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Cuiabá, 05 de Dezembro de 2024
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20 de Outubro de 2013, 10h:06 - A | A

OPINIÃO / SEMANA DO PROFESSOR

Que educação queremos?

A quem preocupa a formação de cidadãos brasileiros?

BLAIRO MAGGI



Na semana do professor, nossos parabéns a todos aqueles que contribuem na construção da história do nosso país, formando cidadãos de bem, edificando sonhos e colaborando com o aperfeiçoamento de uma sociedade verdadeiramente pensante.

Algumas ponderações precisam ser feitas, no que diz respeito à educação no Brasil. Quero falar um pouco sobre a experiência que vivi e o que pude fazer quando fui governador de Mato Grosso.

Tive a oportunidade de, junto com professores e trabalhadores, contribuir com a educação no Estado e diria que ela avançou e muito na minha gestão. Por isso faço questão de destacar os números, pois são oficiais do Ministério da Educação e mostram que - no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), Ensino Médio da rede pública estadual-, Mato Grosso saltou de 2,6 em 2005 – ano em que o índice começou a ser implementado pelo Governo Federal - para a nota 2,9 no ano de 2009. Esse índice chegou, em 2011, a 3,2 de média.

Temos registrados nos anais da educação brasileira um Mato Grosso, de 2005 - com escolas de Ensino Fundamental, (fase inicial 1ª a 4ª ano) atingindo nota 3,6 - e que saltou para 4,9 em 2009, ficando em 5º lugar no ranking nacional entre as escolas públicas. Já nas séries finais (5º ao 9º ano) os avanços também foram significativos, saindo da nota 2,9 em 2005, para 4,2 no ano de 2009.

Ou seja, entreguei o Governo em abril de 2010 com um sistema público educacional, segundo dados do Ideb, atingindo nota 4,9 para os anos iniciais escolares, 4,2 para o ensino fundamental e 2,9 para o médio. Dos 24 centros de formação de professores (Cefapros) existentes, 23 participaram do exame do Enem dos quais 19 conseguiram nota acima da média. Com esses resultados, Mato Grosso ficou em 2º lugar entre as escolas públicas do país e foi considerado o Estado que mais cresceu nos índices de maneira uniforme, na média entre todas as escolas estaduais.

Os investimentos também significaram mudanças de outros números e realidades em nosso estado. De 2003 a 2010, foram construídas cerca de 150 novas escolas e outras 500 foram reformadas. Nesse mesmo período, o Governo pôs fim à existência de unidades escolares de madeira, pau a pique, e em contêineres, que por muitos anos foram utilizadas como local para praticar o ensino.

O salário dos professores teve um aumento real de 35,3% (de janeiro de 2003 a abril de 2010); ou seja, a inflação medida pelo INPC - no período - foi de 53% e a correção salarial total concedida pelo Governo de 88,3%, assim sendo, o ganho real da categoria, já deduzidas às perdas inflacionárias, foi dos 35,3 %.

Dos 23 centros de formação de professores (Cefapros), que hoje são referência para todo o país, 15 foram construídos na gestão Maggi. E ainda, 42 etnias indígenas do Estado integram, hoje, o processo de formação educacional. Também foram criados 24 centros de educação de jovens e adultos (Cejas) com a proposta impactante de atender a necessidade daqueles que precisavam estudar, mas estavam fora da sala de aula. Foi um passo significativo para colocar o Estado dentro de um cenário ao menos mais digno quando o assunto é a Educação.

Os índices projetados e esperados para o Estado pelo Governo Federal já foram superados. Mato Grosso atingiu, em 2011, metas previstas para 2015 nos Índices de Desenvolvimento da Educação Básica e do Ensino Fundamental (Ideb), segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) em agosto de 2012.

Os dados são: 5,1 nas séries iniciais (1º ao 5º); 4,3 nas séries finais (6º ao 9º) e 3,1 no Ensino Médio – notas que apontam avanços de até dois pontos no comparativo com os mesmos índices divulgados em 2009 (4,9 - 4,2 e 2,9). As projeções do Ideb vão até 2021, quando esses mesmos índices devem atingir em Mato Grosso: 5,8 – 4,9 e 4,4 respectivamente.

Comprovou-se, desta forma, que no ano passado o Ensino Médio na rede estadual já atingia projeções previstas para 2013, enquanto que o Fundamental avançou para possíveis índices de 2015. Números que mostram o que de fato foi deixado como legado para a educação mato-grossense.

No entanto, sabemos que no Brasil como um todo, o sistema ainda está longe do ideal, isso é público. Mas, atribuo à falta de qualidade no ensino não só a questões de estado, mas também a falta de conscientização da sociedade, que por muitas vezes desconhece seu papel.

Assim sendo, ou conseguimos um comprometimento das famílias junto à escola ou não vejo como mudar essa realidade no ensino!

