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Cuiabá, 25 de Abril de 2024
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26 de Dezembro de 2016, 07h:52 - A | A

OPINIÃO /

O Canto da Sereia

Sereias que conhecemos hoje não tem nada a ver com as originais

RENATO DE PAIVA PEREIRA



As Sereias que conhecemos hoje ( mulher com cauda de peixe)  não tem nada a ver com as originais conforme narra Homero em a Odisseia. Aquelas eram grandes aves com cabeça de mulher, habitantes de uma ilha isolada entre a Sicília e a Itália, que se alimentavam da carne dos  navegantes  que  seduziam.

Nenhum marinheiro  conseguia resistir aos encantos desses seres fantásticos.  Enfeitiçados  pelo canto maravilhoso e promessas irrecusáveis,  abandonavam o leme e os remos indo à pique nos rochedos da ilha,  onde eram devorados.

Só o  barco  dos Argonautas  navegou  pela região sem danos,  porque o poeta Orfeu com sua Lira divina superou a música e a voz das poderosas Sereias.

O  mitológico Ulisses,  de volta  da guerra de Troia,  passando pela ilha  habitada por esses seres macabros resolveu  ouvir o seu canto.  Mas antes, ciente do perigo que corria, colocou cera de abelha no ouvido dos  marinheiros para que não ouvissem o canto  e mandou que eles o atassem ao mastro central do navio,  com a ordem expressa  de não  afrouxarem  as cordas   até que a ilha sumisse  da vista.

Desesperado para entregar-se à  atração fatal  das  Sereias , debateu-se furiosamente para se soltar das cordas,  mas suas ordens foram cumpridas com exatidão:  quando mais debatia mais os marinheiros apertavam as amarras.

Assim graças a esse cuidado ele ouviu o canto das Sereias,  mas não foi destruído por elas. Orfeu as enfrentou com a música, mas isso é para poucos, tocar como ele é um dom divino. Ulisses, que era apenas um guerreiro,  livrou-se pela cautela.  

Sereias reais com enorme poder de sedução  substituíram as mitológicas.  As modernas  desenvolveram uma atração  ainda mais irresistível  que suas antepassadas:  agora  acenam com joias,  passeios, hotéis de luxo  e dinheiro vivo  roubados dos donos do navio.  Não querem mais destruir os marinheiros e sim preservá-los para juntos saquearem o navio.

O  estrago causado pela simbiose Sereias/Marinheiros ( políticos/empreiteiras)    foi gigantesco, mas o barco  ainda  resiste. Graças à  justiça  estamos conhecendo   os corruptos e os corruptores.  

Alguns acham que  deveríamos   joga-los ao mar,  mas são tantos que não sobrariam  homens experientes   pra  tocar o navio.  Como há culpas maiores e menores entre os marinheiros,  acho que deveríamos   desembarcar no porto de Curitiba os mais nefastos,  preservando os de menor culpa   para continuar a viagem.

Os que usaram  caixa dois para  se  elegerem  sem colocar no  bolso o dinheiro arrecadado ou enriquecer os financiadores,   somente  replicaram  um procedimento historicamente incrustado na política  do país e poderiam  ser perdoados.

Já os que  se lambuzaram no dinheiro sujo e depois abriram o cofre do estado para os bandidos  cometeram um crime maior e precisam pagar por ele.  

 Assim,  os próximos parlamentares e governantes, sabendo que não têm, como Orfeu,  o dom divino    para suplantar  o canto das Sereias,  por certo usarão a cautela, seguindo o exemplo de  Ulisses.

Cientes  da  debilidade do ser humano, que nunca  está totalmente vacinado contra as tentações e temerosos da punição,  criarão  uma “cera legal” (leis, controles,  práticas de compliance)   que os distanciem do  maravilhoso canto que desperta  a vaidade e aguça  a ganância.

Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor

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