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Cuiabá, 15 de Março de 2025
15 de Março de 2025

22 de Setembro de 2014, 10h:05 - A | A

NACIONAL / VEJA VÍDEO

Bom Dia Brasil entrevista Dilma Rousseff

Candidata do PT à Presidência da República foi entrevistada por Chico Pinheiro, Ana Paula Araújo e Miriam Leitão.

BOM DIA BRASIL
G1



O Bom Dia Brasil está dando início hoje (22) à série de entrevistas com os principais candidatos à Presidência da República. As entrevistas foram gravadas e vão ser exibidas sem cortes.

A ordem foi decidida por sorteio. Hoje (22), nós mostramos a entrevista com a candidata à reeleição pelo PT, Dilma Rousseff. A duração da entrevista foi em torno de 30 minutos – tempo que será concedido também aos demais candidatos. A entrevista, dividida em dois blocos, foi gravada ontem (21) de manhã no Palácio da Alvorada.

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Chico Pinheiro: Olá, candidata, em primeiro lugar, eu quero agradecer a sua participação aqui no nosso Bom Dia Brasil, é um momento importante pra gente conhecer melhor as propostas da sua campanha à Presidência da República.

Ana Paula Araújo: Olá, candidata, obrigada pela presença aqui com a gente.

Miriam Leitão: Olá.

Dilma Rousseff: Olá, Chico Pinheiro, Ana Paula, Miriam. E queria cumprimentar também os nossos telespectadores hoje do Bom Dia Brasil.

Chico Pinheiro: Bom, vamos começar então a entrevista. O nosso tempo começa a contar agora. A senhora foi ministra das Minas e Energia, ministério que esteve vinculado, subordinado à Petrobras. A senhora foi presidente do conselho de administração da empresa, e é presidente da República, e durante esse período aconteceram os escândalos que o país começa a tomar conhecimento agora. A senhora mesmo admitiu em uma entrevista que tudo indica que coisas graves aconteceram ali. Como é possível, que a dúvida que a gente fica... Como é possível tudo isso acontecer sem que a senhora soubesse?
Dilma Rousseff: Sabe uma coisa, Chico Pinheiro? Você veja só: nós estamos hoje com a Polícia Federal investigando, nós temos uma investigação do Ministério Público, nós temos inclusive um instituto da delação premiada ocorrendo para poder descobrir o que acontece com crimes de corrupção. Crimes de corrupção, eles não se... Eles não são praticados à luz do dia. Eles têm de ser investigados. Por que que é que nós descobrimos? Nós descobrimos – porque fomos nós que descobrimos – porque quem descobriu é a Polícia Federal, ligada ao Ministério da Justiça. Portanto, ligado a um órgão do meu governo. A Polícia Federal integra o meu governo.

Chico Pinheiro: Um órgão de Estado, isso.  

Dilma Rousseff: É um órgão do governo. Porque a Polícia Federal hoje tem autonomia. Teve épocas que ela não teve autonomia. Ela é um órgão de Estado, com interferência do governo.

Miriam Leitão: Mas tentou ter acesso e não conseguiu.

Dilma Rousseff: Nós demos integral, aliás, quem instituiu todos os mecanismos de autonomia da Polícia Federal foi o governo Lula. Antes do governo Lula, a Polícia Federal não saía por aí investigando o que lhe passasse pela cabeça; hoje sai. Hoje se ela tiver indício, ela pode investigar, doa a quem doer. E nós não, nós não varremos para baixo do tapete nenhuma das investigações. Eu, inclusive, tenho estado muito preocupada com uma questão: eu acho que o Brasil precisa de combater a corrupção de forma determinada. Nós tomamos uma série de providências. Por exemplo, nós demos também estatuto de ministério para CGU, que é a Controladoria Geral do Estado, que é outro órgão que investiga também. Porque investigar que eu estou falando não é investigar no sentido jornalístico da palavra; estou falando investigar no sentido de quem produz prova, quem produz prova pra quê? Pra acabar com a impunidade. Porque não basta só investigar, você tem de punir.

Miriam Leitão: Candidata...

Dilma Rousseff: Se você não punir, você está protegendo a corrupção. Então, hoje, no Brasil, quem investiga? Investiga Ministério Público, investiga Polícia Federal. Essas provas que têm de ser sólidas para permitir a condenação daqueles que praticaram atos ilícitos, ela vai ser olhada pelo juiz. E o juiz, no contraditório, vai permitir que, que a defesa, por exemplo, apresente seus, seus argumentos e as suas provas.

