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Cuiabá, 15 de Março de 2025
15 de Março de 2025

28 de Setembro de 2014, 14h:15 - A | A

POLÍTICA / DOADOR DE DILMA

Eraí afirma que PT foi o partido que mais apoiou agronegócio em MT

Eraí, que é primo do senador Blairo Maggi (PR), figura entre os principais doadores de campanhas eleitorais deste pleito

DA REDAÇÃO



O mega empresário Eraí Maggi (PP) afirmou em entrevista à Folha de São Paulo neste domingo (28) que nenhum outro partido político fez mais pelo agronegócio em Mato Grosso do que o PT.

À Folha, Eraí declarou que o setor do agronegócio tinha resistência em aceitar o governo do PT por medo de não obterem linhas de financiamento de crédito junto aos bancos, mas na prática a União teria beneficiado os produtores, sem se importar com o tamanho individual de cada empresário. Eraí é um dos doadores de Dilma Rousseff, com R$500 mil. 

“O agronegócio tinha uma resistência quando o PT entrou. O medo era que o PT iria acabar com tudo. Iríamos ser expropriados, perder prédios, terras, tudo. E foi o contrário. O governo entendeu que tem espaço para o pequeno e para o grande, e deu apoio aos dois”, afirmou Eraí.

No Estado, tanto o ex-presidente Lula, quanto a presidente Dilma Rousseff (ambos do PT) foram derrotados nas urnas nas últimas eleições.

Eraí, que é primo do senador Blairo Maggi (PR), figura entre os principais doadores de campanhas eleitorais deste pleito. Ele doou à Dilma R$ 500 mil, e o mesmo valor ao candidato a governador de Mato Grosso Pedro Taques (PDT).

Confira a íntegra da entrevista:

Com apoio, agronegócio perdeu o medo do PT

Para o 'rei da soja', governo entendeu que há espaço para grandes e pequenos produtores, e fortaleceu ambos

MAURO ZAFALON  - COLUNISTA DA FOLHA E TATIANA FREITAS DE SÃO PAULO

Defensor declarado da reeleição da presidente Dilma Rousseff, Eraí Maggi, conhecido como o "rei da soja", justifica a sua posição pela regularidade do apoio do governo ao setor, com crédito farto, juros baixos e até avanços na infraestrutura.

Para ele, o PT, que era visto como o grande inimigo do setor, acabou estimulando a expansão do agronegócio. "O governo entendeu que tem espaço tanto para o pequeno agricultor como para o grande. E deu apoio aos dois", disse Maggi à Folha.

Os próximos anos não serão tão favoráveis para os produtores como os recentes, mas ele encara com naturalidade o ciclo de baixa. "Tivemos anos bons e agora vamos queimar um pouco de gordura." Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Folha - O sr. declarou apoio à presidente Dilma nestas eleições. Por quê?

Eraí Maggi - É fácil entender. É só ver o quanto nós produzíamos e o quanto estamos produzindo agora. Como o governo vinha conduzindo o agronegócio e como conduziu nos últimos dez anos.

Comparar o endividamento do produtor, que, mesmo com os preços baixos, não vai ter que se desfazer de fazendas, como muitos parceiros fizeram no passado. Tivemos avanços na biotecnologia, com a liberação de novos produtos, e maior acesso à compra de máquinas. Tudo isso nos deu competitividade. Também tivemos a aprovação do Código Florestal, que nos tirou da ilegalidade.

Qual foi a importância do crédito agrícola nessa expansão?

O mais importante é que sempre houve constância no financiamento. Todos os anos o governo aumentou os recursos disponíveis e, com isso, toda a nossa indústria cresceu. Também reduziu as taxas de juros, que ficaram mais competitivas para a agricultura. Antes, eram um ou dois anos bons de crédito, mas depois não tinham mais recursos para o setor.

Mas o setor também foi favorecido pelo cenário externo.

Sim, tivemos seis, sete anos muito bons. Os preços estavam altos, mas tivemos boas condições para poder produzir. É um conjunto.

Então o governo petista foi o que mais apoiou o setor?