Semana passada, por exemplo, a revista Veja trouxe em sua edição um artigo da escritora Lya Luft no qual aborda uma das questões que considero mais sérias na atualidade brasileira: a queda significativa na qualidade da educação.

A Universidade de São Paulo (USP), nossa principal referência de ensino superior de qualidade, já não faz mais parte das 200 melhores universidades do mundo.

Segundo a escritora, andamos com problema de raciocínio. Não aprendemos a pensar, a observar, argumentar, portanto não sabemos como organizar nosso pensamento. A exigência aos alunos baixou assustadoramente de nível, e com isso, o ensino entrou em queda vertiginosa.

Ainda segundo ela, lá pela década de 60, importamos a ideia de que ensinar é antipático e, aprender ou estudar, é crueldade infligida pelos adultos. Tabuada - continua a escritora -, nem pensar. Ortografia, longe de nós. É preciso esforçar-se, e caprichar (muito) para ser reprovado.

E ainda, continua Lya Luft, quando um professor tenta impor autoridade, possivelmente ele, e não o aluno malcriado, será chamado pela direção e repreendido. Caso tenha sido mais severo, quem sabe será ainda processado pelos pais?

O acesso à universidade, devido a esse baixo nível do ensino médio, reduziu-se a um facilitarismo assustador. Jovens adentram ao ensino superior sem o menor preparo.

E aí cabe uma pergunta simples: O que queremos com isso? Profissionais sem preparo? Engenheiros ou médicos ou até mesmo professores que nada saibam acerca de suas profissões e sem a compreensão do mundo em que vivem?

Lya esclarece em seu artigo que quem escreve não é uma ficcionista, e sim uma observadora. Mas seu artigo parece ficção. Infelizmente, é a nossa triste realidade!

A minha realidade me mostrou como fazer. Não costumo contar com a sorte. Logo cedo, meus pais me ensinaram o quanto era difícil a vida sem estudo. Seus exemplos ainda marcam minha história de vida.

Minha mãe chegou a levar-me pela orelha até o ponto de ônibus, da minha casa em São Miguel do Iguaçu até a minha escola em Curitiba, numa distância de 600 Km, porque eu queria trabalhar e ela dizia que o estudo era a garantia do meu futuro. Quando me formei engenheiro agrônomo, entreguei-lhe meu diploma!

Meus pais eram pobres, sem terra e sem teto quando se casaram. E nos ensinaram que nada vem sem esforço!

Hoje, as mães e pais têm essa mesma preocupação com a qualidade do ensino que é oferecido a seus filhos? A família assume o papel de educar? De oferecer bons exemplos ou simplesmente delega essa tarefa aos professores nas escolas, aos amigos ou a rua?

E os professores, que autoridade têm para exigir que seus alunos se empenhem, que compreendam a importância de uma boa educação para seu futuro?

O que será desses jovens que passam o horário das aulas em seus celulares, trocando mensagens, navegando na rede com seus smartphones ou até mesmo fora das salas de aula, nos corredores, como se escola fosse playground? Como se ali fosse local de lazer tão somente? Que chances terão no mercado de trabalho cada vez mais competitivo e seletivo?

Quero lembrar aqui a impressionante história da pequena Malala, a menina paquistanesa que aos 12 anos de idade desafiou o regime fundamentalista Talibã para continuar indo à escola! Aos 15 anos foi baleada na cabeça em uma tentativa do grupo de silenciá-la. Malala sobreviveu. Escreveu o livro “Eu sou Malala”, que conta como essa história improvável e extraordinária aconteceu. Essa adolescente, agora com 16 anos, concorreu ao Nobel da Paz como a mais jovem indicada na existência da premiação.

Tomei o exemplo de Malala para destacar que temos vários paradigmas na Educação que precisam ser quebrados e muitos problemas que necessitam ser transpostos, mas que nada é impossível!

A ausência da participação da família na educação dos filhos é, para mim, o primeiro e mais importante obstáculo a ser atravessado para se chegar a um ensino de qualidade. É no seio familiar onde tudo começa. A família é a célula-matriz da sociedade e se quisermos mudar o futuro que se avizinha sombrio, precisamos investir seriamente no presente.

Temos exemplos em todo o mundo: Japão, China e Coréia do Sul foram países que enfrentaram o desafio de preparar as gerações futuras e criaram um sistema educacional de médio e longo prazos, onde a eficiência tanto do ensino quanto do aprendizado era o objetivo comum do governo e também da sociedade.

Sejamos honestos, temos um sistema de ensino sucateado ao longo de décadas.

Quando daremos o primeiro passo para mudar essa triste realidade? Continuaremos tão somente fazendo pleito por melhores salários?

 

A grande questão é: a quem preocupa a formação de cidadãos brasileiros?

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