VANESSA MORENO
DO REPORTÉR MT
Eduardo Siqueira Campos (Podemos), prefeito de Palmas, capital do Tocantins, foi preso na manhã desta sexta-feira (27), em mais uma fase da Operação Sinsamnes, deflagrada pela Polícia Federal, para aprofundar as investigações sobre o esquema de venda de sentenças no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Nesta fase da operação, os agentes apuram a existência de uma organização criminosa responsável pelo vazamento de informações sigilosas, oriundas das investigações sobre o esquema de venda de sentenças, que causaram impacto direto sobre operações da Polícia Federal. Já as informações sobre o esquema de venda de sentenças vieram à tona após a devassa realizada no celular-bomba do advogado Roberto Zampieri, assassinado em dezembro de 2023, em Cuiabá.
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Além do mandado de prisão de Eduardo Siqueira, a PF cumpriu outros dois mandados de prisão e três de busca e apreensão, além de medidas cautelares diversas. As ordens judiciais foram autorizadas pelo ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), e todos os mandados estão sendo cumpridos em Palmas.
Segundo informado pela Polícia Federal, a apuração revelou indícios de que as informações confidenciais estariam sendo antecipadamente acessadas, articuladas e repassadas a alvos investigados, com o envolvimento de agentes públicos, advogados e operadores externos.
Pesa sobre o grupo criminoso a acusação de que eles teriam utilizado dados sensíveis para proteger aliados, frustrar ações policiais e construir redes de influência.
Essa é a terceira vez que a PF cumpre mandados em Tocantins. A quarta fase da operação havia resultado na prisão do advogado Thiago Marcos Barbosa de Carvalho, sobrinho do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) e mais recentemente o prefeito Eduardo Siqueira foi alvo de busca e apreensão.
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Assassinato do advogado
Roberto Zampieri foi morto a tiros no dia 5 de dezembro de 2023, em frente ao seu escritório, no bairro Bosque da Saúde, em Cuiabá.
Durante as investigações, a polícia apontou o produtor rural Aníbal Manoel Laurindo como mandante do crime; o coronel do Exército aposentado Etevaldo Luiz Caçadini de Vargas como financiador; Antônio Gomes da Silva como executor do assassinato e Hedilerson Fialho Martins como intermediário e dono da arma utilizada para matar Zampieri.
Ficou constatado também que a motivação do crime seria a disputa de uma terra avaliada em R$100 milhões.
Quase um ano após a morte de Roberto Zampieri, uma decisão da 12ª Vara Criminal de Cuiabá autorizou uma devassa no celular dele, que ficou conhecido como celular-bomba.
Através da perícia realizada no aparelho, foi descoberto um esquema robusto de venda de sentenças no Poder Judiciário. Dois desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) foram afastados por suposto envolvimento no esquema. São eles: Sebastião Moraes e João Ferreira Filho.
Os dois estão fora de suas funções desde agosto do ano passado e chegaram a ser submetidos ao monitoramento por tornozeleira eletrônica.
O juiz Ivan Lúcio Amarante, de Vila Rica (1.152 km de Cuiabá) também foi afastado do cargo. O afastamento dele ocorreu em outubro do ano passado, por participar do esquema de venda de sentenças, manter uma relação de amizade íntima com Zampieri e receber vantagens indevidas do advogado através de empresas de fachada.
Cinco desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) também foram afastados.
Lobista
A devassa no celular de Zampieri também chegou ao nome do lobista Andreson de Oliveira Gonçalves. A PF identificou que ele era líder do esquema e negociava a compra de decisões no STJ. Diálogos entre ele e Zampieri foram encontrados no aparelho, nos quais o lobista compartilhava minutas antecipadas das decisões dos ministros.
Andreson tinha relações com assessores dos gabinetes e dizia ter capacidade de influenciar as decisões dos ministros por meio deles.
Ele está preso em Brasília.
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Comando C4
As investigações sobre a morte de Roberto Zampieri também revelaram um grupo criminoso autodenominado Comando C4 - Caça Comunistas, Corruptos e Criminosas, que tem como líder Etevaldo Caçadini e teria sido contratado por Aníbal Laurindo para matar o advogado.
O grupo era envolvido em crimes de espionagem e assassinatos sob encomenda e era organizado em áreas como administração, pessoal, materiais e até valores.
Anotações encontradas em uma agenda de Caçadini mostram que eles cobravam para assassinar e espionar de acordo com o status das vítimas. Os preços variavam de R$50 a R$250 mil e eles utilizavam armamento pesado como fuzis, pistolas com silenciador, lança rojão, entre outras.
Ministros e deputados estavam entre os alvos do grupo.
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