Miriam Leitão: Candidata, é...

Dilma Rousseff: Agora, só concluindo, Miriam, o raciocínio. Então, descobrir este fato dentro da Petrobras requereu não só o empenho da Polícia Federal, mas também nós chegamos a isso vias, numa via indireta, através de uma investigação de doleiros. Foi assim que se chegou à investigação da Petrobras. Eu acredito, e não tenho como te di..., é dizer ao contrário, que se você não investigar, você não descobre.

Miriam Leitão: Candidata, já deu pra entender, mas...

Dilma Rousseff: É impossível descobrir sem investigar.

Miriam Leitão: Eu queria perguntar o seguinte: o ex-presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, disse à Justiça o seguinte: ‘A decisão sobre composição da diretoria é feita no âmbito do governo. O presidente da Petrobras é comunicado’. E ele disse que o nome de Paulo Roberto Costa, o ex-diretor que está preso, depois de, ele passou oito anos na diretoria, e foi apresentado, segundo Sérgio Gabrielli, foi apresentado e nomeado pelo conselho de administração. A senhora, com todos os poderes do conselho de administração, do Ministério das Minas e Energia, a senhora não soube de nada, a senhora não, o que eu queria saber é o seguinte: a senhora não participou da decisão da escolha de Paulo Roberto Costa?

Dilma Rousseff: Miriam, vou te explicar uma coisa: primeiro, Paulo Roberto Costa não foi escolhido fora dos quadros da Petrobras.  

Miriam Leitão: Ele chegou à diretoria no governo do PT.

Dilma Rousseff: Não, só um pouquinho. Paulo Roberto Costa tem 30 anos de Petrobras. Antes de ir pra diretoria da Petrobras, ele fez uma carreira dentro da Petrobras. Inclusive...
   
Miriam Leitão: Nem todo mundo chega à diretoria, candidata. É indicado pelo...

Dilma Rousseff: Pois é, mas eu vou dizer porque que ele se credenciou pra chegar à diretoria. No governo do Fernando Henrique Cardoso, ele foi diretor da Gaspetro. Naquela época, a Gaspetro cuidava dos gasodutos do país que estavam iniciando. Ela era um órgão importante. Foi também gerente de exploração e prospecção.

Miriam Leitão: Isso é carreira, candidata.

Dilma Rousseff: Só um pouquinho...

Miriam Leitão: Uma coisa é carreira, outra é diretoria.

Dilma Rousseff: Só um pouquinho. Deixa eu, deixa eu, deixa eu explicar. Gerente de exploração e prospecção. Quando foi escolhido, ele é escolhido, a Petrobras é muito importante, muito importante. Ela é... Como eu escolhi a diretoria da Petrobras, quando eu nomeei a nova diretoria, eu escolhi, eu olhei quais eram as pessoas...

Chico Pinheiro: E teve indicação política, não é, candidata? 

Dilma Rousseff: Ah, não. Mas eu te asseguro...

Chico Pinheiro: PP, PMDB...

Dilma Rousseff: Eu escolhi, o que eu escolhi é responsabilidade minha. Não foi...

Ana Paula Araújo: Mas candidata a senhora chegou até a dizer em uma entrevista recente...

Dilma Rousseff: A Petrobras não foi uma indicação política no meu caso. Não foi também no caso do Lula.

Ana Paula Araújo: Mas candidata... 

Dilma Rousseff: O senhor Paulo Roberto tinha credenciais para ser escolhido diretor. É isso que eu estou tentando falar.

Ana Paula Araújo: Mas vamos falar da demissão dele, agora, então candidata... 

Dilma Rousseff: A descoberta, a descoberta dele, a descoberta que ele fez isso é uma surpresa. Por quê? Porque eu, como quase todos os brasileiros, acredito que os funcionários da Petrobras eram funcionários de carreira, com 30 anos de carreira...

Ana Paula Araújo: Mas, mas foi uma surpresa pra senhora, depois de oito anos, candidata? Ele ficou oito anos como seu subordinado. Foi uma surpresa pra senhora descobrir isso?

Dilma Rousseff: Foi, foi...

Ana Paula Araújo: A senhora levou oito anos para descobrir que era um funcionário corrupto? 

Dilma Rousseff: Foi uma surpresa. Foi. Se ele fosse, se eu soubesse que ele era corrupto, ele estava imediatamente demitido. Eu não compactuo, não compactuei na minha vida e jamais o farei com práticas de ilícito, práticas criminosas de corrupção.

Ana Paula Araújo: Candidata, eu queria falar agora da sua campanha eleitoral...

