No dia 07 de setembro, o rapper norte-americano Mac Miller veio a óbito por conta de overdose. O falecido artista, até o mês de maio do corrente ano, namorava a famosa cantora pop norte-americana Ariana Grande. Ela, não aguentando suportar a dependência química dele, resolve por fim ao namoro.
Ariana, de apenas 25 anos, relatou que viviam de maneira conturbada, pois tentava de todas as formas ajudar o namorado a deixar o uso de substâncias tóxicas, sem sucesso. O namoro perdurou por dois anos.
Ressalte-se que Ariana possuía muito mais sucesso que o ex-namorado, tendo, inclusive, contribuído na carreira dele, com a sua fama. Entretanto, será que ela deveria carregar esse “fardo” em conviver com um homem que se negava ao tratamento para dependentes químicos? É possível imaginar todos os problemas por ela enfrentado com esse “Amor” que se encontrava doente quimicamente? Teria obrigação de ficar em relacionamento difícil, por ele estar viciado em drogas? Até quando deveria suportar?
Pois bem. Todas as reflexões acima se fazem necessárias no momento, porquanto, essa jovem foi culpada da morte desse homem. Vários fãs usaram as mídias sociais para desferir agressões contra a cantora, ao afirmar que ela o havia abandonado na fase mais difícil de sua vida. E quem pode afirmar?
Quantas violências domésticas acontecem diariamente com a potencialização do uso de substância entorpecente? Quantas mães buscam desesperadamente o Poder Público, todos os dias, para pedir ajuda com os filhos e filhas dependentes químicos?
Na verdade, as mulheres são culpadas naturalmente por situações desagradáveis que acontecem na vida dos homens e da família. Não raras vezes é possível escutar homens afirmando em audiência que se encontram em situação prisional por culpa da companheira, em casos de violência doméstica e familiar. Existem mulheres que também são culpadas quando filhos e filhas ocasionam em se machucar. A falta de cuidado é sempre atribuída a ela.
Os abusos físicos e psicológicos ao feminino ocasionam a opressão de forma subjetiva. A mulher fica sujeita ao ciclo da violência, e deve se reinventar para conseguir se desvencilhar.
Desnaturalizar a culpa do gênero feminino é a primeira atitude positiva a se tomar em prol das vítimas. Atribuir a culpa a quem, de fato, deve ser culpado é o mais humano a se fazer. A liberdade feminina passa por esse importante enfrentamento.
Geralmente, a mulher vítima de violência carrega consigo o remorso pelo episódio. Até sendo traída, mulheres se acometem em responsabilidade.
Mac Miller homenageou Ariana em um álbum, e, por esse motivo, muitos e muitas afirmaram que ela deveria ficar no relacionamento e o ajudar, a todo custo, a sair da dependência em tóxicos, ainda que ele não desejasse. Ela afirmou: “Que absurdo você minimizar o autocuidado e autovalorização feminina ao dizer que alguém deve ficar em um relacionamento tóxico porque ele escreveu um álbum sobre você (...). Eu não sou babá ou mãe e nenhuma mulher deveria sentir que precisa ser. Eu cuidei dele e tentei apoiá-lo para ficar sóbrio e rezei para seu equilíbrio por anos (...). Claro que eu nunca compartilhei o quão difícil e assustador foi enquanto tudo acontecia, mas foi.”.
“A culpa não é delas”.
ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública estadual