THAIS BEMFICA
DO REPÓRTER MT
O publicitário Muryllo Rhafael Lorensoni, 34 anos, é o artista que dá vida a Muriel Lorensoni, a representante de Mato Grosso no concurso Miss Brasil Gay 2022. O evento será realizado em Juiz de Fora, Minas Gerais, no dia 20 desse mês. Hoje, além de dedicar-se a Muriel e ao título de Miss Mato Grosso Gay 2021, Muryllo é fotográfo e produtor de moda.
A personagem surgiu em 2017, enquanto ele fazia doutorado no programa de pós-graduação ECCO (Estudos de Cultura Contemporânea) da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), durante uma pesquisa sobre performance de gênero. "Uma professora do México e meu orientador sugeriram que eu fizesse uma imersão no tema e participasse do concurso, que eu experenciasse. Então, minha tese de doutorado versa sobre minha experiência como transformista no concurso Miss Mato Grosso Gay", relembra.
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Em 2017, Muryllo participou de seu primeiro concurso, ficando em terceiro lugar, mesmo sem experiência. Em 2021, ao retornar para o concurso, o publicitário venceu.“Nunca fui uma pessoa que sonhou em ser transformista, isso não fazia parte dos meus anseios, apenas aconteceu”, confessou.
Ainda assim, a personagem tornou-se tão grande, que atingiu um potencial inimáginável. "Mais que uma vaidade, uma particularidade, Muriel é uma potência, para lutar por aquilo que eu acredito, pelo direito de existir pelo direito de ser, e pelo respeito”.
Para ele, representar Mato Grosso em um concurso nacional, que trata questões da comunidade LGBT, é uma honra. “Enxergo que esse concurso é uma potência para que a gente traga para o nosso cotidiano assuntos relacionados a diferença, a diversidade e principalmente a arte transformista”.
Vencer o Miss Brasil Gay seria não apenas uma realização pessoal, como uma oportunidade de dar voz do transformismo. O concurso, que contará com sua 40ª edição, é símbolo de luta e traz, através da arte do transformismo, toda uma história. "Quando pensamos em um concurso de transformistas, que nasceu há mais 40 anos, estamos falando de um ato de muita coragem, e o seu idealizador, o cabeleireiro Chiquinho Mota, foi uma pessoa, de fato, à frente do seu tempo, que conseguiu construir algo gigantesco, no interior, em um momento que o preconceito ainda imperava. Então, o concurso tem história, tradição e mais do que isso: é um ato de resistência", explica.
Todavia, um ponto importante a ser destacado é que o transformismo não é um gênero, é uma performance, uma forma de expressão artística, e Muryllo destaca a necessidade de a sociedade conhecer essa arte. Para ele, os transformistas precisam ocupar espaços e essa forma artística seja desmistificada. "Acho que a maneira que temos para quebrar esse preconceito é exatamente aproximando as pessoas dessas formas de expressões artísticas, mas devemos ressaltar que o transformismo existe há muitos anos. No teatro, desde a década de 1920, há mais de 100 anos, já existia o transformismo, mas muito antes disso já existia, porque o transformismo não necessariamente seria esse homem performando como mulher, mas a capacidade de você se transformar em uma outra pessoa em uma outro personagem ou em outro gênero", pontua Lorensoni.
Apesar de ser uma personagem, Muryllo acredita que Muriel coabita seu corpo, dividindo valores, objetivos e lutas. "Ela olha as pessoas da mesma maneira que o Muryllo olha, com carinho com respeito com amor, é exatamente nesse ponto que Muryllo e Muriel se aproximam", comenta o publicitário.
Isso se concretiza com as diversas participações de Muriel em ações sociais em prol das crianças, da comunidade LGBTQIA+, dando a ela, inclusive, uma moção de aplausos da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT).
"Minhas expectativas para o concurso são as melhores, eu espero que de fato eu possa representar nosso estado de uma forma excelente. Estou me preparando para isso e tenho certeza que o evento será grandioso, eu conheci as outras meninas e todas são belas, lutadoras e com o objetivo de estar lá. Espero que cada uma que pisar naquela passarela brilhe, independente do resultado. Gostaria que todas saíssem felizes e satisfeitas, porque para mim isso é o espírito de uma comunidade, todo mundo poder aproveitar e vivenciar coisas que lhe dão prazer e lhe façam bem", conclui.