Dilma Rousseff: Eu tenho uma trajetória política que mostra isso.

Ana Paula Araújo: Eu queria falar da sua campanha eleitoral na TV, em que a senhora diz que, se a sua adversária Marina for eleita, os pobres vão passar fome, os banqueiros vão fazer as maiores maldades com o povo, acaba o pré-sal, as pessoas não vão mais comprar casa própria. Enfim, claro que a sua adversária nega fundamento em todas essas acusações. A minha pergunta é: a senhora acha legítimo levar o debate político para esse lado, ao invés de discutir propostas, soluções para o país, ficar botando medo nas pessoas?

Dilma Rousseff: Veja bem. É interessantíssimo. Tudo o que eu falo está no programa da candidata. A candidata diz: ‘vou tornar o Banco Central independente’. Ora, Banco Central independente nos termos do Brasil é simplesmente colocar um quarto poder na Praça dos Três Poderes. Aí vai chamar Praça dos Quatro Poderes.

Chico Pinheiro: Mas ela falou...

Dilma Rousseff: Está escrito isso no programa da Marina.

Chico Pinheiro: Mas não foi do Banco Central, candidata...

Dilma Rousseff: Mas não é só isso. Ela diz que vai reduzir o papel dos bancos públicos. Então, gostaria de dar esse exemplo.

Chico Pinheiro: Olha, o próprio Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, que também é procurador-eleitoral...

Dilma Rousseff: Meu querido, ele pode ter a opinião dele.

Chico Pinheiro: Pois é...

Dilma Rousseff: Ele tem direito.

Chico Pinheiro: Não é só uma opinião. A Procuradoria é um órgão independente.

Dilma Rousseff: Eu posso, eu posso...

Chico Pinheiro: O dever da Procuradoria é zelar pela lisura do processo eleitoral.

Ana Paula Araújo: A Procuradoria diz que essa peça de propaganda é tendenciosa.

Chico Pinheiro: Ele diz o seguinte, que na sua campanha...

Dilma Rousseff: Eu tenho de ser julgada pelo pleno do Tribunal Superior Eleitoral.

Chico Pinheiro: Deixa só eu ler textualmente o que ele disse...

Dilma Rousseff: Não é pelo procurador.

Chico Pinheiro: “Uma peça de propaganda da sua campanha, tendenciosa, que poderia gerar estados emocionais desapegados da experiência real”. Ou seja, na opinião dele, isso não é verdade. Haveria uma mentira...

Dilma Rousseff: Ele disse “poderia”. Ele disse “poderia. É uma opinião dele. Isto vai ser julgado pelo Tribunal Superior Eleitoral. O tribunal vai ter de dar uma opinião. Do meu ponto de vista, eu quero o meu direito de defesa nesse caso...

Chico Pinheiro: A senhora não considera que está amedrontando as pessoas?

Dilma Rousseff: Não. Eu acho que estou alertando. Por exemplo, reduzir os papéis do banco... dos bancos públicos: Caixa, Banco do Brasil, BNDES. O que que significa? Imediatamente, eu quero saber como é que vão financiar a infraestrutura no Brasil. Hoje, como é que financia? Nós damos, para poder fazer qualquer obra de infraestrutura, 30 anos para pagar, cinco anos de carência, 5% de juros. O subsídio está no fato de que os 5% de juros, se for olhado em termos dos juros do mercado, ninguém fará infraestrutura no Brasil. Minha Casa Minha Vida, por quê? Porque o juro de mercado é 25%. O juro de mercado não compadece com o financiamento para infraestrutura, não é financiamento de longo prazo. Isso não é medo. Isso é real. Não sai rodovia, ferrovia, porto, aeroporto. Não sai metrô. Não sai VLT. Esquece, porque não sai.

Ana Paula Araújo: Candidata...

Dilma Rousseff: Segunda coisa. Eu vou dar dois exemplos, você me permita. Minha Casa Minha Vida. Minha Casa Minha Vida para pessoas que a faixa maior até R$ 1,6 mil, se você tirar empréstimo no mercado, você vai pagar R$ 940 ou algo parecido com R$ 940. Se for uma pessoa que recebe R$ 800, porque eu estou falando até R$ 1,6 mil, a prestação dele da casa própria é maior do que ele ganha. Nós cobramos 5% da renda. Portanto, o governo coloca um subsídio nesta faixa entre 90% a 95% do valor do imóvel. Passa isso para banco privado, nunca esse país vai ver uma casa própria para população mais pobre.

Miriam Leitão: Candidata...

