WILSON CARLOS FUÁH
Há um desejo silencioso que vez ou outra nos visita: o de voltar no tempo. Refazer passos, escolher outras palavras, estar em lugares onde não estivemos — ou não estar onde fomos. Esse desejo, embora compreensível, carrega uma ilusão: a de que poderíamos, de alguma forma, alterar o tecido da vida como quem apaga e reescreve um parágrafo mal formulado.
Mas a vida não é um rascunho.
O passado não aceita revisões. A história, uma vez escrita, não se submete ao nosso lápis de apagar. Não há como incluir ou excluir pessoas dos capítulos vividos, tampouco ajustar cenas conforme nossa conveniência emocional. O que foi vivido está lá, imutável, arquivado na memória — e, para os que creem, também em alguma instância espiritual que registra cada gesto, cada omissão, cada amor.
É natural querer mudar o que nos machucou. Quem nunca desejou apagar uma decepção, uma escolha errada, uma palavra dita no impulso? Mas viver de costas para o presente, olhando apenas pelo retrovisor, é correr o risco de colidir com o agora — e perder a chance de escrever um futuro diferente.
A verdade é simples e dura: não somos autores do que passou, mas somos inteiramente responsáveis pelo que ainda está por vir. E é nessa perspectiva que mora a esperança. Porque o futuro ainda é folha em branco, e sobre ele temos poder de escolha, de ação, de transformação.
As dores do passado não vêm apenas para ferir — muitas vêm para ensinar. Cada queda, cada tropeço, cada adeus que a vida nos impôs, deixou lições preciosas. O que antes parecia desvio pode ter sido, quem sabe, o início do verdadeiro caminho. E se hoje conseguimos sorrir com leveza, talvez seja porque já choramos com profundidade.
Aceitar a nossa história — com seus erros e acertos, perdas e ganhos — é um ato de maturidade. Significa entender que somos fruto de tudo o que vivemos, e que não precisamos ter orgulho de tudo, mas precisamos ter consciência de tudo. Afinal, como seguir em frente sem entender de onde viemos?
Conheço gente que vive debatendo com o passado, como se uma discussão com o tempo pudesse mudar os fatos. Pessoas que acumulam rancores como se fossem troféus de uma guerra interna. Mas o passado não se convence. Ele apenas existe. Silencioso, eterno.
Por outro lado, há aqueles que conseguem transformar a memória em sabedoria. São os que não negam as cicatrizes, mas também não deixam que elas definam quem são.
Caminham com gratidão, mesmo por dias difíceis, e olham o futuro com os olhos de quem ainda crê.
E no fim das contas, é isso que vale: saber que fizemos o bem, que fomos amados, que amamos. Saber que, apesar de tudo, construímos laços, histórias, afetos. Saber que deixamos marcas que não precisam ser apagadas.
Porque, gostemos ou não, o que somos está entrelaçado ao que já foi vivido. E nenhuma borracha do mundo pode mudar isso.
Econ. Wilson Carlos Soares Fuáh – É Especialista em Recursos Humanos e Relações Sociais e Políticas.