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Cuiabá, 14 de Dezembro de 2024
14 de Dezembro de 2024

09 de Novembro de 2013, 08h:57 - A | A

OPINIÃO / PAÍS DE MEMÓRIA

O abandono da casa do marechal

Apesar da importância, casa de Deodoro em Cuiabá está em ruínas

LAURENTINO GOMES



O Brasil, como se sabe, é um país sem memória, que preserva mal o seu patrimônio histórico e cultural.

Tive mais uma prova disso ao visitar, dias atrás, a casa em que o alagoano Manuel Deodoro da Fonseca morou em Cuiabá, em duas ocasiões, antes de Proclamar a República.

Deodoro tinha a patente de capitão do Exército quando chegou à capital do Mato Grosso pela primeira vez, em 1858.

A carreira militar exigia que os jovens oficiais servissem às forças armadas em diferentes regiões do país – uma tradição iniciada pelo império que a república mantem até hoje.

Cuiabá era então um vilarejo isolado e distante, com menos de 10.000 habitantes.

Como não havia comunicações por terra, chegar até o Mato Grosso era demorado e difícil, em viagem de navio que partia do Rio de Janeiro, descia até Buenos Aires e subia os rios da Prata e do Paraguai, com escala em Assunção.

Ainda assim, a cidade deixaria marcas definitivas na biografia de Deodoro.

Em Cuiabá, ele se casou em 1860 com Mariana Cecília de Sousa Meireles, órfã de um capitão do exército e um ano mais velha do que ele. O casal nunca teve filhos.

Deodoro retornaria a Cuiabá novamente no final de 1888, já com a patente de marechal, mas dessa vez em uma passagem rápida e tumultuada.

Sua transferência para Mato Grosso foi uma tentativa das autoridades de afastá-lo do centro da conspiração republicana.

Irritado com a forma como era tratado, o marechal abandonou o posto sem pedir autorização ao governo e retornou logo ao Rio de Janeiro, onde meses mais tarde lideraria o golpe contra a monarquia.

A casa em que Deodoro morou em Cuiabá ficava dentro da modesta guarnição militar situada no centro da cidade, ao lado da Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte.

É um típico edifício da arquitetura colonial portuguesa feita de tijolos rústicos cobertos por argamassa e tinta branca à base de cal.

Apesar de sua importância histórica, está hoje em ruínas. Por falta de conservação, parte do reboco das paredes desabou. O restante está coberto de pichações.

Por falta de uma simples placa de identificação, a maioria dos cuiabanos sequer sabe que ali morou o herói oficial da Proclamação da República.

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