Dilma Rousseff: Terceiro exemplo. Eu quero saber como é que farão o Plano Safra. Dos R$ 156 bilhões que nós colocamos esse ano, R$ 134 bilhões é com juro negativo. R$ 134 bilhões. Eu não sei se vocês acreditam que os bancos privados vão financiar isso a esse custo.

Miriam Leitão: Vamos falar em juros e financiamento em banco. Ninguém está falando em acabar com os bancos públicos, apenas ter uma participação maior, mas o que eu queria perguntar...

Dilma Rousseff: Mas aí você vai me explicar como é que é reduzir...

Miriam Leitão: Olha aqui...

Dilma Rousseff: Reduzir para quanto? Eu reduzo pela metade o financiamento da agricultura? Reduzo à metade o financiamento da infraestrutura? Reduzo quanto do Minha Casa Minha Vida? Porque não pode ser assim... Não pode dizer ‘vou reduzir’. ‘Vou reduzir’, e aí eu que estou colocando medo?

Miriam Leitão: Candidata...

Dilma Rousseff: Ela tem um alinhamento claro. Ela tem uma posição favorável aos bancos. Eu não tenho. Eu acho que os bancos são importantíssimos, mas eu sei que o país precisa de infraestrutura. As pessoas precisam de casa própria. Eu não sou a favor de desmame da indústria. Não sou. Acho que a indústria tem de ter política industrial. Ela é contra conteúdo nacional. Eu sou a favor.

Miriam Leitão: Candidata, é o seguinte... Outros países, como por exemplo o Reino Unido, o Partido Trabalhista decidiu pela autonomia do Banco Central. Isso reduziu os juros de longo prazo, estabeleceu uma política monetária tranquila. Ninguém acusou o Partido Trabalhista, ou em outros países, no Chile, por exemplo, de isso empobrecer os pobres e defender os bancos. Quer dizer, por que não é melhor levar argumentos mais racionais em vez de usar um argumento desses, que é um argumento... Não faz sentido esse argumento.

Dilma Rousseff: Veja você, Miriam. Eu vou fazer a comparação com o Banco Central americano. Eu já falei isso com você, inclusive na outra entrevista. Qual é o princípio do chamado Federal Reserve? A independência do Banco Central americano está baseada no máximo emprego, estabilidade no curto prazo e juros moderados no longo prazo. Isso, aqui no Brasil, é considerado extrema heterodoxia. Aqui, o Banco Central persegue única e exclusivamente controle da inflação. Lá, persegue máximo...

Miriam Leitão: E não tem conseguido... O seu Banco Central não tem conseguido.

Dilma Rousseff: Mas nem eles. Nem eles, então...

Miriam Leitão: Nem eles? Eles estão com a inflação com menos de 2%.

Dilma Rousseff: Querida, o que é extremamente problemático. Você sabe que deflação hoje é o grande problema...

Miriam Leitão: Eles não estão com deflação. Candidata, eles estão com inflação de menos de 2%, eles não estão com deflação nos Estados Unidos.

Dilma Rousseff: Eles estão... A meta deles...

Miriam Leitão: Nós estamos com inflação acima da meta...

Dilma Rousseff: É muito bom você falar isso. A meta do Banco Central americano é 2%. Eles estão preocupados, pensando na hipótese de elevar juros. É só olhar as declarações da presidenta do Banco Central americano, a Yellen, a Janet Yellen. Eles estão preocupados porque os preços estão crescendo menos. Quando os preços crescem menos e têm processos deflacionários, quem tem dívidas muito elevadas como eles têm – eles têm dívidas não só internas como externas – extremamente elevadas...

Miriam Leitão: Isso não explica o...

Dilma Rousseff: Eles têm problemas. Hoje, no mundo, ninguém consegue, ninguém está conseguindo cumprir todas as metas no ponto. Oscila. Lá também oscila. Aqui oscila. Só que tem que aqui nós não podemos oscilar...

Miriam Leitão: Aqui estoura o teto...

Dilma Rousseff: Mas, veja bem... No caso da Alemanha e no caso do Banco Central Europeu. O Banco Central Europeu tem um problema seriíssimo. Se houver deflação na Europa, eles entram em uma espiral de recessão bruta. Por quê? Porque eles têm uma montanha de dívidas para girar. Se os preços caem, eles não conseguirão girar a dívida deles. Então, hoje, tem uma crise no mundo.  O que não é possível é tratar com dois pesos e duas medidas o Brasil e o resto do mundo.

