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Cuiabá, 17 de Junho de 2025
17 de Junho de 2025

30 de Agosto de 2019, 12h:59 - A | A

VARIEDADES / HISTÓRIAS QUE A VIDA CONTA

'Fui presa no lugar da minha irmã e hoje estou proibida de visitá-la na cadeia'

Sem nenhuma passagem pela polícia, a esteticista Danielle Estevão Fortes, 27 anos, foi acusada de roubo e presa sem saber o que estava acontecendo. Depois de dez dias, recebeu a visita de um advogado e descobriu que havia sido confundida com a irmã.

MARIE CLAIRE



"Nasci em Magé, no região metropolitana do Rio de Janeiro. Sou a mais velha de 11 filhos, seis dos mesmos pais. Até os 21 anos, quando saí de casa e fui viver com uma namorada, fui meio mãe de todos.

Costumo dizer que, como precisava cuidar deles, os transformei em meus brinquedos. Assim, salvei a infância que não teria de outra forma. Mesmo morando longe, nunca deixamos de ter mantivemos contato. Sempre fui muito unida com meus irmãos, entre eles, a Daniela, a terceira filha, cinco anos mais nova que eu, que viveu comigo e minha então mulher durante um ano.

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Estava em casa quando, no dia 17 de maio, tocou o telefone e era uma prima minha avisando à minha mãe que meu irmão Luiz André Estevão Fortes, de 18 anos, havia sido morto. Minha mãe desmaiou quatro vezes. Eu acalmei ela, fui para a praia de Mauá onde o corpo havia sido achado e constatei: era mesmo ele. Foi um choque muito grande, mas não chorei em nenhum momento. Só pensava que aquilo que estava no chão era apenas um corpo. Sabia que sua alma já não estava mais ali, havia subido para o céu. Daniela era a mais desesperada, abraçada junto ao corpo. Pedi calma. Ali só havia matéria. Mas o baque foi muito grande. Meu irmão era ótimo filho, bom aluno... Não tínhamos (e ainda não temos) ideia do que podia ter acontecido.

 

Na semana seguinte ao crime, comecei a receber mensagens de um policial via WhatsApp. Ele não se identificou, só disse que eu precisava comparecer à delegacia para prestar esclarecimentos sobre a morte do meu irmão. Fiquei com medo por ele não ter dito o nome, pensando que podia o assassino ou alguém que tivesse relação com o assassinato. Não achava que precisava de mais aquele sofrimento. Afinal, nada traria meu irmão de volta. Mas conversei com a minha mãe e minha namorada, e ambas me aconselharam a ir à delegacia.


Chamei um amigo para me acompanhar e, no dia 7 de junho, me apresentei na DHBF (Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense) para dar meu depoimento. Na sala, quatro policiais faziam perguntas que eu não sabia responder. Queriam saber como ele era e se eu suspeitava de alguém. Disse que Luiz André era uma pessoa boa, que ajudava todo mundo e que, pelo que eu sabia, não tinha inimigos, tampouco estava envolvido com nada ilegal ou algo que representasse risco de vida. Era tudo que eu sabia. Trabalhava muito e não convivia mais tanto com o meu irmão havia muito tempo, não tinha como conhecer os hábitos dele. Mas eles seguiam fazendo as mesmas perguntas.

De repente, um policial olhou para o computador e me perguntou se eu já havia estado em uma delegacia. Eu disse que sim, na de Itaipu para dar parte de um assalto, dois meses antes, e também na Polícia Federal para tirar passaporte, sete meses antes. As perguntas continuaram, durante quatro, cinco horas.

Comecei a ficar aflita. Precisava trabalhar e aquilo não acabava. Até que um deles perguntou os nomes e idades de todos os meus dez irmãos. Respondi, e dois policiais pediram que eu os acompanhasse até o segundo andar. Na subida, eles já começaram a me enquadrar, um de cada lado, como se houvesse o risco de eu fugir. Achei aquilo estranho, mas na minha cabeça, estava só indo assinar um papel do meu depoimento para ir embora.

Quando cheguei lá em cima, me pediram minha identidade, meu CPF, e vi em cima de uma mesa um mandado de prisão. Estava escrito Daniele Esteves Fortes -- grafia diferente do meu nome, que tem dois ‘l’s e é Estevão, não Esteves. Sem entender, perguntei: ‘Esse mandado é para mim?’. Eles disseram que, segundo o sistema, eu estava foragida há um ano e meio. ‘Por quê?’ Aí me mostraram a foto de um cara e questionaram se eu o conhecia. Neguei. ‘Conhece, sim’, falaram. ‘Ele participou de um roubo ao seu lado.’ Fiquei em estado de choque. ‘Vocês estão equivocados! Como teria tirado passaporte e feito boletim de ocorrência? Esse não é o meu nome!’ Eles disseram que minha filiação batia, e que provavelmente havia um erro de digitação, porque era eu mesma. Fiquei desesperada. Não conseguia entender o que estava acontecendo.

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