GILBERTO DIMENSTEIN
A ação contra o consumo de crack, localizado na região da Luz, provocou incômodo nas classes média e alta --e com certa razão. Afinal, aqueles seres, quase inumamos, com seus andrajos, estão migrando para os bairros mais ricos. E, aí, o que é para muitos só notícia de jornal vira imagem de carne e osso. Passa uma sensação de que São Paulo virou uma grande cracolândia. Vamos reconhecer: não tinha alternativa.
O poder público demorou muito a tomar providência, consentiu com a criação de um território livre para as drogas. E a sociedade aceitou porque a cracolândia tinha fronteira, era quase como se fosse um país estrangeiro. Era problema dos outros.
Mas a verdade é que a cracolândia é um problema de todos. E a solução só vai aparecer se houver uma cooperação dos governos federal (que se dispõe a dar dinheiro), estadual e municipal, em colaboração com as entidades não governamentais e universidades. É uma teia inter e multidisciplinar.
Deveríamos encarar esse problema na base do "vencer ou vencer", um desafio de toda uma cidade.
A cracolândia somos nós.
A cidade de São Paulo conseguiu reduzir, desde o final da década de 1990, em mais de 80% sua taxa de homicídio. Não há razão para não acreditar que, com colaboração e persistência (com muita, muita persistência), a cracolândia vire passado.
Gilberto Dimenstein é jornalista da Folha de SP