MARIANA RAMOS
No período pós-parto, é comum que a mulher experimente alterações físicas e emocionais intensas. Entre noites mal dormidas, amamentação e as novas responsabilidades com o bebê, muitos sintomas acabam sendo considerados “normais”. No entanto, nem sempre o cansaço extremo, a irritabilidade, a ansiedade ou a apatia são apenas reflexo da maternidade: podem indicar tireoidite pós-parto, uma condição muitas vezes subdiagnosticada.
A tireoidite pós-parto é uma inflamação da glândula tireoide que ocorre em até 10% das mulheres após o nascimento do bebê. Ela costuma surgir nos primeiros seis meses após o parto e pode passar despercebida, justamente por seus sintomas se confundirem com os do “baby blues”, da depressão pós-parto ou da simples sobrecarga materna.
A tireoidite pós-parto pode se manifestar em duas fases distintas:
- Fase inicial hipertireoidiana (geralmente nas primeiras semanas): ansiedade, irritabilidade, insônia, perda de peso, palpitações, sudorese excessiva.
- Fase posterior hipotireoidiana (após 2 a 6 meses): fadiga intensa, tristeza, sonolência, dificuldade de concentração, constipação e queda de cabelo.
Esses sintomas, por sua semelhança com os quadros emocionais pós-parto, muitas vezes são atribuídos ao estresse da maternidade, retardando o diagnóstico e o início do tratamento adequado.
Alguns fatores aumentam o risco de desenvolvimento da tireoidite pós-parto:
- Histórico pessoal ou familiar de doenças autoimunes
- Diabetes tipo 1
- Presença de anticorpos antitireoidianos durante a gestação
- Partos múltiplos ou anteriores com diagnóstico de tireoidite
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico é clínico e laboratorial. Um endocrinologista pode solicitar exames de sangue para avaliar os níveis de TSH, T3, T4 livre e anticorpos antitireoidianos (anti-TPO). A ecografia da tireoide também pode ser útil em alguns casos para avaliar a inflamação da glândula.
É importante lembrar que, se não tratada, a tireoidite pós-parto pode evoluir para um hipotireoidismo permanente.
O endocrinologista é o profissional capacitado para investigar alterações hormonais e diferenciar um quadro emocional de uma disfunção da tireoide. Com um diagnóstico preciso, o tratamento pode incluir apenas acompanhamento clínico ou, se necessário, medicação para estabilizar os hormônios tireoidianos.
Por ocasião do Dia Mundial da Tireoide, celebrado em 25 de maio, reforçamos a importância do cuidado com a saúde hormonal da mulher, especialmente no período pós-parto. Estar atenta aos sinais do corpo e buscar ajuda especializada pode fazer toda a diferença na qualidade de vida da mãe — e, consequentemente, na saúde e bem-estar do bebê.
Cansaço excessivo não deve ser normalizado. Pode ser tireoide. Pode ser tratado.
Dra. Mariana Ramos é médica endocrinologista na Fetal Care, em Cuiabá (MT)
