RENATO DE PAIVA
O desfecho esperado da mais demorada greve das universidades federais, cuja duração enche de orgulho alguns dirigentes e sindicalistas, parece indicar que chegou a hora do professorado universitário rever a confiança que tem em seus líderes.
Sim, porque foram eles, eu creio, os idealizadores desse nefasto movimento.
Usando retórica manjada e reconhecido poder de persuasão conseguiram cooptar os demais docentes, ou a maioria deles, para um movimento totalmente intempestivo.
Provavelmente nem convenceram a maior parte, mas a maioria dos que se dispuseram a comparecer às reuniões onde se decidem as greves.
Muitos professores devem ter aceitado por gravidade, simplesmente não oferecendo resistência. Deixaram-se levar, contando com a possível vantagem, que de fato não veio.
Tanto é verdade que alguns poucos decidem as propostas, que à última assembleia só compareceram 76 pessoas, das quais 6 votaram a favor da continuidade do movimento.
Estava claro desde o princípio, sem entrar no mérito da reivindicação, que o momento era absurdamente impróprio para a paralisação, pois os salários estão diminuindo no país inteiro e as finanças públicas dilapidadas por uma administração totalmente errada do partido que conta com a maioria da preferência dos professores.
É muita ingenuidade dos dirigentes esperar e exigir uma reposição salarial de 27% em momento tão inoportuno.
Talvez nem seja tanta ingenuidade, mas sim o prazer vaidoso dos líderes de estar sempre presidindo reuniões, dando entrevistas ou aparecendo na televisão, o que só conseguem em momentos de paralisação dos docentes.
Mostraram-se maus estrategistas empurrando os colegas para um movimento que não tinha nenhuma chance de sucesso.
Foram ainda inconsequentes ao insistirem no erro por tanto tempo, prejudicando toda a comunidade acadêmica. Irresponsavelmente privaram os alunos de 4 meses de aulas, cujo conteúdo nunca será reposto como sempre aconteceu em greves anteriores.
Não dá pra justificar essa greve, pois o funcionalismo público é uma classe privilegiada no país.
Além dos ganhos maiores que a média geral dos trabalhadores aposentam com o salário integral e gozam de estabilidade que os outros empregados não têm.
Não se discute, claro, a importância do professor na formação de uma sociedade, mas não se deve romantizá-lo nem idealizar sua função.
Como qualquer outro trabalhador ( bancário, advogado, médico, contador etc) ele faz uma troca com a comunidade oferecendo seu conhecimento e trabalho e recebendo por isso.
Tanto mais valerá quanto melhor for o produto que oferece.