Chico Pinheiro: Vamos fazer um pequeno intervalo. A gente vai tratar desses assuntos daqui a pouquinho aqui no Bom Dia Brasil. É já já.

Chico Pinheiro: Voltamos aqui com a entrevista no Bom Dia Brasil da candidata Dilma Rousseff, Miriam Leitão tem uma pergunta sobre economia e emprego.

Miriam Leitão: É, candidata, apesar dos abundantes dados mostrando que os outros países estão muito melhores do que o Brasil em termos de crescimento, apesar dos problemas, cada país tem seu problema, mas eles estão com desempenho muito melhor em inflação e em crescimento: Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Chile, Colômbia. Colômbia, 5% de crescimento, Inglaterra, 3% de crescimento. Apesar disso, e o Brasil está com 0,3% de crescimento. Mas a senhora sempre diz que a culpa é da crise internacional, mas eu estou querendo saber, e acho que isso é importante para o eleitor, como a senhora pretende reverter a situação de estagnação e inflação alta para o próximo mandato, se a senhora o receber das urnas?

Dilma Rousseff: Veja, Miriam, eu não concordo com a sua avaliação da situação internacional, não.

Miriam Leitão: São os números.

Dilma Rousseff: Eu acho que nós estamos, e inclusive eu vou falar dos números. Nós estamos num momento que eu acho que passamos por um período de barriga para baixo da crise. Ou seja, a crise internacional deu uma contornada.

Miriam Leitão: A nossa barriga está maior.

Dilma Rousseff: Não, minha querida. A barriga maior é a barriga da Europa. A maior barriga que tem no mundo é a barriga europeia. Nós estamos também com um problema...

Miriam Leitão: A Alemanha cresce 1,5%. Nós, 0,3%.

Dilma Rousseff: Não, a Alemanha não está crescendo 1,5%. A Alemanha está crescendo 0,8%, e há dúvidas a respeito da continuidade. Tanto é que o índice, aquele Zeus, que é o índice que mede a confiança do empresariado na economia cai pelo nono mês consecutivo. Ou seja, a Alemanha...

Miriam Leitão: Mas qual o remédio? O que a senhora vai fazer no próximo mandato?

Dilma Rousseff: ... que tem a indústria mais competitiva do mundo está em uma situação difícil. Quero alertar que tem uma outra questão difícil nesse semestre, que é a queda do crescimento chinês, que não está... Estava em 9% e agora está em 6,5%.

Chico Pinheiro: A senhora está satisfeita com essa situação?

Dilma Rousseff: Não, eu só estou dizendo isso porque ela deu alguns números dizendo que a situação era ótima. E não é ótima.

Chico Pinheiro: A nossa é boa?

Miriam Leitão: Ela não é ótima. Eu não estou falando que a situação...

Dilma Rousseff: A situação no mundo é extremamente problemática, nós não temos mercados. A situação está em compressão. Mesmo os nossos vizinhso...

Chico Pinheiro: Em função do tempo...

Miriam Leitão: O que a senhora pretende fazer para reverter a situação?

Dilma Rousseff: Deixa eu continuar porque senão é impossível...

Miriam Leitão: A minha pergunta a senhora não está respondendo.

Dilma Rousseff: Os nossos vizinhos... Eu respondo, eu estou fazendo a premissa para chegar na conclusão.

Miriam Leitão: É que fica muito tempo na premissa.

Dilma Rousseff: Pois é, mas a vida é complicada. Voltando: os nossos vizinhos também estão em situação difícil. O nosso maior importador, que é a Argentina, aqui na região, está em uma situação bem problemática: 80% dos nossos manufaturados vão para lá.

Chico Pinheiro: Mas qual a solução que nós temos?

Dilma Rousseff: Eu estou então construindo a seguinte frase: nós estamos em uma situação em que o Brasil está na defensiva em relação à crise internacional, protegendo emprego, salário e investimento. Três variáveis que nós protegemos: emprego, salário e investimento.

Chico Pinheiro: Como é que a senhora vai fazer?

Dilma Rousseff: Por que que nós protegemos isso? Porque vamos apostar numa retomada. Na retomada você muda sua política econômica de defensiva para ofensiva. E como se faz, como é que se faz isso?

Chico Pinheiro: Como vem a retomada?

Dilma Rousseff: Se faz isso de duas formas: eu posso, na retomada, gastar menos do que eu estou gastando para sustentar emprego...

Chico Pinheiro: Como faz essa retomada?

