“Meu Deus! Meu Deus! Seu eu chorar não leve a mal/ Pela luz do candeeiro/ Liberte o cativeiro social...” Todo mundo – seja rico ou seja pobre, de esquerda ou de direta, amarelo ou vermelho – ficou deveras emocionado e até chocado ao ouvir esse samba enredo da Escola Paraíso do Tuiuti
Muita gente, sensibilizada, chorou e se sentiu representada naqueles símbolos e significados que, criativamente, denunciavam os descasos na política, as injustiças sociais, a impunidade jurídica e o retrocesso legislativo no Brasil; sobretudo no que diz respeito aos direitos sociais do cidadão, frente às medidas econômicas amargas adotadas pelo governo de Michel Temer (PMDB, agora o atual “MDB”).
Milhões de pessoas compartilharam vídeos e recadinhos sobre a passagem marcante da Tuiuti pelo sambódromo da Marquês de Sapucaí. Nas redes sociais o que mais se via eram mensagens, como: “ Ah! O desfile da Tuiuti lavou a alma do povo brasileiro!”. Ou então: “Foi emocionante ver tantas críticas feitas ao governo de forma carnavalesca”, dizia a internauta.
Já outros, fuzilavam os teclados dos celulares pelo Brasil afora revelando que a rede globo ficou desmoralizada ao transmitir o "presidente" fantasiado de vampirão neoliberal. Este sambando impunemente lá no topo do carro alegórico (simbolizando o país da corrupção) com o dinheiro das propinas das empresas da JBS.
Sem falar nos fantoches caracterizados de patinhos amarelos vistos durante as manifestações no Brasil, desde os protestos de junho de 2013; muitos deles convocados pelo Movimento Brasil Livre (MBL) e o movimento Vem Pra Rua. Ambos esses apontados como sendo “patrocinados” pelos rentistas da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), líderes do PMDB, PSDB e cia que, segundo a mensagem implícita da escola de samba, utilizaram-se do discurso sobre a corrupção (à época para fundamentar o golpe) apenas como pretexto a fim de atingir seus objetivos políticos.
Ou seja, aprovar o pacote de ajustes fiscais, a reforma trabalhista e a lei de terceirização; já que todas essas leis alteraram significativamente diversos artigos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o que também ficou caracterizado durante o desfile nas alas das fantasias de carteiras de trabalhos e dos escravos da modernidade.
Sim! A escola merece ser aplaudida de pé, pois tudo isso não deixa de aprimorar e acentuar a consciência política do povo brasileiro. Porém, a pergunta que não quer calar é....E depois?
O gigante voltará a dormir em meio à ressaca moral? Em meio ao caos generalizado da insegurança pública? Em meio às inúmeras notícias sobre os acordos feitos na calada da noite pelos cantos do Congresso Nacional, para aprovarem a reforma da previdência a toque de caixa? Em meio à indecorosa impunidade que impera no país enquanto uma quadrilha de corruptos ainda continua solta e mutilando a Constituição Federal, bem como dilapidando o que resta do patrimônio público brasileiro
Ou Nação vai acordar de fato, organizar-se democraticamente, protestar para resgatar os direitos dos cidadãos e cobrar um posicionamento da Justiça diante dos casos de corrupção? Já dizia o pensador: “ Não adianta olhar pro céu, com muita fé e pouca luta/ Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer e muita greve, você pode, você deve, pode crer/ Não adianta olhar pro chão, virar a cara pra não ver/ Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus sofreu não quer dizer que você tenha que sofrer”.
Marcelo Ferraz é jornalista e escritor.