ROBERTO BOAVENTURA SÁ
No último parágrafo do artigo “Seguradores de pirulito”, adiantei que lhe daria continuidade. É o que faço hoje.
Motivo: reitores das federais, ainda no primeiro turno das eleições, em apoio à reeleição à candidata petista, disseram que o Brasil “nunca antes na história” viveu tanta inclusão no ensino superior; e concluíram: “o Brasil está no rumo certo”. Discordei.
Ao motivo acima, somam-se agora considerações e indagações expostas por um leitor sobre meu artigo. Ei-las:
“...Enquanto conjuntura e conjectura, os avanços brasileiros, quer seja na universidade pública, quer seja na privada, não colocou o Brasil no rol do ensino e da pesquisa (...). O problema passou a existir a partir do momento em que o PT chegou ao poder? O que era feito em nome do ensino superior? Quem ganha e quem perde com a política de oferta de vagas para o ensino superior? Quantas universidades ou campus foram construídos até 2002? Quantos foram construídos até 2014? O que dizer sobre a expansão dos Institutos Federais, que ganharam status de universidades? (...) O PSDB no governo seria melhor que o PT? Quais caminhos para que o ensino superior deixe de ser uma agência de expedição de diplomas e títulos e tenha compromisso para o ensino e a pesquisa?”
No limite deste texto, tentarei uma síntese, mas apenas no plano das públicas. No próximo, falarei da “inclusão” nas privadas, enfatizando o ProUni e o Fies.
De fato, superando governos anteriores, o governo petista injetou mais recursos nas universidades. A parte estrutural deu um salto positivo. Mesmo com obras malfeitas, fisicamente elas expandiram; isso nas instituições antigas.
Todavia, em muitas das novas, incluindo os Institutos Federais, a expansão beira o caos. Há unidades funcionando em prédios de colégios. Há falta de professores e de técnicos.
Os concursos não supriram a demanda criada. Faltam laboratórios, bibliotecas... Sem falar na falta de segurança interna da maioria dos campi universitários.
Pior: nesse cenário, em que a quantidade dá de “sete a um” na qualidade, o governo petista foi se apropriando da autonomia (ou seja, do cérebro) das universidades.
Sua ingerência é assassina à qualidade da vida acadêmica; é de deixar golpista militar de queijo caído.
Como?
Impondo-nos programas populistas, sem falar do desmanche de nossa carreira; tudo com ajuda interna de agentes partidários e a fragilidade de leitura política por parte de muita gente, inclusive de doutores.
Assim, cada ação do governo petista só é feita calculando a quantidade de votos para a perpetuação dessa espécie.
Nesse panorama, transformados à força em serviçais de um partido político, somos obrigados a bater metas absurdas, norteadas por imposições metodológicas.
Para esse trabalho, prestam-se muitos dos Institutos de Educação, em geral, ninhos de petistas.
Resultado: índices alarmantes de adoecimento, físico e emocional, do quadro de docentes e técnicos.
Detalhe: a cooptação de professores, técnicos e alunos (por meio de cargos e bolsas diversas) faz tudo parecer democrático nos órgãos colegiados superiores. Por isso, grande parte dessa expansão, socialmente irresponsável, se deu na base do toma lá dá cá.
O Programa de Reestrutura das Universidades (ReUni) é uma das provas: ou a universidade aderia àquilo ou não recebia verbas do governo. Simples assim!
A canalhice do Enem foi outra imposição às universidades, mas como o xis problema não estava no vestibular, e sim na falta de nível do ensino médio, hoje, exceto nos cursos “nobres” de sempre, trabalhamos com salas esvaziadas.
Mesmo assim, as vagas não ficam ociosas. A todo momento, durante o ano inteiro, chega um novo acadêmico recrutado às pressas pela internet.
Consequentemente, alunos sem afinidade com o curso “escolhido”, com destaque aos de licenciatura, esvaziam as salas já no começo dos cursos. Rotatividade de motel!
Dessa forma, estamos nos tornando cartoriais. Carimbamos, confirmamos e damos fé a diplomas e títulos, quase todos desprovidos de peso acadêmico. Império da farsa.
Logo, a continuar essa situação, nunca atingiremos a excelência em nada que se refira à vida acadêmica.
ROBERTO BOAVENTURA DA SILVA SÁ é doutor em Jornalismo pela USP e professor de Literatura da UFMT.
victor hugo 09/10/2014
Ainda repetindo as indagações já feitas pergunto novamente: Como era a situação da Educação no Governo FHC? O PSDB no governo seria mesmo melhor que o PT para as Universidades Publicas? O que pode me garantir quê um governo no caso Aécio Neves tendo sua base de candidatura e aliada formada na sua maioria por descendentes de oligarquias passadas, que realmente irão priorizar políticas sociais para os mais necessitados, como é que vai ficar a situação da grande massa??? Porque a elite do nosso país já tem de onde tirar para saciar sua fome, suas necessidades e padrão de consumo. Então e o brasileiro pobre como fica?
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