PAULO LEMOS
Alguns queridos amigos têm me indagado em quem votarei no segundo turno, para Presidente do Brasil.
Bom, não tardará, antes de baterem os bumbos no dia da eleição, garanto, farei minha escolha individual, por livre e espontânea vontade, e não por constrangimento e/ou pressão.
E, sim, anunciarei meu voto para quem me perguntar e nas mídias sociais, sem problema algum, como um simples internauta.
Farei isso não na qualidade de um mero eleitor, que poderia, se quisesse, gozar da garantia constitucional do sigilo do voto, que nada tem haver com anular (negar o sistema) ou votar em branco (lavar a mão como Pilatos; ou submeter o filho à serra, para descobrir quem sãos os pais).
Porém, farei questão de me posicionar, como sempre fiz, como um simples eleitor e cidadão brasileiro - atualmente, sem filiação partidária -, preocupado e sentindo-se responsável pelo presente e futuro da minha filha, família e de toda a população.
O primeiro ato preparatório dessa decisão pessoal, deve ser me afastar da lógica que tenta fazer da política uma disputa de torcidas acríticas e acometidas por paixonite aguda, alienação grave ou fisiologismo pragmático.
Portanto, reafirmo: tomarei minha decisão de forma livre e desembaraçada, sem me preocupar com ilações de um ou doutro lado da polarização que restringe o campo de alternativas há mais de 20 anos no Brasil.
O petismo e o tucanato agem como se não houvesse nada mais entre o Céu e a Terra, ou para além desse duelo maniqueísta (sincrético e dualista), que hodiernamente oligopoliza a política brasileira, como duas faces da mesma moeda.
Minha decisão levará em conta as diferenças evidentes, não as aparentes, sobretudo, dos planos político (democracia material e participativa/democracia formal e representativa) social (inclusão pela distribuição/ascenção pela competição), cultural (direitos humanos/ordem integracionista), econômico (nacional-desenvolvimentismo/ internacional-liberalismo) e o papel do Estado (forte e indutor/mínimo e regulador).
Entretanto, sem fazer vistas grossas ou míopes para muitas semelhanças de ambos os projetos, em várias questões: a exemplo da leniência de ambos acerca das reformas de base, o descaso com a política de demarcação e proteção das terras indígenas e a incrível semelhança na promoção da cultura da corrupção (patrimonialismo e clientelismo), que corroe a República e mata o espírito da Democracia.
A evidência disso são os mensalões de cada um - com o mesmo modus operandi e principal operador (Marcos Valério) - ou o aparelhamento e usurpação estatal de um, ao passo da sanha privatizante e entreguista do outro.
Assim como as drogas pesadas, que não fazem acepção de classe social, a corrupção não é uma chaga que escolhe entre direita ou esquerda, como o autoritarismo e outras disfunções e perversões do poder igualmente não.
A corrupção deve ser combatida e repelida, esteja onde estiver hospedada e enraizada. Cabe-nos diagnosticar quem está mais "contaminado e doente" no momento, merecendo ser internado na UTI, para, quiçá, regeneração.
No plano das contradições, a princípio, eu citaria o emblemático caso da CPMF. Ambos (PT e PSDB), no poder, foram favoráveis, e, na oposição, desfavoráveis.
O PT se diz contra o financiamento de campanha por pessoas jurídicas, no entanto tem se esbaldado dele, com muita fome e sede ao pote de mel, a exemplo das doações multimilionárias recebidas da FRIBOI.
O PSDB diz que irá acabar com a reeleição - porém, somente para 2022 - e que revisitará o fator previdenciário - em busca de alternativas para amenizar o impacto sobre a renda dos aposentados. É o pai negando os filhos.
O PSDB é o velho, vestido de novo. O PT é a situação acomodada, propagandeando ser a mudança.
Na atual campanha, Dilma foi até a Igreja Universal, comportando-se quase como devota do neopentecostalismo de Edir Macedo, ao invés da teologia da libertação de Leonardo Boff, e se veste de azul ou branco quase o tempo todo, ao invés do tradicional vermelho da esquerda.
Já Aécio, além de ter assumido o bolsa-família como filho adotado de um eventual governo seu, à contragosto de sua base convencional, bem como de ir até o Nordeste com o cantor Fagner e vestir chapéu de vaqueiro, tem aparecido diante das câmeras com um figurino bem diferente da sua caricatura de garoto de Ipanema, sempre gotejando suor, com a camisa pra fora e o cabelo despenteado, tal como um popular.
Só para lembrar, Collor passava glicerina no rosto, antes dos debates, ficando com uma aparência de suado, para parecer menos engomado e mais próximo do trabalhador. Hoje, ele, é aliado de primeira ordem do Planalto Central.
Seriam duas faces da mesma moeda?
Enfim, também considerarei o modelo de campanha, não só do ponto de vista dos abusos de poder político e econômico - um usando parte da mídia, enquanto o outro os Correios - como avaliarei a honestidade e responsabilidade, a viabilidade e melhor opção programática. Pretendo comparar os programas de governo. Não darei cheque em branco para ninguém.
Por fim, considerarei o tom da campanha de cada, a força motriz, o ethos, se do medo ou da esperança, do ódio separatista ou do amor que unifica mesmo na dor, do conflito ou da conciliação da população, da segurança que nutre ou da mudança que move.
Pois, "me mostre como se comporta durante a campanha, que poderei prever como serás no governo".
Já com quem andas, os dois lados estão com más e boas companhias. Isso, penso ser um dos poucos consensos, nessa história de tantos dissensos.
PAULO LEMOS é advogado em Cuiabá/MT.