LOUREMBERGUE ALVES
Em meio ao julgamento da ação de inconstitucionalidade das doações das empresas, outra temática surge imperiosamente, até por conta do atual estágio da democracia do país, o papel dos setores da economia nas eleições. Estes setores participam, influenciam e cobram dos governos e de cada candidato, ou possível postulante, respostas com relação às coisas de seus interesses. O agronegócio não é diferente dos demais segmentos econômicos. Nem deveria ser, sobretudo em função da sua importância, pois é responsável por 23% do PIB e de 37% das exportações.
Quadro que justifica toda a movimentação dos empresários deste segmento com vistas à disputa eleitoral de 2014. Suas lideranças já se encontraram, e continuarão a se reunir – em momentos distintos – com o Aécio Neves, Eduardo Campos, Marina Silva e a presidente Dilma Rousseff.
Tudo indica, no entanto, que os líderes do agronegócio de Mato Grosso estão atrelados ao governo federal. Diferentemente, portanto, do posicionamento dos representantes desta atividade econômica de outros Estados. Estes, aliás, formam uma romaria contra a gestão Dilma. A petista, na verdade, é acusada de (a) transformar o Ministério da Agricultura em moeda de troca, e, com isso, esvaziá-lo; (b) de abandonar o programa de etanol; (c) de ter abandonado a política de agroenergia e (d) de abandonar o setor da cana.
Acontece, porém, que o agronegócio, assim como todos os setores da própria sociedade, não se apresenta de maneira uniforme, tampouco possui um discurso único. Ainda que a sua bancada, no Congresso Nacional, vota com o governo em quase todos os projetos, exceto naqueles que interessam diretamente aos empresários do ramo e a dita atividade.
A votação do Código Florestal é um exemplo disso, com os deputados federais e senadores, ligados às causas ruralistas, provocando em três ocasiões a derrota do governo. E eles, juntamente com os empresários, não gostaram nenhum pouco da decisão da presidente Dilma de vetar nove pontos do novo Código Florestal. Alguns desses vetos, inclusive, deixaram descontentes as organizações ambientais, bem como de um posicionamento mais duro da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva.
Marina Silva que, hoje, se encontra filiada ao PSB, em razão do não registro do partido Rede Sustentabilidade. Filiação que mexeu com o tabuleiro de xadrez da política, além de impulsionar – embora não o bastante - a candidatura Eduardo Campos.
Mas também a dita filiação resultou em críticas a sigla socialista e ao governador de Pernambuco. Os dirigentes do agronegócio se encontram entre os mais fortes desses críticos, especialmente em razão do olhar sobre o “verde” da ex-senadora. Isso dificulta o diálogo entre ela e os empresários do setor. Mas, recentemente, muito se avançou na direção de um entendimento, talvez com a mediação do próprio Eduardo Campos, cuja candidatura à presidência da República, vários daqueles se sentiam atraídos; enquanto outros se voltam para o tucano e senador mineiro, mesmo diante da resistência da cúpula da Confederação Nacional da Agricultura, que apoia a presidente Dilma.
De todo modo, vale concluir, cresce o movimento dos empresários do agronegócio dos demais Estados, liderados por paulistas e mineiros, contra a “reeleição da candidata petista”. Movimentação, contudo, que parece não tem impedido o crescimento da Dilma nas pesquisas. Nem deveria, pois o crescimento da presidente se deve bem mais a incompetência e inabilidade das oposições, e que até agora não apresentaram um projeto alternativo de governo – nem mesmo um esboço dele. Assim, fica bastante difícil.
LOUREMBERGUE ALVES é professor universitário e articulista. E-mail: [email protected].