Nossa educação, ao invés de formar, seria mais apropriado afirmar, deforma nossa população.
E não me refiro apenas à educação escolar, que é uma lástima à parte, mas também aquela educação comum, que se adquire pela convivência e observando os demais.
Ela não nos educa para sermos cidadãos, mas consumidores. Não nos torna sábios, quando muito sabidos.
Não nos torna bons, mas espertos. Inibe o desenvolvimento de autonomia e promove o individualismo estreito e medíocre.
Somos feitos para sermos contribuintes passivos e dependentes da tutela do Estado, e voltarmos nossas atenções para o sucesso próprio.
Não temos bons exemplos nas autoridades públicas, inúmeras delas suspeitas de crimes para mim hediondos, pois não há nada mais odiento do que roubar o povo, inclusive elas próprias.
Não temos boas escolas para tirar a ignorância de tantos, nem temos instituições confiáveis, o que torna possível apenas a desconfiança de tudo e de todos.
Não ter bons exemplos a serem seguidos, acarreta que cada um siga seu próprio instinto de sobrevivência, na selva da multidão sem lei confiável, sem certeza de justiça e quase sem esperança de honestidade.
E assim, sem saber exercer a cidadania, sem crença no Estado e suas instituições para garantir a justiça que acredita ter direito, cada um de nós pratica a justiça com as próprias mãos, e o resultado é um só: uma injustiça generalizada.
E a violência que só aparece onde está ausente o poder – e ninguém consegue deixar de perceber a ausência do Estado para garantir nossa segurança para todo lado – prevalece se expandindo por toda parte.
Eu que não posso muito, gostaria de me juntar a outros por uma campanha pela honestidade.
A desonestidade é o vício que degenera as Repúblicas, logo, sem sermos honestos e cobrarmos honestidade dos demais, não conseguiremos algum governo decente, nem ao menos o mínimo de confiança mútua para termos uma República autêntica: um Estado voltado para promover o bem comum e com cidadãos participativos.
Mais do que autoridades competentes, devemos exigir antes autoridades honestas.
De resto, se possível, Feliz Natas a todos!
ROBERTO DE BARROS FREIRE é professor do Departamento de Filosofia da UFMT.