LOUREMBERGUE ALVES
A liberdade é necessária no desempenho de qualquer atividade. Tanto para quem ousa opinar a respeito das ações dos agentes públicos, quanto para as pessoas que acompanham quase tudo que é divulgado. Estas não são obrigadas a concordar com o que ouvem e/ou leem, tampouco aquele deve se prender com o que pensa o leitor, o telespectador e o ouvinte.
A interlocução passa por essa via de mão dupla.Embora se saiba da existência de analistas e até estudiosos que procuram sempre agradar a gregos e troianos, como se isso fosse possível fazer. Razão pela qual não ousam cutucar determinados ocupantes de cargos eletivos e alguns dos chefes e chefetes políticos, nem descontentarem seus acompanhadores.
Esta jamais será a posição e o propósito desta coluna. Pois as linhas que compõem os textos aqui publicados não têm o patrocínio de figurão algum, muito menos são alimentadas pela vontade dos que se deixam escorregar os olhos por elas. Elas, as linhas, resultam da pesquisa, da reflexão e da avaliação dos fatos existentes, ainda que recortados ou selecionados. Nem os tais recortes ou seleções, imprescindíveis para qualquer diálogo, mais ainda o político, de forma alguma, seguem orientação de uma dada cor partidária.
Nem deveriam, assim como igualmente não devem ser conduzidas pela onda confortável do ‘estar sempre do contra‘, à moda petista de ser quando na oposição.
A mão que aponta os desacertos, e não sem razão, é a mesma que também realça os acertos. Diferentemente, portanto, do ‘ficar em cima do muro‘, jeito tucano de proceder. Pois inexiste um gestor que só erra, enquanto o outro somente acerta.
Erros e acertos estão presentes no cotidiano de todo agente público. Esta última assertiva também vale para quem se atreve a ser crítico das ações dos políticos e dos governantes. Até porque a criticidade depende, antes de tudo, da conversa com o objeto lido - independentemente de quem possa ser o autor do tal objeto - e da compreensão que se tem dele, e, só então, tecer comentário sobre o mesmo.
Comentário que, muitas vezes, carece de outras leituras, ainda que estas sejam a respeito de assuntos de outros tempos, sem se descuidar das opiniões alheias, geralmente aceitas por força de argumentos do tipo gorgiano. A propósito, Hannah, a partir dos ensinamentos de Platão, diz: ‘os sofistas antigos se satisfaziam com a vitória passageira do argumento à custa da verdade, enquanto os modernos querem uma vitória mais duradoura, mesmo que à custa da realidade‘.
Situação bastante clara nas falas e nos textos do articulista que tenta agradar os donos do poder e, em igual instante, seduzir o maior número de leitores, sem levar em consideração que estes também têm suas opiniões, independentemente dos comentários daquele. Isso porque os interlocutores pensam de maneira diferente.
Diante disso, uma comunidade política se constrói na convergência de contrários e a conveniência de opostos forma a estrutura que sustenta o corpo político. Este é norteado pela liberdade. A mesma utilizada pelos próprios analistas, até para desmistificar a figura do (e) leitor torcedor o qual serve de instrumento de manipulação dos políticos que também se valem de artifícios para ludibriar a opinião pública, a exemplo do emprego dos próprios auxiliares para aplaudir seus depoimentos e ações, inclusive via imprensa, blogs, sites e redes sociais. Tal atitude descarta a interlocução, pois prega a aceitação tão somente.
LOUREMBERGUE ALVES é cientista político e professor universitário
[email protected]