MARGARETH BOTELHO
O processo de militarização do ensino tem rendido debates acalorados entre todos os segmentos envolvidos, vítimas ou não da onda de violência dentro das escolas.
O governo de Goiás não teve dúvida. Chamou a Polícia para assumir a Escola Estadual Fernando Pessoa, localizada no município de Valparaíso, onde eram frequentes registros de agressões, tráfico de drogas e até sequestro de professor e assassinato de ex-aluno.
Medida radical para a unidade que leva o nome do poeta português, conhecido pela habilidade em descrever emoções e sentimentos humanos. Que nada. Mais 11 escolas tiveram o igual destino. Enquanto os militares assumiram a administração das escolas, a parte pedagógica permaneceu sob a tutela de professores e da Secretaria de Educação.
A fórmula, longe de ser unanimidade, vem sendo considerada bem-sucedida pelo governo goiano. Disciplina e hierarquia sustentam o modelo que, se depender dos moradores da cidade, está mais que aprovado.
Professores também se mostram aliviados com a presença militar e asseguram que agora alunos não mandam na escola. Os números da unidade Fernando Pessoa são enaltecidos pela nova direção.
A escola teria conseguido manter 80% dos estudantes após as mudanças e aumentar de 680 para 1,1 mil o total de matriculados. A turma divide o espaço com 13 oficiais militares, 38 professores, uma psicóloga, uma psicopedagoga e demais funcionários. Para impor o modelo quartel existe uma espécie de cartilha militar.
Para entrar na escola é preciso uniforme completo, limpo, cabelos cortados. Não se permite unhas pintadas com esmalte escuro, chicletes, acessórios exagerados, falar palavrão ou se comunicar por meio de gírias.
Especialistas em educação, que decidiram despertar o tema para a discussão país afora aproveitando o período eleitoral, não concordam que para vencer a violência seja preciso redobrar a repressão. Durante a ditadura militar as escolas brasileiras tinham padrões semelhantes, como o bom-dia substituído por uma continência.
Na Fernando Pessoa, canta-se o Hino Nacional, o Hino à Bandeira, enquanto ela sobe pelo mastro. Há melhoras na escola? Sim. Na limpeza com a chegada de novos equipamentos.
Coordenadora de uma pesquisa da Unesco a respeito do assunto, Míriam Abramovay, avalia a militarização da escola como solução inócua. Segundo ela, a forma escancara o problema e faz educadores ‘fugirem’ de uma realidade que precisa ser enfrentada. ‘A atitude mostra um certo desespero da escola, que atesta sua incapacidade para resolver a questão’, argumenta.
Sinceramente não acho que a presença da Polícia no dia a dia de uma unidade escolar traz dividendos. Além de tirar dos quartéis a parcela preparada de oficiais e das ruas soldados que devem atuar para manter a segurança pública, a proposta me soa a retrocesso.
Tantos ‘nãos’ e padrões inflexíveis me parecem impróprios para se relacionar com os jovens do século 21. A violência de hoje difere do passado apenas porque é explícita. Brigas, agressões, chacotas (bullying), frases do tipo ‘vou te pegar lá fora’ sempre existiram no universo escolar. Drogas entravam do mesmo jeito.
A diferença talvez esteja no potencial. Antes cigarros e bebidas alcoólicas. Agora maconha, cocaína, entre outras.
Vamos reconhecer que respeitar limites é conduta imprópria de adolescentes. Não que aprove a rebeldia extrema, mas avalio ser fundamental a gente se lembrar que um dia tivemos a mesma idade e um grande desejo de ignorar regras e padrões disciplinares. Também já vivemos uma ditadura militar, que agia com requintes de crueldade.
No momento em que estamos tentando superar a dor dessas lembranças, vamos recuar?
Seria ideal priorizar conceitos e educar apostando na formação do caráter e em valores como a honestidade e a solidariedade.
E quer saber? Militares têm muuuiiiiiito o que fazer fora dos muros escolares. Pronto, falei.
MARGARETH BOTELHO é jornalista em Cuiabá.
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Pedro 01/09/2014
Interessante, durante o governo militar eu estudei em duas escolas públicas uma aqui em Cuiaba´e outra no Rio de Janeiro, e em nenhuma delas eu bati continência, agora cantar o hino Nacional isso sim, com a bandeira sendo levantada e vejo que a minha geração foi a que mais respeitou os preceitos da democracia, e conseguimos avanços até o fim da ditadura militar, porém no máximo chegamos ao cigarro e não pulamos o muro do respeito, hoje como a coisa caminha só nos resta ficar sabendo que educadores sentam prá fumar maconha e falar das diversidades sexuais com seus alunos.
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