ONOFRE RIBEIRO
Embora os números por si só indiquem que a questão é complexa, o tratamento que tem se dado é meramente burocrático.
A Polícia prende, a Justiça solta, como se ambos fossem inimigos entre si ou vivessem em continentes diferentes. Aqui surge o primeiro dos inúmeros problemas: os feudos de poder.
Polícia Militar, Polícia Civil, Ministério Público, Poder Judiciário e Sistema Prisional são feudos independentes de poder e se comunicam precariamente.
Ou, se desgostam publicamente. Contudo, são pagos com os impostos públicos arrecadados da população, a maior vítima da violência generalizada.
Só essa relação cheia de ruídos, de interesses e de burrices, bastaria para justificar as mortes registradas. Mas tem mais ainda.
A motivação da criminalidade começa na fronteira com a Bolívia, passa pelas cidades na forma de um grande negócio de compra e venda de drogas, de compra e venda de armas, do financiamento do negócio via assaltos a bancos roubo de carros, de cargas e de estabelecimentos comerciais.
Na verdade, o chamado crime organizado que é a moldura de tudo isso, não é exclusividade de Mato Grosso.
É uma organização nacional, com articulação internacional poderosíssima, passando por cartéis, por grupo políticos e por grupos econômicos.
A morte do coitado lá na ponta é apenas a parte visível de uma cultura crescida dentro do Brasil.
Muito além de uma simples ocorrência de natureza policial, esconde um mundo poderoso e articulado.
O coitado morto lá no bairro é só o sinal visível de que alguma coisa está funcionando à margem.
O mais, são delírios de que a ordem pública se resolve só com a polícia na rua. Ela também é vítima! A primeira na cadeia de responsabilidades!
ONOFRE RIBEIRO é jornalista em Mato Grosso
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