METRÓPOLES
Nos primeiros anos de vida de uma criança, o cérebro faz mais conexões do que em qualquer outro período. Ao todo, são de 700 a 1.000 ligações por segundo. Quando ela chega aos três anos, tem uma mente duas vezes mais ativa do que a de um adulto. Todos esses estímulos ocorrem na fase da primeira infância, período compreendido de zero a seis anos.
“Esse momento é um dos mais importantes em termos de aprendizagem, pois é quando se constroem os caminhos da mente. Se uma criança for estimulada, vai aprender muito melhor ao longo da vida”, afirma o especialista Vital Didonet, membro da Rede Nacional da Primeira Infância.
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Pesquisadores e educadores acreditam que meninos e meninas com desenvolvimento integral saudável durante os primeiros anos de vida têm maior facilidade de se adaptarem a diferentes ambientes e de adquirirem novas habilidades.
“Sabemos que o investimento na primeira infância vai retornando ao longo da vida da criança, porque ela aprende mais todos os anos, se alfabetiza, etc.”, pontua a diretora-executiva do movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz. Levantamento realizado sobre o aumento das matrículas pré-escolares em 73 países concluiu que cada dólar empregado na primeira infância representa, no futuro, um aumento de US$ 6 a US$ 17 nos salários.
Diante da importância do tema, a Base Nacional Comum Curricular, ainda em fase de homologação, estabelecerá pela primeira vez o que cada criança de zero a seis anos tem direito de aprender nas escolas com propósitos separados por faixas etárias – 0 a 18 meses, 18 meses a 4 anos e 4 a 6 anos. Até então, essa fase não seguia qualquer orientação pedagógica formal.
Além do aprendizado previsto na fase escolar, a primeira infância compreende um conjunto de desenvolvimentos cognitivos, emocionais e físicos. Segundo Priscila Cruz, o Brasil ainda precisa criar uma boa política pública que englobe as áreas de educação, esporte, cultura, saúde e assistência social.
Didonet reforça a necessidade de elaborar um planejamento intersetorial com as áreas do governo e da sociedade para melhor atender as demandas da primeira infância. Segundo ele, quando se pensa sobre essa fase da vida é necessário levar em conta o contexto familiar. “Nesse período, tudo na criança é global. Ela aprende sempre o conjunto. Ou seja, a junção dessas áreas é o que a torna feliz e desenvolvida”, pondera o especialista.
Demanda por creches
Priscila explica que o maior impulso na fase de desenvolvimento educativo de uma pessoa ocorre até os três anos. Daí a necessidade de manter o estímulo por meio de creches. A lei brasileira estabelece a oferta dessas instituições como responsabilidade dos municípios. “A criança tem o direito a um espaço de educação mais amplo do que só o ambiente familiar”, ressalta Didonet.
Atualmente, a demanda ainda é muito grande por vagas em creches. De acordo com o Plano Nacional de Educação (PNE), até 2024 um total de 5 milhões de crianças deverão estar inscritas em instituições municipais ou conveniadas. Hoje, 3,4 milhões estão matriculadas.
“Para atingir a meta, teríamos de ter, no mínimo, 250 mil novas vagas por ano. Isso requer um planejamento sério e expansão da rede física”, alerta Didonet. Ainda há outras 400 mil crianças fora da pré-escola em regiões urbanas periféricas, áreas rurais, indígenas ou ribeirinhas.