Os valores da democracia tais como divisão dos poderes, igualdade entre as pessoas e liberdade de expressão são incontestáveis. Entretanto é possível fazer alguns reparos sobre a forma de escolha dos parlamentares e governantes através do voto universal. Os resultados obtidos até hoje no Brasil não recomendam essa forma de seleção dos candidatos.
Durante a interrupção da democracia com o golpe militar em 1964 o processo eleitoral ficou comprometido. Findado esse período de desalento havia uma esperança de novos tempos quando, devolvida a liberdade de voto, a realidade política iria mudar.
Mudou mesmo, para pior. Passados mais de trinta anos com eleições livres não se percebe nenhuma melhora ética dos nossos representantes no legislativo e no executivo.
Exemplos não faltam. O primeiro escolhido como Presidente da República pelo “voto sagrado” na nova era democrática, Fernando Collor, envolveu-se até o pescoço nas safadezas e foi afastado. Voltou como senador, mas não perdeu a balda: está novamente processado por corrupção.
Tem ainda o Lula, eleito quatro vezes – sim, Dilma era ele no poder – está em Curitiba, porque pegou tanto amor pelo Moro, que não pode ficar longe dele. Também não esqueçamos do impeachment da Dilma e que o Temer, a julgar pelas denúncias, pode fazer companhia ao Lula quando terminar o mandato.
Depois vem a turma dos governadores presos ou vigiados por vistosas pulseiras: Piccinelli de MS e o paraense Jader Barbalho; Queiroz e Arruda do DF e o nosso conhecido Silval; Cabral, Garotinho e Rosinha a trinca fluminense; o mineiro Azeredo e o Maluf em São Paulo. Esta semana prenderam o Beto Richa do Paraná e botaram, de novo, o PSDB e o Mato Grosso do Sul na berlinda com a operação da PF em cima do governador Azambuja. São quatro presidentes e 12 governadores, fora os que devo ter esquecido, com os quais me desculpo pela injustiça.
Lembremos ainda o Cunha, presidente da Câmara dos deputados, Maluf (de novo, agora como deputado), Picciani da Assembleia do Rio, Riva, o famoso multiprocessado e dezenas que outros que tem em comum o fato de terem sido eleitos e reeleitos pelo povo sábio, respaldado pela sagrada democracia.
A Casa dos Horrores de Cuiabá é uma amostra do que são as Câmaras de Vereadores do país e a Casa do Espanto de Mato Grosso por certo reproduz a imagem de todas as Assembleias Legislativas brasileiras.
Os presidentes e governadores presos ou processados; os deputados e senadores eleitos e reeleitos a despeito das alentadas “capivaras” e a intenção de voto no presidiário Lula ( 40%) atestam que não nos importamos nem um pouco com a ética de nossos representantes.
Se insistirmos na tese de que o voto universal é imexível devemos estar preparados para mais cem anos de convívio com tipos como Collor, Lula, Renan e Maluf dirigindo nossas vidas.
RENATO DE PAIVA PEREIRA é empresário e escritor