EXTRA GLOBO
Entre andaimes, grades por fixar e montes de cimento, o Maracanã fazia sua estreia em 1950. E no meio das 200 mil pessoas que se amontoaram para assistir o primeiro jogo estava Orlando Paoli. Os olhos do tijucano ficaram vidrados no campo, e a emoção se aflorou naquele memorável dia. Hoje, passados quase 63 anos, o ex-bancário, que é professor de ginástica calistênica há 47 anos, faz parte da história do próprio estádio.
— Eu estava com meu pai na arquibancada, quase no último degrau, de tão cheio o estádio. Para subir, nós fomos nos aparando na parede para não sermos prensados. Mas foi inesquecível e deu para ver tudo — contou o ex-militar, de 90 anos, que também foi árbitro de futebol por quatro anos.
Entre os anos de 1954 e 1958, o tijucano apitou três partidas como árbitro principal no Maracanã e outras tantas como auxiliar. Porém, a carreira foi breve, porque a família temia pela sua segurança.
— Tive que largar porque a cobrança era grande. Até meus colegas no banco reclamavam das minhas marcações — contou Paoli, que é botafoguense de coração.
Dedicação há 26 anos
Após se aposentar, o carioca foi convidado pelo presidente do Maracanã, em 1987, para dirigir o Parque Julio Delamare. Com o convite aceito, lá se vão 26 anos trabalhando diariamente no Maracanã, sendo que, desse tempo, foram 18 anos dedicados ao futebol. Foi o irmão mais velho de Zico, Antunes, que o convidou para ser coordenador de campo.
E foi a partir dessa época que muitas histórias surgiram. São tantas que ele nem se lembra da maioria delas. Mas uma marcante na sua vida aconteceu em um jogo, na qual ele defendeu nada menos que Romário.
— Duas vezes eu contive invasão de campo. Em uma delas, um elemento correu em direção ao Romário. Eu me antecipei e o abracei, evitando que ele chegasse perto do Baixinho — disse o professor, que trabalhou com o goleiro Barbosa, da Copa de 50. — A gente não conversava sobre o gol que sofreu. Quando se falava sobre o jogo, ele chorava — contou Paoli, uma lenda viva do Maracanã.
Sósia de Zagallo
No dia a dia, o professor Paoli muitas vezes ganha outra identidade. Fisicamente, ele é muito parecido com Zagallo, ícone do futebol nacional, e isso gera uma série de pedidos de autógrafos e fotos. O engraçado é que mesmo negando que ele seja o ex-treinador, ninguém acredita nas suas palavras.
— Já dei muitos autógrafos e tirei muitas fotos. Confundem muito. Uma vez, nos encontramos aqui no Maracanã e as pessoas começaram a nos chamar. Ele me disse: vai lá atendê-los. Pior que ninguém acredita que não sou ele — conta sorrindo.
E a história de Paoli e Zagallo começou em 1938, quando ambos jogaram juntos no time infantil do América. Enquanto o “sósia” era ponta direita, o futuro campeão Mundial jogava na esquerda. E a estreia da dupla foi com uma bela vitória diante do Vasco.
Mas o pai de Paoli não permitiu que o então garoto continuasse na carreira.
— Aos 16, eu entrei no time infantil do América. Joguei com o Zagallo e criamos uma grande amizade. Nós ganhamos o primeiro jogo juntos. Até o Afonsinho, que anos depois foi reserva do Garrincha no Botafogo, jogou conosco — falou.