Dilma Rousseff: ... salário e investimento. Só que investimento eu tenho de manter. Se não mantiver investimento, eu comprometo emprego e salário. Então, o que nós achamos? Nós achamos que a gente tem de ver como é que evolui a crise. Se ela evoluir para uma situação um pouco melhor, como está parecendo que nos Estados Unidos – não é em nenhum outro país, o Reino Unido quase empata com a gente em tamanho de economia e importância. O que importa... Os Estados Unidos evoluindo bem, eu acho que o Brasil pode entrar em uma outra fase, que precisa menos estímulos, que pode ser, pode ficar mais entregue à dinâmica natural da economia e pode, perfeitamente, passar por uma retomada. Por quê? Porque nós temos hoje... O que que está controlado? A dívida. O Brasil tem uma das menores dívidas do mundo. O que que está controlado? Está controlado também o seguinte fato: nós não temos flanco externo. Flanco externo é o seguinte: o mundo pode ter flutuações que nós não quebramos. Não só com reservas, mas porque recuperamos as condições de produção. O que que deu um impacto muito grande nas nossas contas externas? A Petrobras. Hoje, a Petrobras não vai dar mais impacto nas contas externas. A Petrobras atingiu o recorde agora, estável, de dois bilhões, aliás, desculpa, dois milhões e 300 mil barris dia. Entre 200 e 300.

Miriam Leitão: Permanece produzindo déficit externo, a Petrobras.

Dilma Rousseff: A Petrobras vai produzir déficit externo por um tempo muito curto. Ela começou... Todas as contratações da Petrobras estão feitas. Que nós teremos um aumento na produção de petróleo, nos transformando em exportadores, não há a menor dúvida. Nem das consultorias internacionais, nem nossa.

Miriam Leitão: Então a sua...

Dilma Rousseff: Nós passamos agora a ter um recorde na produção do pré-sal: 530 mil barris dia. A Petrobras tem condições, porque foi a maior responsável pelo nosso déficit em 11, 12 e 13.

Chico Pinheiro: Parece que a sua proposta...

Miriam Leitão: Exatamante.

Dilma Rousseff: Ela foi a maior responsável. Quero falar para o telespectador: pode ficar tranquilo. A Petrobras...

Chico Pinheiro: Vai se recuperar.

Dilma Rousseff: Não, ela já se recuperou. A Petrobras está produzindo...

Chico Pinheiro: Mas a sua fórmula, candidata...

Dilma Rousseff: Ela bateu todos os recordes, todos os recordes de produção, inclusive a própria Agência Internacional de Energia reconheceu que ela teve um aumento extraordinário da produção. Entraram as plataformas, entraram toda a produção. Esse será um imenso fator de crescimento para o Brasil. O pré-sal, o petróleo, a produção de petróleo é fundamental para o país. E isso é importante que fique claro: toda essa investigação sobre a Petrobras não compromete o ritmo de crescimento da sua produção nem o desenvolvimento do pré-sal.

Miriam Leitão: Sobre a minha pergunta, então sua fórmula é menos estímulos e esperar o Estados Unidos?

Dilma Rousseff: Não, mas eu vou manter os estímulos enquanto a crise for grave, Eu não quero aqui no Brasil o que acontece... Porque você fala em crise, né, Miriam? Agora, você esquece de contar que tem uma crise aí que é feroz e, inclusive, não sou eu que estou falando, a ONU que fala que tem uma crise gravíssima que é chamada ‘crise do emprego no mundo’. Se os 20 países mais ricos desempregam 100 milhões de pessoas e se tem uma juventude inteira que é... Que não tem perspectiva de trabalho, nem de emprego.

Miriam Leitão: No Brasil, o desemprego de jovens é 17,7%... É 13,7%.

Dilma Rousseff: É e a escolarização de jovens também é um grande aumento. Nós achamos que os fatores melhores dessa Pnad, é isso.

Ana Paula Araújo: Pois é, candidata, a senhora tocou num ponto que eu queria conversar agora, sobre educação.

Miriam Leitão: Mas deixa só eu perguntar uma coisa. Se o jovem está estudando, ele não está na estatística de emprego, portanto, essa estática de desemprego.

Dilma Rousseff: Mas está.

Miriam Leitão: Não, só entra na estatística...

Dilma Rousseff: Ela não capta, por exemplo, Pronatec.

Miriam Leitão: Ela não capta...

Chico Pinheiro: Ela capta quem está procurando.

Miriam Leitão: Ela só capta quem está procurando por emprego, quem está estudando, ela não capta.

Dilma Rousseff: Por exemplo, mas ela não capta quem está estudando no Pronatec. Oito milhões de pessoas, ela não capta. Ela não capta, ela capta só o curso tradicional.

