MARIANA RAMOS
Recentemente aprovado no Brasil, o Mounjaro (tirzepatida) tem despertado atenção da comunidade médica e da população por seus resultados expressivos no tratamento da obesidade e do diabetes tipo 2. Trata-se de uma nova classe de medicamento injetável, administrado uma vez por semana, que combina mecanismos de ação já conhecidos com inovação farmacológica.
O que é a tirzepatida?
A tirzepatida é uma molécula sintética que atua de maneira dual sobre os receptores de dois hormônios gastrointestinais: o GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1) e o GIP (polipeptídeo inibidor gástrico). Ambos são hormônios incretínicos, ou seja, participam da regulação da glicose no sangue após a alimentação e influenciam o apetite.
Diferentemente de outras medicações já conhecidas que agem apenas sobre o GLP-1, a tirzepatida atua simultaneamente em dois receptores, o que parece potencializar seus efeitos metabólicos.
Como age no organismo?
A ação da tirzepatida no organismo promove:
•Aumento da sensação de saciedade;
•Redução do apetite;
•Retardo no esvaziamento gástrico;
•Estímulo à produção de insulina (dependente da glicose);
* Redução da secreção de glucagon quando a glicemia está elevada;
* Favorece a mobilização de gordura como substrato energético, com preservação relativa da massa magra;
* Melhora da esteatose hepática
Essa combinação resulta em melhora no controle glicêmico e em perda de peso significativa, conforme evidenciado nos estudos clínicos realizados.
Resultados clínicos
Ensaios clínicos de grande porte, como o estudo SURMOUNT-1, demonstraram que a tirzepatida pode levar à redução de até 20% do peso corporal em pacientes com obesidade. No contexto do diabetes tipo 2, também mostrou resultados superiores em comparação a outras terapias já estabelecidas, tanto no controle glicêmico quanto na redução de peso.
Esses resultados geram otimismo, principalmente diante dos desafios enfrentados no manejo da obesidade – uma condição crônica, multifatorial e ainda estigmatizada.
Indicações e uso
O Mounjaro foi aprovado no Brasil com indicação para o tratamento do diabetes tipo 2 e, em 09/06/2025, também foi aprovado para tratamento da obesidade, especialmente quando associada a comorbidades como hipertensão, apneia do sono, dislipidemia e resistência à insulina.
A medicação é aplicada por via subcutânea, uma vez por semana, e deve ser utilizada como parte de um plano de tratamento que envolva alimentação equilibrada, prática de atividade física e acompanhamento regular.
Efeitos adversos e contraindicações
Como todo medicamento, o Mounjaro não é isento de efeitos colaterais. Ocorrem com menor frequência do que com análogos de GLP1 puros e os efeitos colaterais mais comuns envolvem o trato gastrointestinal, como náuseas, vômitos, diarreia, constipação e distensão abdominal – efeitos geralmente transitórios e que tendem a diminuir com o tempo.
Entre as contraindicações, destacam-se:
•Histórico pessoal ou familiar de carcinoma medular de tireoide;
•Presença de neoplasia endócrina múltipla tipo 2 (MEN2);
•Hipersensibilidade a qualquer componente da fórmula;
•Gravidez e lactação (sem dados de segurança suficientes até o momento).
O acompanhamento médico é fundamental para avaliar riscos, monitorar efeitos e ajustar a dose conforme a necessidade individual.
O Mounjaro representa uma inovação importante no campo da endocrinologia, oferecendo uma alternativa eficaz para pacientes com obesidade ou diabetes tipo 2 que não responderam adequadamente às intervenções tradicionais. Apesar dos resultados animadores, é essencial reforçar que a medicação não substitui a adoção de hábitos saudáveis e que seu uso deve sempre ser feito com orientação médica.
Mais do que um novo remédio, o Mounjaro simboliza um avanço na forma como compreendemos e tratamos a obesidade: com ciência, responsabilidade e empatia.
Dra. Mariana Ramos é médica endocrinologista na Fetal Care, em Cuiabá (MT)