PEDRO NADAF
Você já caiu ou conhece alguma pessoa que caiu no famoso conto do vigário? Quando eu era criança ouvia sobre este conto, que não tinha nada de infantil. Na vida adulta percebi que a cada dia aumenta a ousadia de quem pratica atos ilícitos, mexendo com a ingenuidade das pessoas e colocando, inclusive, nomes de pessoas ilustres em seus golpes marcados pela esperteza.
Recentemente um relato de golpe do vigário, ocorrido na capital do país, me chamou bastante atenção. Um bandido que se passava por bispo, da igreja evangélica, resolveu aplicar o golpe numa figura ilustre, uma senhora de mais de 80 anos, que ele simplesmente conheceu ao assistir uma entrevista pela internet, quando a mesma estava em Nova Iorque, na ONU, numa atividade social. Veja bem como funcionou a cabeça do golpista, que se dizia chamar Bispo Alessandro.
Ele manteve contato com a organização que a enviou para Nova Iorque e descobriu o seu endereço. Estudou mais de um ano todos os passos da mesma, até manter contato, se passando por bispo que estava fazendo um trabalho em uma ONG. Apartir do contato começou a cercar a vítima, mostrando-se solícito, dando ideias para construção de uma sociedade melhor.
Quando a senhora estava encantada, passou a ser seu amigo número 1. Um belo dia, alegando que precisava de uma conta para receber dois créditos via TED, solicitou a ela se podia ajudar para receber o recurso. Para resumir a história, ela emprestou a conta, e simplesmente os DOCs na realidade eram referentes a 2 empréstimos que totalizaram R$ 130 mil, que o mesmo fez em nome da vítima para descontar na sua aposentadoria, que era considerável.
Um dos empréstimos referia-se à compra de veículo. A senhora, na maior boa fé, viu na conta dela o recurso, e constatou que realmente havia o depósito e repassou todo dinheiro em conta para o vigarista. Somente 15 dias depois o golpe foi descoberto e a Polícia Federal, por uma foto, que ele tirou com a vítima numa embaixada, descobriu que na realidade se tratava de um senhor de nome Hélio Flores, que, aliás, era conhecido por já cometer golpes pelo Brasil, inclusive em Mato Grosso. O falso bispo ao aplicar o golpe do vigário, ao que tudo indica, se deu mal, mas a anciã está com uma dívida de mais de R$ 100 mil para resolver.
Escrevi este artigo relatando tal fato, dentre os inúmeros que conheço envolvendo personalidades públicas, porque foi um dos que mais me impactaram, por usar a inocência de pessoas idosas que têm influência pela prática do bem. Onde nós estamos? E por falar nisso, vale destacar que uma das explicações para o nome conto do vigário, foi dada pela pesquisadora Denise Lotufo.
Relata a pesquisadora que no século XIX, um golpe aplicado ocasionou na má fama dos vigários em Portugal. Isso porque, “malandros chegavam a cidades desconhecidas e se apresentavam como emissários do vigário. O grupo afirmava que tinha uma grande quantia de dinheiro numa mala que estava bem pesada e que precisaria guardá-la para continuar viajando. Mas, como garantia, solicitavam aos moradores da cidade uma quantia de dinheiro para viajarem tranquilos. E assim desapareciam. Quando a população abria a maleta descobria um monte de bugigangas sem valor”. Com isso os vigários ficaram com má fama. Vejo que em pleno século XXI estes golpes podem manchar imagens de líderes evangélicos. Afinal, ao invés dos emissários dos vigários, os bandidos já buscam promoção de cargo.
Agora temos que tomar cuidado não só com o golpe do vigário, mas também com o do bispo Alessandro e outros bandidos que podem estar soltos pelo país. Pense nisso e fique em alerta, todos nós de uma forma ou de outra podemos ser vítimas.
*Pedro Nadaf é secretário de Estado de Indústria, Comércio, Minas e Energia; e presidente do Sistema Fecomércio/Sesc/Senac-MT