No Centro-Oeste isso é incontestável. Depois de 40 anos que estou na atividade, agora é que estão acontecendo as coisas. Nunca ninguém fez nada por nós. Era só o eixo Rio-São Paulo. Não se olhava para o interior, não se descentralizava. E, por não ter infraestrutura lá, nós congestionávamos as estradas e os portos do Sul e Sudeste. Levando logística para lá, ficamos mais competitivos, trazemos divisas para o país e geramos empregos na indústria de pneus, tratores, fertilizantes... Abrir a logística para o Norte é a solução, pois podemos dobrar a produção sem atrapalhar o Sul.

Por que boa parte do setor ainda tem resistência a Dilma?

O agronegócio tinha uma resistência quando o PT entrou. O medo era que o PT iria acabar com tudo. Iríamos ser expropriados, perder prédios, terras, tudo. E foi o contrário. O governo entendeu que tem espaço para o pequeno e para o grande, e deu apoio aos dois. Manteve o direito das terras. E quando veio essa segurança, houve mais investimentos. Mas alguns produtores não quebraram esse paradigma até hoje.

Mas não são todos os setores que estão tão bem assim.

É verdade. O pessoal do álcool é contra mesmo [o governo]. Eles não gostaram de sair do Ministério da Agricultura e ir para Minas e Energia. Foram disputar com petroleiro, aí não é justo. Produtor de cana é agrícola, mexe com a terra. Como fazer um comparativo de preço e equivalência com a gasolina? Quando você segura o preço da gasolina, segura também o do etanol. É preciso encarar o biocombustível como uma alternativa ecológica também. Agregar um outro valor ao produto, e a sociedade deve pagar um pouco por isso. Mas esse setor também se endividou muito lá atrás e não deu conta de se recuperar.

Mas a situação da economia não está piorando para todos?

É lógico que temos um probleminha econômico agora. Mas, quando você cresce muito, sempre vai ter que dar uma paradinha.

Como serão os próximos anos, com o ciclo de baixa nos preços das commodities?

Devido ao aumento de produção e de estoques, é obvio que vamos ter preços retraídos. Mas como estamos nesse negócio há quase 40 anos, sabemos que tem altos e baixos, sempre teve. E você deve estar preparado para isso. O que precisamos ter é produtividade e competitividade para aguentar esse momento. O produtor que avançou demais, com muito investimento, deve ter alguma dificuldade, sim. Mas do dia para a noite pode mudar tudo também. Podemos ter uma chuva, uma seca... O mercado vai se ajustar.

Os custos também se adaptam para baixo?

Tudo se adapta. Vai haver uma redução de margem para todos. Saem do mercado produtores ou países sem competitividade. Tivemos anos bons e agora vamos queimar um pouco da gordura.

E o câmbio, ajuda?

Eu entendo que o câmbio está achatado, está judiando do agronegócio. Agora está melhorando um pouco, mas tem que subir mais. Pelo menos a R$ 2,60. Os nossos custos são muito altos, de mão de obra, reposição de peças...

E o custo do trabalhador?

Está pesando. As leis trabalhistas são bem apertadas. São muitas exigências, sendo que o campo deveria ter uma lei diferente. Em um ano, são três meses de apuro. Um mês de colheita de soja, um mês de colheita de algodão e um mês de plantio. Nesse período, o funcionário tem que fazer uma hora a mais, e a legislação dificulta.

Como resolver isso?

A lei trabalhista para o campo tem de ser flexibilizada, para que ele trabalhe um pouco mais no plantio e na colheita. É diferente da indústria, onde o funcionário vai trabalhar todo dia, não interessa se está chovendo ou não. Para nós, tem mês que não tem nada para fazer no campo e o funcionário fica em casa. Na hora que tem que fazer uma horinha a mais ele não pode?

O que deve ser feito dentro da porteira para melhorar ainda mais a produtividade?

Às vezes falta comunicação para o produtor. Ele tem de olhar o que deu certo no vizinho e adaptar para a fazenda dele. Eu acho que essa comunicação é o que mais falta. Por parte do governo, é a lei trabalhista.

E fora da porteira?

Concluir as obras de logística, e as de ferrovias têm que andar mais. E melhorar nossas licenças ambientais, que estão travando o país. Esse é o maior entrave nosso.

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