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Cuiabá, 27 de Julho de 2024
27 de Julho de 2024

27 de Dezembro de 2010, 10h:27 - A | A

POLÍCIA /

PS de Cuiabá atende média de 21 vítimas do trânsito por dia



AMANDA ALVES
A GAZETA


Vinte e uma vítimas de trânsito são encaminhadas, por dia, ao box de emergência do Pronto-Socorro de Cuiabá. A maioria dos atendimentos envolve os motociclistas (60%), considerada a parte frágil do trânsito e quem mais se arrisca nas manobras pelos corredores de carros. A grande demanda de vítimas de acidentes nas unidades de urgência e emergência é verificada em todo o país e alerta a população para a prevenção da violência no trânsito, que já matou 313 pessoas, de janeiro até à véspera de Natal, na Capital e Várzea Grande e pode deixar sequelas neurológicas por 5 anos no corpo de quem sobrevive.

O socorro das vítimas inicia após uma batida ou atropelamento, que já se tornaram comuns nas ruas mais movimentadas de Cuiabá. Mas este é só o início de um processo longo de recuperação para quem se salva de um acidente. Depois que o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) faz o pré-atendimento, o paciente pode precisar de procedimento para caso de hemorragia, leito em Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), curativos, exames, remédios e internação até aguardar por uma cirurgia. Custos, que podem chegar a R$ 100 mil, dependendo da consequência do acidente para o paciente, segundo o diretor do PS de Cuiabá, Jair Gimenes Marra.

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"O custo médio de um procedimento cirúrgico é de R$ 1.468, mas há vários outros serviços que uma vítima de acidente necessita e aumenta o custo operacional", contabiliza Jair, que aponta o público de motociclistas como a grande demanda no box de emergência.

Entre janeiro e outubro desse ano, 3.762 motociclistas precisaram passar pelo atendimento na unidade, o que representa 60% dos casos de acidentes. Outros 22% das vítimas estavam em automóveis, 10% eram pedestres e 8% condutores de bicicletas.

Vida de motoqueiro - Em 10 anos pilotando motocicleta, Roberson Luz Marcarello, 32, somava 4 quedas que lhe deixaram apenas arranhões. Mas, na última terça-feira (14), entrou para a estatística de vítimas de emergência. "Estava saindo de um restaurante na avenida do CPA e indo levar minha namorada ao trabalho. Só vi o que aconteceu quando minha perna foi no para-choque do carro".

A falta de atenção por alguns segundos, lhe rendeu 2 ossos do tornozelo quebrados e mais 1 da mão. Internado no PS da Capital, agora aguarda pela data da cirurgia ortopédica. Quarenta e sete pessoas acidentadas esperam pelo procedimento na sua frente.

"Iria casar no começo do ano e neste final de semana conheceria os pais da minha noiva em Rondônia, mas tudo vai ficar para depois, não vou poder trabalhar por um tempo", diz Roberson.

Ele conta que a mãe sempre lhe pedia para que não comprasse uma motocicleta pelos riscos associados, mas preferiu o veículo por dar mais vantagem na locomoção aos serviços de pintor que desempenha em vários pontos da cidade.

O diretor do PS, Jair, acredita que haja um incentivo para as compras de motocicletas. "Tem muita facilidade para comprar moto, com entrada de R$ 1 hoje é possível adquirir uma. Mas além do aumento das vendas, é preciso ter uma legislação mais rigorosa para tratar do veículo, principalmente em relação aos equipamentos de segurança".

Em uma comparação, Jair destaca que o carro traz mais garantias de vida aos condutores e passageiros.

Trauma para sempre -Conforme o registro de óbitos do Instituto Médico Legal (IML) de Cuiabá, a maioria das 313 mortes por trânsito tiveram como causa o traumatismo cranioencefálico (TCE), que acarreta de início a perda de consciência no local do acidente. Para quem sobrevive ao acidente, o TCE pode deixar sequelas, como perda de movimento corporal, cegueira e comprometimento de determinadas tarefas cotidianas, dependendo da região cerebral afetada.

Em uma pesquisa com pacientes que chegam para atendimento no Centro de Reabilitação Integral Dom Aquino Corrêa (Cridac), a estudante de mestrado em saúde coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Ana Paula Fontes, constatou que 72% dos pacientes por acidente de trânsito eram motociclistas. Em primeiro lugar estavam as fraturas nas pernas e, depois, nos braços. "A moto é mais vulnerável e verifiquei que o perfil de vítimas são homens entre 20 e 30 anos".

Em média, 3 pacientes acidentados entram diariamente no Cridac, o que é considerada uma demanda alta pela diretora Lúcia Provenzano. "Se na década de 70 tínhamos mais pacientes com sequelas da poliomielite, hoje são os acidentes de trânsito".

Das 181 próteses de perna implantadas este ano, a maioria (23%) foi destinada às vítimas do trânsito. Cada prótese custa R$ 2,6 mil pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Além do material e da equipe multiprofissional envolvida em um tratamento de recuperação, a gerente de assistência terapêutica do Cridac lembra que existe as demandas para a família, que precisa se readaptar à vida do acidentado. "Dependendo do grau de deficiência, a família precisa ter cuidados intensivos, que iniciam com os horários do tratamento, alimentação, remédios e o fato de muitos ficarem limitados ao trabalho, ou seja, sem renda".

Prevenção da violência -Para evitar a demanda por colocação de pinos, procedimentos cirúrgicos, tratamentos de assistência social em consequência de traumatismo, o presidente do Sindicato dos Médicos de Mato Grosso (Sindimed-MT), Edinaldo Lemos, diz que "vale muito mais investir em fiscalização das regras de trânsito, conscientização". Ele defende que, a partir de ações de prevenção, seja possível fazer menos vítimas.

Na avaliação do presidente do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM-MT), Arlan Azevedo, há uma dissociação entre quem planeja a cidade e o trânsito e quem utiliza o espaço urbano para se locomover. "Isto causa um impacto enorme nos custos da saúde do país e na própria produção, pois são os jovens que mais perdem a vida em acidentes de trânsito".

O setor de educação do Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso (Detran) se coloca como responsável pelas ações de conscientização da violência no trânsito. Para prevenir acidentes, promove oficinas pedagógicas para educação infantil em escolas, capacitação de professores, festival estudantil temático de teatro para o trânsito, trabalho de orientação junto aos caminhoneiros e com motoristas de empresas especializadas.

 

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