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Cuiabá, 05 de Julho de 2025
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15 de Dezembro de 2013, 12h:35 - A | A

NACIONAL / NELSON MANDELA

Após dez dias de homenagens, África do Sul enterra ‘pai Mandela’

No país de Madiba, tristeza se mistura com felicidade por ele ter existido

G1



Diz um provérbio sul-africano que quando um grande homem morre, ele não vai sozinho. Significa que a morte de alguém importante carrega com ela outras almas que servem de "travesseiro" para a passagem e que o protegem. Se assim for, Nelson Mandela levou com ele o espírito de toda uma nação – e de boa parte do planeta.

Com uma história de vida que virou filme, livro e exemplo, Mandela conseguiu unir uma nação dividida entre brancos e negros e fazer os sul-africanos acreditarem que poderiam ganhar o jogo – e assim construir um país melhor. A impressão que se tem, observando as despedidas para Mandela nas ruas, é que, pelo menos para a África do Sul, vale a letra de uma das canções mais entoadas nesses últimos dez dias de homenagens: "não há ninguém como ele".

Desde o dia 5, quando o líder morreu, aos 95 anos, o país lamenta a perda celebrando a vida. O nome de Mandela aparece entre as afinadas cantorias pelas ruas, em fotos e quadros exibidos em lojas e hotéis, estampado em camisetas, faixas e outdoors de Johanesburgo e de Pretória – por onde passou a reportagem do G1.

Entre as falas das pessoas sobre Madiba (nome do clã de Mandela e como ele é conhecido), as palavras mais presentes são "pai" e "libertador". De fato, para a enorme maioria negra do país – 75% da população – Mandela representou o fim de um regime segregacionista que impôs, a quem não era branco, restrições para viajar, estudar, andar e existir como cidadão. Por 46 anos.

As três despedidas de Madiba

O atual governo, liderado pelo Congresso Nacional Africano (CNA), partido de Mandela, organizou três cerimônias oficiais para o adeus ao líder. A primeira, um memorial no estádio onde ocorreu a final da Copa do Mundo de 2010, em Johanesburgo, decepcionou a população exultante que pegou os primeiros trens da manhã de um dia normal de trabalho – havia uma dúvida sobre a possibilidade de ser decretado feriado nacional, o que não ocorreu.

O estádio com capacidade para 90 mil pessoas – e ocupado quase até a metade – vibrava com músicas típicas e danças antes do início da cerimônia. Mas o que era para ser uma celebração do povo foi na verdade uma repetição de discursos formais – com a cereja do bolo ficando com o falso intérprete da língua dos sinais.

Alguns discursos foram ovacionados – como o do presidente americano, Barack Obama, e surpreendentemente o do secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon. Outros não foram sequer ouvidos – como a fala da presidente Dilma Rousseff, traduzida para o inglês num volume inaudível.

Já o presidente do país, Jacob Zuma, enfrentou talvez sua pior humilhação desde que foi eleito, com vaias quase unânimes – uma mostra da popularidade em queda após escândalos de corrupção que dividem o partido.

A segunda despedida foi a exibição do corpo na sede do poder Executivo, em Pretória. Por dois dias e meio, em horário comercial de quarta a sexta, os sul-africanos puderam tentar um lugar na enorme fila que se formava para passar caminhando – parar era proibido – por Mandela. Mas, segundo as contas do governo, apenas 100 mil conseguiram. Uma amostragem pequena para a vontade dos admiradores do "libertador".

O último adeus foi neste domingo, pela TV. O enterro de Mandela ocorreu em Qunu, o pequeno vilarejo onde ele cresceu. Esperava-se uma peregrinação de pessoas pela estrada, mas no fim poucos se animaram a ficar embaixo do sol forte quando o mais perto que se poderia chegar da tenda era a quilômetros de distância.

Esta segunda-feira (16) é feriado na África do Sul, data em que se relembra a Batalha do Rio Sangrento, entre os boers e o Império zulu no século XIX. Foi o dia escolhido pelo "Mandela-radical" para lançar sua luta armada contra o Apartheid em 1961, antes de ser preso. Também foi a data em que o "Mandela-paz-e-amor" adotou como Dia Nacional da Reconciliação depois de libertado e eleito presidente. E será, nesta segunda, o primeiro sem o homem Mandela.

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