KARINE ARRUDA
DO REPÓRTERMT
“Ser mãe é a coisa mais importante que faço da minha vida”. É com essa certeza no peito que a jornalista Keka Werneck, de 54 anos, resume sua trajetória como mãe. A história de Keka se assemelha a de várias outras mamães pelo mundo afora, que mesmo marcadas pela dor do luto, conseguiram se superar e continuar oferecendo o amor mais profundo e sincero que um filho pode receber. Entre tantos desafios e perdas, um novo recomeço surgiu por meio da adoção.
Mineira de nascimento, mas moradora de Mato Grosso há mais de 30 anos, Keka é mãe de três filhos: a Helena, de 25 anos; a Clarice, que faleceu quase no final da gestação, mas que se estivesse viva teria 12 anos; e o João Miguel, de 7 anos, adotado com um aninho de idade.
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“Desde que eu me entendi como mulher, eu sempre quis ter filhos, mas isso demorou um tempão. Desde que me vi como mãe até a gestação da minha primeira filha se passaram 10 anos”, contou com exclusividade ao .
Arquivo pessoal

A primeira gestação, de Helena, veio acompanhada de complicações.
A primeira gestação, de Helena, veio acompanhada de complicações. Keka teve pré-eclâmpsia, uma condição grave de pressão alta na gravidez, e precisou passar por uma cesariana de emergência. Helena nasceu prematura, com 7 meses, e precisou ficar 26 dias internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Mesmo tendo ficado traumatizada com a primeira gravidez, Keka sentiu algo tão profundo no coração que nenhum outro acontecimento jamais traria isso novamente.
“A primeira vez que eu peguei ela nos meus braços foi no Dia das Mães. Foi um momento muito marcante pra mim. Eu me lembro que nunca senti no meu coração algo tão profundo. Eu fiquei bastante assustada se ela iria resistir ou não, mas ela resistiu e aquele momento foi um presentão de Dia das Mães”, lembrou.
Após o susto da primogênita, Keka não quis nem pensar na possibilidade de uma nova gravidez, apesar de ter gostado da experiência. Contudo, o caminho dela já estava traçado ao encontro de Clarice e João Miguel.
Anos mais tarde, já com seu atual marido, que ainda não era pai, ela engravidou novamente, desta vez da pequena Clarice: “Eu engravidei durante uma troca de anticoncepcional. Só que eu já sabia que tinha alguns problemas devido à gravidez da Helena. Tanto que fiz uma dieta restritiva, sem sal, sem açúcar, sem nenhum tipo de refrigerante ou qualquer alimento que fizesse subir a pressão”, recorda.
Com os problemas já existentes, Keka precisou ficar internada por 12 dias para tentar manter a gestação de Clarice, que ainda estava muito prematura. A pequena sobreviveu até o sexto mês e, no 12º dia de internação, acabou falecendo na barriga da mãe: “Quando ela faleceu, eu falei: nossa, foi um processo extremamente doloroso e difícil. Eu sai sem a minha filha, que nasceu através de um parto normal induzido”.
Porém, mesmo com todo o sofrimento da perda, Keka considerou o parto normal um momento transformador: “Achei um negócio muito lindo, apesar de toda a circunstância. Eu sou defensora do parto normal por causa disso. A cesariana, quando é necessária, salva vidas. Mas o parto normal é um negócio que deixa a gente numa energia tão originária, é algo cósmico e animal, me senti potente apesar da circunstância terrível”.
Arquivo pessoal
Keka adotou João Miguel quando ele tinha apenas um aninho.
Passado alguns anos, vivendo a dor do luto, Keka transformou o sofrimento em esperança, dando lugar a um novo recomeço: a adoção.
“O meu esposo não tinha sido pai ainda e, embora isso não fizesse diferença para nós no começo do nosso namoro, quando eu engravidei da Clarice, acabou despertando esse desejo nele e a perda dela foi muito dura. A gente chorou muito juntos”, disse.
Foi assim que começou o caminho para o parto mais longo de todos, mas também o mais seguro. Após um curso preparatório e cinco anos na fila de espera, o telefonema do Judiciário chegou e João Miguel, com apenas um aninho de idade, já estava à espera de uma nova família.
Monocular, ou seja, enxergando apenas de um olho, João já havia sido rejeitado duas vezes, a primeira pela família biológica e as demais pelos outros casais que aguardavam na fila da adoção. O que para muitos era motivo de abandono, para Keka era o simbolismo perfeito de que ele havia nascido para ser dela.
“Depois do telefonema do Judiciário, nós fomos conhecer o João. Nos apaixonamos por ele. Embora demorado, foi um processo muito seguro. Só acho que tinha que ser menos moroso, porque a criança é quem mais sofre esperando”, avalia.
Arquivo pessoal

"Ser mãe é a coisa mais importante que faço da minha vida”, destaca Keka.
Hoje, Keka diz que viveu três formas de parto: o cesáreo, que salvou sua vida e de Helena; o normal, que a conectou com a ancestralidade feminina por meio de Clarice; e o adotivo, que ela define como emocionante e engrandecedor. “Esses são alguns dos esforços que boa parte das mães fazem pelos filhos. Elas dão tudo de si”.
Por fim, a jornalista faz um alerta: “A maternidade tem que ser uma escolha. Muitas mulheres são pressionadas pela sociedade para serem mães e isso gera uma expectativa errada. O corpo da mulher é dela, ela quem precisa decidir se ela quer ser mãe ou não. Ter filho é um projeto para vida toda, dá trabalho, exige afeto, saúde, educação, formação cultural. Não é fácil”.
Para as mamães que chegaram até aqui, um Feliz Dia das Mães. Saibam que dentre tantas imperfeições, erros e dificuldades, seu empenho é único. E é graças a esses pequenos erros que vêm os acertos. “A gente erra muito. Não tem perfeição. É de erro em erro que seguimos em frente e posso te dizer com toda a certeza: ser mãe é a coisa mais importante que faço da minha vida”, finaliza Keka.