ROSANA LEITE
A mulher possui o direito de escolher a forma como o seu parto será realizado: normal ou cesárea. O que determina é a vontade, conforme a condição da sua saúde, porquanto, deve ser ela a protagonista da situação vivenciada.
Aliás, o próprio nome já diz: normal. Entretanto, em tempos de banalização de procedimentos cirúrgicos, o normal, de fato, tem outro nome: cesárea. Sim, a cesárea é mais "normal" do que se imagina. No Brasil ocorrem 52% de cesáreasano, quando o aconselhável pela OMS é de 15%.
A nossa cultura está voltada para não sentir as contrações e dores do parto, criando uma falsa crença de que a mulher, quando se submete à uma cesariana, sofre menos dor. É falácia, sabemos. Não consigo mensurar as dores de um procedimento cirúrgico. Já pararam para imaginar quantas camadas de pele e músculos são necessários ultrapassar até chegar à incisão para a cirurgia? Sem contar a cesárea eletiva, isto é, aquela que se tornou costume no Brasil, onde se escolhe até mesmo dia e horário de nascimento do bebê, aumentando o risco de vida da mãe em três vezes, e do neném em cento e vinte vezes.
A Fiocruz aponta que 70% das mulheres no início da gravidez dizem preferir o parto normal, sendo desencorajadas no decorrer do percurso. Para tomarmos uma decisão que afetará nossa vida e de nosso descendente, há necessidade de desconstituir mitos. A cesárea planejada reduz o risco de morte em gravidez de gêmeos? Não. Há necessidade de se fazer a cesárea quando o bebê é muito grande, ou pequeno? Não. O cordão umbilical pode enforcar a criança quando enrolado no pescoço, durante o parto normal? Muito difícil, pois, ele é como um fio de telefone, e para enforcar a criança muita força deve acontecer, não sendo motivo para a cesárea.
O parto normal é o aconselhável, sempre, sendo exceção o procedimento cirúrgico quando há risco de vida da mãe e do filho. Não é o normal extremamente doloroso, difícil ou sofrido. Mulheres: nascemos, também, para gestar e dar à luz, de parto normal. Todas devem fazer do parto normal, a regra.
Segundo o estudo "Morte materna no século 21", publicado no ano de 2008, no periódico American Journal of Obstetrics and Ginecology, que analisou 1,46 milhões de partos, há um risco dez vezes maior para as gestantes em cesarianas. Enquanto em partos normais a ocorrência de morte foi de 0,2 para 100 mil, em cesáreas alcançou a 2,2 por 100 mil.
Os partos de cesariana podem ocasionar hemorragias, infecções, e danos a órgãos internos da gestante, e, em alguns casos, sem que seja necessário assumir riscos desse talante. Quem conhece a data e horário do nascimento é o nascituro, que já possui os seus direitos civis assegurados desde a gestação. Há necessidade de obedecermos a essa vontade humana: nascer no momento certo. Muitas crianças são portadoras de doenças respiratórias graves em decorrência de nascimentos agendados. Não há máquina de ultrassonografia que possa dizer com precisão a idade fetal.
De outro norte, o parto normal oferece benefícios para a mãe e bebê, fazendo esse último a força necessária capaz de terminar a formação e função pulmonar, no momento em que escolhe ser expelido do ventre materno. Durante esse parto, a gestante produz ocitocina (conhecido popularmente como hormônio do amor), com a função de proteger o filho de danos cerebrais, bem como, a prolactina que favorece a amamentação.
Como dizia o velho guerreiro: "nessa vida nada se cria, tudo se copia". Copiemos, então, o exemplo de países que vem aderindo como regra ao parto humanitário. Nesses tipos de parto, muito mostrado nos programas de reality de canais de TV fechados, é deixar a natureza agir, igual nossos ancestrais, realizando o mínimo de intervenções médicas necessárias, levando-se apenas em consideração a vontade materna e o processo fisiológico do parto.
A situação de exceção a partos normais na atualidade é a realidade. Há cinco anos atrás, quando veio ao mundo o nosso caçula, de parto normal, as enfermeiras fizeram romaria no quarto para conhecer a "mãe corajosa". Segundo elas, havia quatro meses que não aconteciam partos normais naquele hospitalmaternidade de Cuiabá. Pasmem!
ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública Estadual, atuando na Defesa da Mulher Vítima de Violência Doméstica e Familiar da Capital e prresidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher de Mato Grosso.