APARECIDO CARMO
DO REPÓRTER MT
A vereadora Maysa Leão (Republicanos) registrou um boletim de ocorrência contra o Colégio Coração de Jesus, um dos mais tradicionais da Capital, por discriminação contra seu filho, João Lucas, que é autista. A história veio a público nesse domingo (05), após um vídeo compartilhado por Maysa no Instagram. (Veja o vídeo abaixo).
Segundo a vereadora, no começo do ano seu filho pediu que para trocar de escola e a família optou por conhecer o Coração de Jesus, após recomendações de conhecidos. Na instituição, a família foi recebida pela coordenadora da unidade, que apresentou a escola, sua estrutura, didática e materiais usados com os alunos.
>>> Clique aqui e receba notícias de MT na palma da sua mão
LEIA MAIS - Trabalhador morre soterrado em silo de soja
No entanto, quando a vereadora explicou que tinham preferência por uma sala de aula com número reduzido de alunos, por causa da condição do filho, a situação mudou completamente. Antes, foram informados que haviam pelo menos quatro vagas para o oitavo ano, sendo duas para o período matutino e outras duas para o vespertino. Quando a coordenadora soube que a criança era especial, as vagas "sumiram".
“No momento em que ele (o filho) falou ‘eu sou autista’, ela mudou completamente. Estamos falando de uma coordenadora de uma escola cristã. Ela olhou para mim e falou: ‘ah, mãe, sendo assim eu preciso ver se tenho vaga porque a gente tem um limite de vagas para crianças como o seu filho’. Eu falei: ‘como o meu filho? Crianças autistas? É isso? Vocês têm um limite de vagas para crianças autistas?’. Porque eu não queria que o meu filho percebesse o que estava acontecendo, eu não queria feri-lo, não queria que ele entendesse que por ele ser autista aquela escola não queria ele lá, embora a lei o proteja. A coordenadora que nos atendeu primeiro falou: ‘espera aqui um pouquinho’. E veio uma outra coordenadora, nos chamou para a sala ao lado e falou ‘então, mamãe e papai, realmente nós verificamos e não temos vagas’. Eu não fiz uma cena porque eu não ia ferir o meu filho”, relata a parlamentar.
A parlamentar contou que registrou um boletim de ocorrência em uma delegacia na Capital. Disse também que pretende fazer uma denúncia na ouvidoria da Secretaria Estadual de Educação, ao Ministério Público Estadual e ao Procon.
Na legenda da postagem, a vereadora ressaltou que, apesar de essa ser uma postura comum de algumas unidades de ensino, não existe nenhuma lei que determine um limite de vagas para alunos com deficiência. Ao contrário, ela citou ao menos três leis que asseguram às crianças autistas o direito de frequentar escolas regulares.
“Não gostaria de ter que tomar essas providências, nem de expor essa situação em público, mas toda vez que deixamos passar, perpetuamos o capacitismo, a discriminação e o preconceito”, concluiu.
Outro lado - Em nota publicada nas redes sociais, o Colégio Coração de Jesus diz compreender a luta das pessoas com deficiência. A instituição ressalta que possui “alunos atípicos” e que obedece ao que estabelece a Resolução Normativa 001/2012, que fixa normas para oferta de educação especial na educação básica do Sistema Estadual de Ensino de Mato Grosso.
“Sabemos das peculiaridades da participação, postura e expressão destes alunos, pois essa é a nossa rotina. Em classes regulares, esses estudantes precisam de apoio e acompanhamento extra, para poder desenvolver suas potencialidades. E isto é legítimo”, diz trecho da nota.
O texto prossegue dizendo que há uma limitação legal do número de “alunos atípicos” por período e por sala visa promover inclusão e a interação entre estudantes e com os profissionais envolvidos em todo o processo educativo. A nota fala em “reclamações (...) mal interpretadas” e que são “confundidas com a não tolerância ou não aceitação dos alunos atípicos”.
Segundo a publicação, disponível também no Instagram da instituição, o Colégio Coração de Jesus é “acolhedor e tem essa marca em sua história”. Sem citar a vereadora Maysa Leão ou o seu filho, mas se referindo ao “caso que gerou esse questionamento”, o Colégio diz que “estamos prontos a atender no período vespertino”.
“Sempre estivemos na vanguarda da educação inclusiva, sendo uns dos primeiros a instituí-la de forma perene. Portanto, continuaremos nossa missão com a excelência, carisma e afeto que nos colocaram entre as melhores escolas do nosso Estado”, conclui o texto.
Leia a nota do Colégio na íntegra:
Esta postagem tem caráter temporário.
Compreendemos a luta e responsabilidade de todos, em relação direitos das pessoas com deficiência, pois esta é uma pauta vivida diariamente em nossa Instituição.
Por isso, conforme já constatado, temos alunos atípicos e obedecemos a RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº 001/2012-CEE/MT, que "Fixa normas para oferta da Educação Especial na Educação Básica do Sistema Estadual de Ensino de Mato Grosso".
Sabemos das peculiaridades da participação, postura e expressão destes alunos, pois essa é a nossa rotina. Em classes regulares, esses estudantes precisam de apoio e acompanhamento extra, para poder desenvolver suas potencialidades. E isto é legítimo.
É também legítimo que: há uma limitação legal do número de alunos atípicos por período e por sala, justamente para a promoção da inclusão e da interação de todos os alunos e profissionais envolvidos no processo.
Nesse momento, algumas reclamações são, costumeiramente, mal interpretadas e confundidas com a não tolerância ou não aceitação dos alunos atípicos, popularmente conhecidos como “público da educação especial”.
O Colégio Coração de Jesus sempre é acolhedor e tem essa marca em sua história e no caso que gerou esse questionamento, estamos prontos a atender no período vespertino.
Sempre estivemos na vanguarda da educação inclusiva, sendo uns dos primeiros a instituí-la de forma perene.
Portanto, continuaremos nossa missão com a excelência, carisma e afeto que nos colocaram entre as melhores escolas do nosso Estado.
Agradecidos pela atenção.
Dinarte Silveira Negrão Junior
Diretor Pedagógico.
