O Facebook e o Instagram estão lançando uma ferramenta que vai medir o tempo que cada usuário de smartfhone fica conectado a cada dia. Pretende com isso alertar sobre a dependência da internet e os danos derivados dessa compulsão. Não porque o Zuckerberg e sua turma estejam preocupados com as pessoas, na verdade eles estão inquietos com o futuro de seus negócios.
Em muitas empresas brasileiras os prejuízos causados com a obsessão pelas redes sociais, que roubam o tempo dos funcionários, estão sendo ignorados. Somente escapam dos seus efeitos deletérios as companhias que têm linha de montagem com divisão rigorosa das atividades de cada trabalhador.
Quem luta contra a epidemia dos celulares no ambiente de trabalho sabe que não é possível confiar no bom senso de cada para usar com parcimônia os aparelhos durante o expediente. A obsessão da checagem contínua das mensagens que chegam a cada minuto deixou de ser um hábito para se tornar um vício. Circulam freneticamente na rede piadas e notícias falsas; propaganda política e textos de autoajuda; pregação religiosa e pornografia; além das utilíssimas informações sobre a vida dos artistas e pessoas famosas, suficientes para manter o trabalhador conectado o dia inteiro.
Sem contar as recorrentes cenas de pessoas com o braço erguido acima da cabeça segurando o celular na mão, preparando a cara com poses e biquinhos para mais uma das muitas selfies que fará durante o dia.
A dificuldade maior em inibir o uso é que os próprios gerentes, chefes de seção e líderes de setores estão também completamente dominados pelo vício e por isso não tem vontade ou crédito (não o dos celulares) para advertir os subordinados.
Nos ambientes em que os celulares são também ferramentas de trabalho a tarefa de tolher o uso fica ainda maior, porque é impossível saber se o funcionário está trabalhando ou recebendo e repassando mensagens pessoais.
Tem ainda a má impressão que passa aos clientes da empresa, quando estes percebem que trabalhadores estão mais preocupados com o celular que com o atendimento do freguês.
A coisa tá tão feia que até os donos das empresas, principalmente os mais jovens custam a perceber, porque mantém um caso amoroso com seus brinquedinhos, o tamanho do prejuízo que essa compulsão acarreta nos negócios.
Mas há esperança de um dia esta febre ceder um pouco, ainda que não desapareça. Na semana passada o dono do Face book e de outras mídias sociais, o bilionário Mark Zuckerberg sofreu uma perda acionária de 120 bilhões de dólares, motivada pela estabilização não prevista do número de usuários nos Estados Unidos e diminuição deles na Europa.
Repercutindo essa notícia, o colunista Sergio Dávila da Folha de São Paulo, publicou no último dia 29: “o primeiro mundo percebe antes de nós a absoluta perda de tempo de gastar preciosos minutos de dias cada vez mais curtos assistindo a cachorrinhos lambendo gatinhos e lendo textões mal escritos, com poucos argumentos e muitos adjetivos, dos imbecis de plantão”.
Se o desapego prosperar no mundo desenvolvido um dia pode chegar ao Brasil que é o campeão mundial de uso de redes sociais. Mas antes disso, eu prevejo, muitos vão ficar com vergonha das ridículas selfies que postaram no Face book ou mandaram pelo Whatsapp.
RENATO DE PAIVA PEREIRA é empresário e escritor