CELLY SILVA
DA REDAÇÃO
Ontem foi aniversário de Ícaro, ele completou 21 anos de vida. Mas ele não está comemorando, sequer está com sua família. O que esse número representa: 21 anos, a mesma idade que seu irmão, Eric, tinha quando morreu, no dia 27 de dezembro de 2014, vítima de latrocínio, em Sinop. Após sair de uma casa noturna, o jovem foi sequestrado, levado para a mata, amarrado e brutalmente assassinado com um tiro na nuca. Mesmo depois de presos, os bandidos se recusavam a revelar o local onde deixaram o corpo, encontrado dias depois.
Os pais de Éric percorrem cidades de todo o Brasil em busca de assinaturas que fortaleçam o projeto de lei nº 353/2015, do deputado federal Major Olímpio (PMB/SP) que visa aumentar a pena de latrocínio
O crime destruiu a vida também da família de Éric. No aniversário de Ícaro, seus pais Leonildo e Soely Severo estavam em Cuiabá continuando uma luta por Justiça que já dura mais de um ano. Eles percorrem cidades de todo o Brasil em busca de assinaturas que fortaleçam o projeto de lei nº 353/2015, do deputado federal Major Olímpio (PMB/SP) que visa aumentar a pena de latrocínio (roubo seguido de morte) de 30 para 50 anos. Isso porque a legislação atual, criada em 1941, leva em consideração a expectativa de vida das pessoas, que na época era e 43 anos. Hoje a pessoa vive em média mais do que 70 anos, o que torna justa equiparação da pena.
A mãe de Eric e Ícaro, Soely Severo, faz uma comparação entre o que ocorre após um latrocínio: enquanto ela e sua família choravam a perda do filho e até hoje gastam todos os recursos em busca de Justiça, os bandidos que mataram seu filho, ao serem presos e apanharem na cadeia, receberam todo o apoio de uma equipe de médicos, dentistas e até psicólogos.
“Olha o que um bandido faz com uma família: destrói a família, destrói um jovem que estudava medicina, destruiu a vida do Ícaro, que queria cursar direito na federal e agora vai buscar transferência pra voltar e tentar nos ajudar porque nós nos arrebentamos", desabafa a mãe.
“Olha o que um bandido faz com uma família: destrói a família, destrói um jovem que estudava medicina, destruiu a vida do Ícaro, que queria cursar direito na federal e agora vai buscar transferência pra voltar e tentar nos ajudar porque nós nos arrebentamos. Meu filho recebeu pena de morte”, declara Soely.
Para o pai, dói saber que tudo o que aconteceu fica resumido a estatística. Em 2014, cerca de 56 mil pessoas morreram vítimas de latrocínio no Brasil. “Ele estava numa perspectiva maravilhosa, não é porque era medicina, mas era a vida dele. Desde pequeno ele queria isso”, lembra emocionado. Os pais lembrarm ainda que Eric era um filho carinhoso, educado e dedicado aos estudos. "Ele ficava sempre estudando porque tinha conseguido o FIES e não queria repetir de ano. Quando vinha de férias, era uma alegria!”, recorda o pai.
Além de reviver diariamente o dia em que perderam Eric, os pais vivem reféns do medo pela vida do filho que ficou. “O pior de tudo é que a gente já vinha num ritmo de vida e numa meta. Você dizer para seus filhos a vida toda ‘rezem, agradeçam a Deus, respeitem as pessoas, estudem que você vai se dar bem na vida’ e, de repente, isso não significa nada”, lamenta Leonildo.
"Ele ficava sempre estudando porque tinha conseguido o FIES e não queria repetir de ano. Quando vinha de férias, era uma alegria!”, recorda o pai.
No entanto, mesmo com toda a revolta, a família não se deixa abalar pelo ódio. “A gente ainda continua dizendo pro Ícaro: mesmo com todos esses acontecimentos, não perca a fé. Não perca a esperança, Não perca seu objetivo de vida. Porque ele viu o pai e a mãe se planejar pra uma vida que não deu certo. Tudo de bom que a gente vinha planejando...Perdemos o nosso chão”.
Soely Severo não consegue entender a razão de tanta criminalidade e injustiça, virou um questionamento que talvez jamais terá resposta. “Hoje todo mundo tem acesso à educação muito mais do que nós que nascemos nos anos 60, não tivemos oportunidade pra nada! Hoje o jovem tem SESI, SENAI, curso de graça, UFMT, escolas, oportunidade e educação todos têm seja de qualquer grau. Nós viemos de famílias que tinham pouco e nem por isso viramos bandidos. Quando nós casamos, não tínhamos nada. Fomos construindo. Ensinamos nossos filhos a ser o bom e o melhor cidadão pra ter vida longa, aí hoje eu recebi da sociedade e de tudo o que eu criei, a morte de um filho. Minha vida acabou”.
RepórterMT

Leonildo Severo, pai do jovem Eric.
"Fomos construindo. Ensinamos nossos filhos a ser o bom e o melhor cidadão pra ter vida longa, aí hoje eu recebi da sociedade e de tudo o que eu criei, a morte de um filho. Minha vida acabou”, lamenta Soely.
Abaixo-assinado
Leonildo e Soely já percorreram diversas cidades de Mato Grosso e do Brasil em busca de assinaturas para apoiar o projeto de lei do deputado federal Major Olímpio. No início da campanha, a meta era arrecadar 400 mil assinaturas, mas com as dificuldades encontradas no caminho, essa meta hoje é de 150 mil assinaturas.
Eles já conseguiram mais de 85 mil em nove meses de peregrinação. Já enviaram cartas a todos os deputados federais e senadores da República procurando apoio, mas o trabalho de formiguinha é o que mais tem surtido efeito.
Parentes e amigos espalhados pelo país também têm ajudado com a coleta de dados. Em Mato Grosso, a cidade que mais contribuiu foi Sorriso. Sensibilizada com o assassinato de um idoso em plena praça pública, a população recolheu mais de 10 mil assinaturas. Também foi na estrada perto de Sorriso que Eric foi brutalmente assassinado.
Eles já conseguiram mais de 85 mil em nove meses de peregrinação. Já enviaram cartas a todos os deputados federais e senadores da República procurando apoio
Em Cuiabá, os pais de Eric conseguiram mais de 2.500 assinaturas colhidas em supermercados, praças e outros estabelecimentos. Eles foram atendidos pelo deputado estadual Emanuel Pinheiro (que os surpreendeu com uma listagem com mais de 1.100 assinaturas para a campanha) e pelo secretário de Estado de Segurança Pública, Fábio Galindo.
A coleta do abaixo-assinado vai terminar em abril e ainda faltam 65 mil assinaturas para atingir a meta. Quem tiver interesse em ajudar, pode conhecer melhor a campanha no site www.institutoeric.org, baixar o formulário de assinaturas e colaborar. Veja o vídeo no qual o pai de Eric explica como ajudar.
José Pedro Botelho 16/01/2016
Lutem para acabar com a progressão de pena para crimes hediondos, isso sim, faz com que marginais saiam rápidoda cadeia.
1 comentários