facebook-icon-color.png instagram-icon-color.png twitter-icon-color.png youtube-icon-color.png tiktok-icon-color.png
Cuiabá, 14 de Setembro de 2025
14 de Setembro de 2025

15 de Setembro de 2016, 10h:15 - A | A

OPINIÃO /

PMDB: o ornitorrinco político

Esse enorme ornitorrinco é tão estranho que muda de Estado

EDUARDO MAHON



O ornitorrinco é um bicho engraçado. Trata-se, junto com a équidna, de raríssimo mamífero ovíparo do planeta. Bico de pato, corpo de foca, rabo de castor, o animal é um exemplo de como a evolução das espécies tem as suas idiossincrasias.

O PMDB é um ornitorrinco político. Nasceu da resistência concentrada contra a ditadura. Como havia espaço somente para o bipartidarismo, agasalhou numa única sigla gente da milícia armada e homens de diálogo que, após a redemocratização, tomaram novos rumos.

Esse enorme ornitorrinco é tão estranho que muda de Estado para Estado e admite em seu corpo gente de todo o tipo – dos multiprocessados Renan Calheiros e Jader Barbalho, aos muito honestos como Pedro Simon e Jader Vasconcelos. Em Mato Grosso, não é diferente. Silval Barbosa e companhia limitada eram o que o PMDB acreditava ser o melhor, tanto que o quadro do ex-governador ainda decora a sede da agremiação mato-grossense como inspiração política para os filiadosPara as eleições deste ano, o PMDB lançou Emanuel Pinheiro. Advogado, professor, de família tradicional, político experimentado, afeito ao diálogo. À primeira vista, é uma excelente opção. Mas se trata de uma candidatura na qual importa assumir o restante do corpo do ornitorrinco. O cacique Carlos Bezerra, o ex-governador Silval Barbosa e o deputado Valtenir Pereira são exemplos do bico, corpo e nadadeiras deste partido. Não vejo qualquer problema nisso.

O ornitorrinco não deve se achar estranho. Ele faz tudo o que os outros animais fazem para sobreviver. Mas não realiza nenhuma das atividades com destreza: não nada bem e não anda bem. Do meu ponto de vista, será assim a administração municipal do partido, caso eleito. Um excelente discurso sem saber onde arrumar recursos para fazer Cuiabá andar. Portanto, patinhará como um ornitorrinco. Claudicando em propostas de segurança, saúde e transporte público, o representante do PMDB promete o que o orçamento não permite. Pode ser uma das muitas características desse partido estranho – a cabeça não se coordena com as patas.

Para o PMDB, é mais do que natural ter alguém ao lado que bata e assopre, dependendo de quem se trate e de quem contrate. Por exemplo, há filiados que entraram na gestão da petista Dilma Rousseff, mas que continuaram na gestão seguinte do hoje arqui-inimigo Michel Temer, ou seja, tanto faz quem está à frente, desde que mantenha os cargos. O partido é tão excêntrico que produziu votos a favor do impeachment e contrários à inabilitação para função pública da ex-presidente condenada.

A fêmea do ornitorrinco não tem mamas. Mas os filhotes do PMDB sugam o resto que escorre, à procura de um um cargo. Os ornitorrincos adultos não têm dentes. Isso não impediu que alguns filiados mordessem e arrancassem nacos dos cofres públicos de Mato Grosso e outros tantos fizessem o mesmo nas altas esferas da administração pública federal. De fato, o ornitorrinco é um bicho gozado. Tal qual o PMDB. Acompanhe o nosso caso doméstico, por exemplo.

No dia 30 de julho, Emanuel Pinheiro declarou sobre o prefeito Mauro Mendes: “Cuiabá não merece alguém que se trancou quatro anos na prefeitura, faliu a saúde, comprometeu a educação”. Parecia oposicionista. Mas não era. No entanto, no dia 16 de agosto, o mesmo Emanuel Pinheiro deu uma guinada na crítica para contemporizar sobre Mauro Mendes: “É uma gestão que tem feito muito por Cuiabá; tenho orgulho de ter coordenado a campanha do atual prefeito e de ter feito parte da gestão municipal”.

Portanto, o candidato do partido-ornitorrinco assumiu a cara da agremiação – mudar de posição conforme ditam as pesquisas de opinião. A candidatura procura esconder o verdadeiro pensamento do candidato, como se um ornitorrinco tivesse vergonha do próprio bico. No dia 19 de agosto, Emanuel Pinheiro deixou registrado: “Fui coordenador-geral da campanha vitoriosa dele e sou partícipe de boa parte desse processo, das ações e políticas implementadas em Cuiabá”.

Mas, dias antes, dizia que o prefeito foi “omisso”, insinuando que os servidores públicos foram perseguidos e não valorizados. O prefeito Mauro Mendes (que não é bobo) percebeu que o gracioso cisne é, na verdade, um ornitorrinco. Sobre as metamorfoses políticas do candidato do PMDB, declarou: “há poucos dias ele fazia dezenas de discursos afirmando que nossa administração era arrojada e que eu era um prefeito empreendedor e realizador, almoçou e jantou em nossa mesa, dormiu em nossa cama, mas atravessou a rua e começou a falar mal”.

A campanha vai por aí, entre patadas e bicadas dolorosas. O ornitorrinco tem esporões venenosos. De vez em quando, dispara contra adversários. Mas depois, recolhe-se para se fazer de vítima. Os cientistas ingleses, pesquisadores de uma sagacidade singular, chamaram o ornitorrinco de “embuste”, assim que viram o bicho pela primeira vez. É um pato? É uma foca? É um castor? Nada disso. É apenas mais um espécime do multifacetado PMDB em ação.

Eduardo Mahon é advogado.

>>> Siga a gente no Twitter e fique bem informado

Comente esta notícia