As crianças do Brasil pedem socorro. A pobreza afeta 18 milhões (34,3%) de meninos e meninas, com renda per capita de R$ 346,00 na área urbana e R$ 269,00 na rural. Com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2015), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Fundo da Nações Unidas para a Infância (Unicef) produziu o estudo “Pobreza na Infância e Adolescência” (publicado em 14/9/2018) mostra que 61% de crianças e jovens até 17 anos vivem na pobreza, tanto pela condição financeira quanto pela privação de direitos. Não possuem educação (8,8 milhões), moradia (5,9 milhões), saneamento básico (13,3 milhões) e 2,5 milhões são vítimas do trabalho precoce.
Esses jovens (da pesquisa acima) eram crianças há 17 anos atrás. E como elas cresceram? Quais medidas foram tomadas pelos governantes desse período para evitar essa catástrofe? Nenhuma! O populismo assistencial falou mais alto. Houve negligência e crime de prioridade do governo federal. Por isso, criaram crianças sem futuro!
Já dizia Platão há mais de 2 mil anos, que a educação é um dos elementos mais importantes para a criação de um Estado saudável e que todos nós temos o dever desde cedo de ensinar a toda e qualquer criança a sempre buscar a sabedoria.
Para o filósofo, a vulnerabilidade da mente infantil estava em perigo permanente. Ele entendia que o pensamento das crianças podia ser facilmente moldado.
A preocupação era tão grande com as crianças, que Platão deixou instruções detalhadas de quais exercícios uma mulher grávida deve fazer para ter um feto saudável e de que tipo de brincadeiras devem ser feitas com as crianças. Ele foi o primeiro pedagogo da humanidade. Não só por ter concebido um sistema educacional para o seu tempo, mas, principalmente, por tê-lo integrado a uma dimensão ética e política. O objetivo final da educação, para o filósofo, era a formação do homem moral, vivendo em um Estado justo.
E onde vivemos hoje? Em uma sociedade em que adora aplaudir políticos com pensamento ou retórica que procura induzir ao erro - apresentada com aparente lógica e sentido – mas com fundamentos contraditórios e com intenção de enganar. Repetimos os erros de outrora elegendo representantes pela aparência e não pelo conteúdo.
Os sofistas afirmavam que podiam defender igual teses contrárias, dependendo dos interesses do jogo. Como Sócrates, Platão rejeitava a educação que se praticava na Grécia em sua época e que estava a cargo dos sofistas, incumbidos de transmitir conhecimentos técnicos oportunistas – sobretudo a oratória – aos jovens da elite, para torná-los aptos a ocupar as funções públicas para corromper a população.
Não podemos continuar cegos às práticas antiéticas. Precisamos agir com sabedoria como disse Platão: “Toda virtude é conhecimento. Ao homem virtuoso, é dado conhecer o bem, a justiça e a verdade”
Não podemos ser cegos como os fariseus que não aprenderam com a lição de Jesus quando cuspiu no chão e, fazendo lama como o cuspo, espalhou-a sobre os olhos do cego e disse-lhe: “Vai lavar-te ao tanque de Siloé”. Os fariseus, mesmo testemunhado pelos pais do filho cego de nascença, ignoraram o que aconteceu para que voltasse a enxergar, muito menos, quem o teria feito.
A cegueira que insiste em permanecer em nosso país está matando as nossas crianças gerando crianças sem futuro.
Recentemente, no Senado Federal (em debate sobre o assunto), médicos e pesquisadores do mais alto quilate afirmaram que o investimento feito na primeira infância é propulsor da transformação de um país e de uma sociedade. Isto porque, nessa fase da vida, as mais importantes conexões cerebrais são formadas – valores essenciais dos seres humanos – por isso o caráter transformador do investimento na primeira infância.
É necessário fazer uma verdadeira revolução na educação básica. O primeiro passo é abrir creches e escolas infantis públicas e de qualidade para todas as crianças. Todas elas estudando, pelo menos até os 8 anos de idade, nas mesmas escolas de qualidade, juntos, pobres e ricos. O objetivo final da educação para todas as crianças é a formação do homem moral, ético, produtivo, vivendo em um Estado justo. Caso contrário, as nossas crianças se transformarão em marginais, criminosos, sem futuro.
VICENTE VUOLO é economiisa e cientista político