Milhares dormem em fila, iludidos com promessa de casa; mulher se revolta e chora

RepórterMT

Empregadas domésticas se revoltaram com a falta de respeito do sindicatoc

DA REDAÇÃO

A pobreza extrema, a falta de informação e, em certos casos, má fé de algumas pessoas, levaram uma multidão para a porta do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção Pesada e Afins de MT, onde funciona também o projeto Casa Rosa, do Sindicato das Empregadas Domésticas de MT (SEDMT). 

Cerca de 3,5 mil pessoas passaram longas horas na fila, nesta terça (10), na esperança de que participariam de um processo seletivo para a tão sonhada casa própria. Grande parte dos ludibriados chegou ao local ainda de madrugada para guardar um lugar na fila.

Por volta das 15h, com sol forte cuiabano, a aglomeração já se estendia da porta do sindicato, que fica à rua Feliciano Galdino, no Porto, até as imediações do SESC Arsenal, na Treze de Junho. 

Mulheres estavam com crianças pequenas no colo. Outras, grávidas cozinhando ao sol e, o que é pior, gente idosa passando pela mesma humilhação. Impulsionados pelo sonho da moradia própria, muitos ainda hesitavam em deixar o local, mesmo após serem informados pela reportagem de que não se tratava de sorteio de casa, nem muito menos de inscrição, mas de uma suposta "pesquisa de demanda". 

A informação que as movia era a de que casas populares do programa federal ‘Minha Casa Minha Vida’ seriam sorteadas entre as pessoas que fizessem a inscrição.

Chorando muito, a estudante Anelise Teixeira estava inconformada com a situação. Ela fez uma desabafo para a nossa reportagem.

"Eles disseram que, no dia 13 eu receberia uma mensagem no celular com data e hora para uma reunião para falar das casas e apartamentos", disse a recepcionista Flaviane Rodrigues, de 27 anos. Questionada sobre por que acreditou nisso, Flaviane revelou o drama de muitos. "Também queria ter uma casa", disse. 

Segundo ela, as moradias prometidas seriam localizadas na Avenida das Torres, mas sem precisar o local. "Eles pediram documentação (cópias), inclusive o título de eleitor. Eles falaram que se passasse de mil pessoas seria melhor pra gente conseguir", confirmou. Ela disse ainda que as 'inscrições vêm ocorrendo desde a semana passada. 

O RepórterMT intercedeu e questionou os envolvidos. Após insistência e resistência em nos deixar entrar, uma pessoa que dizia estar, apenas, colaborando com a "causa", nos levou pelo portão lateral, até a sala da presidente do SEDMT, Wilza Sodré de Almeida. A presidente disse que tentou explicar para as pessoas do que se tratava, mas as informações teriam sido deturpadas. 



“Eu fui pessoalmente entregar a senha na fila do cadastro da pesquisa para as pessoas e expliquei tudo certinho. A gente explicou para as domésticas sobre o projeto, porém uma foi falando para outra e a informação foi mudando. Até acharem que a gente ia dar casa popular. Não temos nada ver com esse programa que é do Governo Federal”, destacou. 

Questionada se havia percorrido toda a fila ou distribuído algum comunicado impresso, a Wilza admitiu que não, mas que faria, pasmem, comunicado sobre o que se tratava para grupos de cerca de 30 pessoas por vez em um pequeno auditório. Quer dizer, haveria pelo menos 100 "palestras" para atingir a todos na fila. 

E assim seguiu. A informação de que tudo não passava de uma pesquisa, que visa calcular quantos integrantes da classe não possuem casa própria, só era descoberta quando o interessado (a) chegasse à sede do sindicato, após horas na fila. "Estou aqui desde 5h da manhã e ninguém do sindicato saiu para explicar nada. Só deram um papel para a gente preencher e foram embora”, disse a dona de casa, identificada apenas como Franciele.
 

Já outra empregada doméstica afirmou que os funcionários do sindicato disseram que o projeto daria casas. “Eles disseram que ia ser aprovado, que era só assinar os papeis e trazer os documentos pessoais como R.G, CPF e Título de Eleitor”, disse.  Sobre o pedido do Titulo de Eleitor, Wilza alegou que o projeto é voltado só para moradores da Capital e, como os trabalhadores não têm casa própria, apenas o T.E provaria a moradia em Cuiabá.  “Com o resultado da pesquisa podemos diagnosticar quantos empregados domésticos da cidade precisam de casa própria”, argumentou.

Segundo Wilza, seria encaminhada a demanda para o governo pleiteando as casas que, se conseguidas, seriam sorteadas. 

Prefeitura de Cuiabá

A Prefeitura de Cuiabá emitiu nota de alerta a população sobre o ocorrido e diz que, "o Sindicato dos Empregados Domésticos de Mato Grosso não consta como unidade credenciada para o cadastramento de moradores para o programa “Minha Casa, Minha Vida”. A Secretaria de Cidades foi informada nesta terça-feira (10) que a instituição está realizando cadastros, o que consta como ato ilegal e passível de notificação judicial". 

RpMT

 Ficha cadastral que estava sendo distribuida pelo Sindicato, em Cuiabá