Chico Pinheiro: Ela capta os que estão buscando emprego.

Miriam Leitão: Veja bem....

Dilma Rousseff: Ela capta... Nós estamos falando de ocupados, nós não estamos falando de quem está buscando emprego.

Ana Paula Araújo: Candidata...

Dilma Rousseff: O conceito de ocupado é quem naquele momento estava empregado.

Miriam Leitão: Eu estou falando de taxa de desemprego.

Dilma Rousseff: Mas eu estou falando...

Miriam Leitão: Taxa de desemprego, 13,7%. Aí não entra quem está estudando e não está procurando emprego.

Dilma Rousseff: Veja bem, veja bem, é diferente... Uma taxa de 3,7 é pleno emprego, né.

Miriam Leitão: 13,7.

Dilma Rousseff: Não, não é isso. Pera lá.

Miriam Leitão: Desemprego de jovens.

Dilma Rousseff: Isso é taxa de ocupação, Miriam, não é taxa de desemprego. Isso é taxa de ocupação.

Miriam Leitão: 13,7, taxa de desemprego da Pnad.

Dilma Rousseff: A Pnad não olha desemprego, ela olha taxa de ocupação, quem é o ocupado?

Miriam Leitão: A PME é o mesmo número.

Dilma Rousseff: A PME é outra coisa. A PME é diferente.

Miriam Leitão: A Pesquisa Mensal de Emprego, a taxa de desemprego dos jovens é quase 14%

Dilma Rousseff: Nós temos pela PME a melhor taxa de desemprego de toda a série histórica: 4,9. Espera-se que terá uma taxa parecida.

Ana Paula Araújo: Candidata só por causa do nosso tempo, eu queria que desse tempo de falar um pouco sobre educação ainda.

Dilma Rousseff: Ninguém tem no mundo taxa de 4,9. Isso é inconteste, gente.

Ana Paula Araújo: OK, candidata. Vamos falar um pouquinho de educação agora que a senhora mencionou alguns programas do Governo.

Dilma Rousseff: Vamos.

Ana Paula Araújo: Só que no entanto, os resultados nessa área ainda são decepcionantes. Saíram agora os últimos números. A gente tem o Ideb, que é um termômetro da educação básica, mostrando aí uma piora generalizada no ensino médio, ensino fundamental estagnado. Nós tivemos também o Censo da educação superior, diminuição do número de universitários que se formam, redução do ritmo de crescimento das matriculas. É um quadro de crise também na educação com esses péssimos números, depois de 12 anos do governo do PT, três mandatos, A minha pergunta é: não é muito tempo para esses resultados ruins numa área que é, talvez, a mais importante?

Dilma Rousseff: Então, veja bem, você me fez quatro perguntas, eu quero o direito de responder as quatro perguntas. Então vamos embora. Vamos olhar o que que piorou no Ideb e depois vamos discutir o que é que tem que ser feito. No Ideb, melhorou bastante os anos iniciais.

Chico Pinheiro: Nós temos três minutos então.

Dilma Rousseff: Tá bom. Melhorou os anos iniciais, você vai concordar comigo. Nós cumprimos direitinho a meta e nos superamos. A escolarização do ensino fundamental do Ideb esteve além da meta.

Ana Paula Araújo: Mas tinha uma meta de acabar com o analfabetismo, era uma promessa sua, do presidente Lula, de campanha, de erradicar o analfabetismo e ainda temos 13 milhões de analfabetos.

Dilma Rousseff: Minha querida, você não vai fazer três perguntas para mim, deixa eu acabar de responder, pelo amor de Deus, porque o debate é comigo, não é? Então vamos embora. Olha lá, os dois anos, os anos finais do ensino fundamental e o ensino médio, de fato, não estão bons. Nós não conseguimos entrar na meta. Nos últimos anos do ensino fundamental, nos aproximamos. No ensino médio, não nos aproximamos. Nós temos esse diagnóstico de ensino médio. Tanto é assim que criamos o Pronatec. O Pronatec tem duas partes, uma parte é ensino técnico. Por que criar um ensino técnico? Porque o jovem do ensino médio, ele não pode ficar com 12 matérias, incluindo nas 12 matérias, filosofia e sociologia. Não tenho nada contra filosofia e sociologia, mas um currículo com 12 matérias não atrai um jovem. Então, nós temos que primeiro ter uma reforma nos currículos e isso não é algo trivial. O governo não faz isso por decreto, porque tem todos entes federados envolvidos.

