabe quantas pessoas foram beneficiadas com o esquema e nem quantas tiveram prejuízos, mas muitas das vítimas são laranjas no esquema, pois tiveram suas informações pessoais para a elaboração dos documentos que iriam ser regularizados pela quadrilha.
A compra das terras irregulares eram usadas na maioria das vezes para ser regularizada junto à Sema como compensação de reserva ambiental e como garantias de financiamentos bancários.
A organização criminosa contaria ainda com assessores técnicos, constituída por advogados, que davam orientações quanto ao trâmite jurídico, e laranjas, que emprestavam seus nomes para figurarem como proprietários. O delegado disse que tem nomes conhecidos da sociedade no esquema, porém, para não atrapalhar as investigações, ele não quis revelar.
O nome da operação foi extraído da deusa grega que simboliza a terra, em face dos delitos apurados envolverem fraudes relacionadas a títulos falsificados do INCRA.
O delegado disse que a investigação deve levar mais quatro meses e só depois o inquérito será remetido ao Ministério Público Federal para ser oferecida denúncia.
De acordo com Rodrigues, alguns crimes já foram identificados, como: formação de quadrilha, invasão de terras públicas, falsidade ideológica.
Confira abaixo, a entrevista coletiva concedida pelo delegado Jesse James Rodrigues sobre a Operação Geia nesta quarta-feira (18).