RODRIGO VARGAS
Na análise dos períodos pré e pós Copa do Mundo (uma espécie de fronteira entre a barbárie e a civilização, na visão de alguns iluminados), não faltaram demonstrações de como esta combinação tende a cegar os que dela se aproximam.
Foi assim que os aplausos da imprensa estrangeira, sempre tratada com bolivariano descrédito quando apontava os supostos tropeços da nossa política econômica, tornaram-se argumentos pétreos em defesa de nossa "capacidade de organização".
Turistas estrangeiros que curtiram a Copa ganharam títulos honoris causa como brasilianistas. Seus elogios foram tratados como a expressão da verdade, jamais como uma atitude cortês diante de uma casa bagunçada, mas com ocupantes de boa índole.
Minha esperança é que, uma vez passada a convulsão eleitoral, e com a memória do desastroso 7 a 1 menos dolorida na cabeça, possamos nos dedicar a analisar o tal legado com menos emoções em jogo.
E aceitar que a maioria das respostas não virá em pouco tempo. É o caso do suposto destino de elefante branco da Arena Pantanal, que certamente não será confirmado nem desmentido nestes primeiros meses.
Corinthians e Flamengo quase sempre encontram casa cheia onde quer que joguem. No antigo Verdão, sempre foi assim. O ótimo público que os recebeu na Arena, portanto, não reforça nem desfaz aposta alguma, por enquanto.
Do mesmo modo, o reduzido público do último jogo do Cuiabá, um time novo e ainda em busca de identificação com o torcedor da capital, não é prova de que a estrutura não dará resultado para o futebol local, embora lance dúvidas muito pertinentes.
O fato concreto é que, enquanto alguns se digladiam precocemente para provar quem tinha razão sobre o tema, um obscuro empresário vem abarrotando seus cofres com a organização de jogos de grandes clubes na Arena, pagando míseros R$ 40 mil de aluguel.
A hora é de cobrar do próximo governante uma estratégia clara para a gestão do estádio, considerando de forma realista o que pode ou não ser feito naquele espaço.
E exigir do atual governo que ao menos faça um esforço para manter a estrutura, que já começa a apresentar preocupantes sinais de descaso.
RODRIGO VARGAS é repórter do jornal Diário de Cuiabá.
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