Ana Paula Araújo: Mas em 12 anos, não foi possível, candidata?

Dilma Rousseff: Calma, nós melhoramos muito. Pega os dados. Se você quer discutir os dados, eu pego os dados.

Ana Paula Araújo: Nós temos os dados aqui.

Dilma Rousseff: Os dados são os seguintes: nós melhoramos imensamente, nós voltamos a fazer teste. Sabe por que você sabe isso? Porque antes não tinha teste nenhum. Agora tem prova Brasil, provinha Brasil. Tudo é testado.

VEJA O VÍDEO

Miriam Leitão: Esse sistema de avaliação foi do governo anterior.

Dilma Rousseff: Não, não foi não. O sistema de avaliação do governo anterior permitiu, inclusive, que as pessoas fizessem a passagem de um ano para o outro sem teste, nós acabamos com isso.

Chico Pinheiro: Agora, o Brasil investe pouco em educação, candidata?

Dilma Rousseff: A tal da promoção continuada é algo que existia em São Paulo até há pouco tempo.

Miriam Leitão: Estou falando de avaliar a educação.

Chico Pinheiro: O Brasil investe pouco em educação, porque dos 34 países que compõem a OCDE, dos 34 países, na média do investimento deles, nós investimos um terço desses países. Inclusive, um terço do México, um terço do Chile.

Dilma Rousseff: Veja bem, nós estamos investindo muito mais do que se investia antes, nós saltamos de algo como R$ 30 bilhões...

Chico Pinheiro: Muito menos do que seria a meta.

Dilma Rousseff: ... para R$ 117 bilhões, cento e pouco bilhões. Não é bem R$ 117 bilhões, está em torno do patamar de R$ 100 bilhões. O que que é importante? Nós sabemos que não tem recursos significativos para a educação. O que que nós fizemos? Nós mandamos, eu acho que nós fizemos um ótimo trabalho em educação e vou dizer qual é. Eu peço o espaço para isso. Mas eu quero falar o seguinte, nós mandamos a lei dos royalties: 75% dos royalties e 50% do fundo do pré-sal é destinado a quê? À educação. Com isso, nós vamos melhorar o ensino...

Chico Pinheiro: Com 1 minuto, nós terminamos.

Dilma Rousseff: O ensino básico. Nós vamos melhorar sobretudo duas coisas: creche, alfabetização na idade certa e ensino em tempo integral. Vamos ter de mudar os currículos radicalmente. Agora, fizemos, passamos de três milhões de estudantes universitários nesse país para sete milhões de estudantes universitários. Pela primeira vez, temos a quantidade de pessoas matriculado em ensino técnico de oito milhões, que não existia antes. O Governo Federal era proibido de investir em escola técnica. Proibido. Hoje, não. Hoje, nós criamos 436 escolas técnicas no Brasil. Institutos federais de educação e ensino técnico.

Chico Pinheiro: Muito obrigado, candidata Dilma Rousseff pela participação nessa longa entrevista aqui no Bom Dia Brasil.

Dilma Rousseff: Eu agradeço muito a vocês e espero ter assegurado o maior compreensão do telespectador sobre os nossos programas.

Ana Paula Araújo: Obrigada, candidata.

Miriam Leitão: Obrigada.

Dilma Rousseff: Obrigada a vocês.

Vamos agora esclarecer as dúvidas sobre números que foram levantados pela candidata Dilma Rousseff na entrevista que acabamos de exibir. Como afirmou Miriam Leitão, a taxa de crescimento projetada para a Alemanha neste ano, segundo a OCDE, é de 1,5%. A presidente Dilma se referiu ao crescimento na Alemanha no segundo trimestre deste ano, comparado ao segundo trimestre do ano passado, 0,8%. É um outro conceito, mas o dado também está correto.

Sobre o desemprego entre jovens de 18 a 24 anos, a taxa é mesmo de 13,7%, segundo a Pnad, tal como afirmou Miriam. Ou seja, 13,7% dos jovens nessa faixa etária que procuraram emprego não encontraram. A taxa, como disse Miriam Leitão, não registra aqueles que estudam e não procuraram trabalho.

Amanhã (23), o Bom Dia Brasil Exibe a entrevista com o candidato do PSDB, Aécio Neves.

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ANTONIO 22/09/2014

PORTAL G1 (GLOBO.COM) 12/08/2014 08h24 - Atualizado em 12/08/2014 08h33 Confiança do investidor alemão cai para menor nível em mais de 1 ano Dados foram divulgados pelo instituto de pesquisa ZEW nesta terça. Da Reuters

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