VICENTE VUOLO FILHO
O nosso Mato Grosso sempre foi conhecido como um Estado rico. Rico em ouro, madeira e agora com o agronegócio. Mas, a pergunta que se faz é: existe distribuição dessa riqueza? Evidente que não! Os ricos continuam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.
Tudo isso acontece, porque existe uma "Cortina de Ouro" que serpenteia Mato Grosso, dividindo entre ricos e pobres as populações de cada município, que de tão desiguais já começaram a perder o sentimento de semelhança. Ou seja, constatamos a existência de dois mundos: um preparado para os novos modelos mundiais de desenvolvimento e o outro marcado pela exclusão social, que ocasiona a falta de legitimidade política do Estado, a fragilidade de suas instituições e os consequentes problemas de governabilidade.
Há um crescente descompasso entre o que a sociedade almeja e o que os governantes impõe ou acreditam que seja correto. Por exemplo, os que podem mais, não pagam impostos. Os privilegiados do agronegócio especulativo que não pagam ICMS, e causam um rombo gigantesco nos cofres públicos. Uma estrutura agrária nefasta expulsa as famílias das terras e obriga homens, mulheres e crianças a viverem debaixo de lonas de plástico preto na beira de estrada de nosso rico Estado.
A verdade é que continuamos a assistir a exclusão social das oligarquias latifundiárias, do caciquismo violento, de elites políticas restritas e racistas, uma narrativa que remonta ao Brasil colônia e que se reproduz sob formas sempre mutantes até hoje.
A realidade do campo brasileiro carrega uma herança histórica trágica, e mesmo assim, a agricultura familiar ainda consegue se estabelecer apesar da crescente pressão do agronegócio. Incentivar iniciativas que apóiem a agricultura familiar, a agrobiodiversidade, o pequeno produtor e seu manejo tradicional com baixo impacto ambiental devem ser prioridades do Estado. São iniciativas que geram resultados sociais, ambientais e econômicos com valor real, fazendo justiça ao histórico de exclusão presente no campo brasileiro.
O segmento familiar do agronegócio brasileiro responde por cerca de 10% do PIB e pode crescer mais. No país, a agricultura familiar representa 77% dos empregos agrícolas e é responsável pela produção de 70% dos alimentos. Promover agricultura familiar é fazer a escolha por uma economia que gera riqueza, que também é moderna e que faz todas as pessoas enriquecerem, não só uma minoria.
Apesar de ter menos terras, a agricultura familiar tem menos recurso público como suporte de suas atividades. Recebeu cerca de 13 bilhões de reais em 2008 contra cerca de 100 bilhões do agronegócio. Portanto, essa carente agricultura tem peso econômico, social e uma sustentabilidade muito maior que os grandes empreendimentos.
Preservar esses agricultores é preservar o "saber plantar com respeito a natureza". Se um dia eles desaparecerem, o povo brasileiro na sua totalidade sofrerá com essa ausência. Para que eles se mantenham no campo são necessárias políticas que os apóiem ostensivamente, inclusive com subsídio, como faz a Europa.
Do contrário, se dependermos do agronegócio, vamos comer soja, chupar cana e beber etanol.
VICENTE VUOLO é economista